Enquete 2



Qual a melhor opção? Há 4 possíveis soluções para o conflito :

1) Image and video hosting by TinyPicOs árabes ficam com toda a terra

2) Image and video hosting by TinyPicOs judeus ficam com toda a terra

3) Image and video hosting by TinyPicUm Estado bi-nacional para judeus e árabes

4) Image and video hosting by TinyPicDois Estados para Dois Povos







Holocausto soviético e seus campos de concentração



As classes e as raças, fracas demais para conduzir as novas condições da vida, devem deixar de existir. Elas devem perecer no holocausto revolucionário.- Karl Marx

Introdução: EM DEFESA DE ISRAEL


Alan Dershowitz

uma visão mais ampla dos conflitos no Oriente Médio

A nação judaica de Israel é acusada pela justiça internacional. As incriminações incluem a de ser um Estado criminoso e violador dos direitos humanos, uma imagem especular do nazismo e de ser a barreira mais intransigente para a paz no Oriente Médio. Pelo mundo todo, das comissões da ONU aos campi das universidades, Israel é discriminado com condenações, despojamentos, boicotes e demonizações. Seus líderes são ameaçados de processos como criminosos de guerra. Seus amigos são acusados de dupla lealdade e provincianismo.



Chegou a hora de uma defesa proativa de Israel ser apresentada na corte da opinião pública. Neste livro apresento tal defesa – não de qualquer política ou ação israelense, mas do direito básico de Israel à existên¬cia. De proteger seus cidadãos do terrorismo e de defender suas fronteiras de inimigos hostis. Mostro que Israel há muito tempo deseja aceitar a existência de dois Estados, propostos no “mapa da estrada” para a paz, e que foi a liderança árabe que persistentemente se recusou a aceitar qualquer Estado judeu – não importa quão pequeno – nas regiões palestinas com maioria judaica. Também procuro apresentar um quadro realista de Israel, com seus defeitos, como uma democracia multiétnica florescente, em muitos aspectos parecida com os Estados Unidos, que oferece a todos os seus cidadãos – judeus, muçulmanos e cristãos – oportunidades e condições de vida muito melhores do que as oferecidas por qualquer nação árabe ou muçulmana. Acima de tudo, afirmo que todos que escolhem Israel como único alvo de uma crítica, que não é dirigida contra países com registros muito piores de violações de direitos humanos, são eles próprios culpados de intolerância internacional. Essa é uma acusação séria e eu a comprovo. Permitam-me esclarecer que eu não estou acusando todos os críticos de Israel de anti-semitismo. Eu mesmo tenho criticado políticas específicas e ações de Israel ao longo dos anos, como fi zeram quase todos os que apóiam Israel, praticamente todo cidadão israelense, e muitos judeus americanos. Mas também critico outros países, inclusive o meu, bem como nações da Europa, Ásia e Oriente Médio. Na medida em que a crítica é comparativa, contextual e justa, ela deve ser encorajada e não inibida. Mas, quando a nação judaica é a única a ser criticada por erros que são muito mais graves em outras nações, essa crítica atravessa a linha entre o certo e o errado, e vai do aceitável ao anti-semita.

Thomas Friedman, do New York Times, acertou quando disse que “criticar Israel não é anti-semitismo, e afirmar isso é mau. Mas condenar Israel por infâmia e sanção internacional – desproporcionalmente em re¬lação a qualquer outra parte no Oriente Médio – é anti-semitismo e não admiti-lo é desonestidade”.1 Uma boa defi nição usual de anti-semitismo é tomar uma característica ou uma ação largamente difundida, se não universal, e culpar apenas os judeus por ela. Foi isso que Hitler e Stalin fizeram e foi o que o antigo presidente da Universidade de Harvard A. Lawrence Lowell fez nos anos 1920 ao tentar limitar o número de judeus a serem admitidos em Harvard porque “os judeus trapaceiam”. Quando um aluno de destaque fez objeção a isso, argumentando que não-judeus também trapaceiam, Lowell respondeu: “Você está mudando de assunto; eu estou falando sobre judeus”. Da mesma maneira, quando aqueles que escolhem apenas a nação judaica para fazer crítica são questionados por que não criticam também os inimigos de Israel, eles respondem: “Você está mudando de assunto; estamos falando de Israel”.

Este livro prova não apenas que o Estado de Israel é inocente das acusações contra ele levantadas, mas que nenhuma nação na história que tenha enfrentado desafios semelhantes segue padrões mais elevados de direitos humanos, é mais sensível à segurança de civis inocentes, es¬força-se mais para seguir as leis ou tem estado mais disposta a assumir riscos pela paz. Esta é uma reivindicação audaz e eu a apóio com fatos e números, alguns dos quais vão surpreender aqueles que recebem in¬formações de fontes tendenciosas. Por exemplo, Israel é a única nação no mundo cujo sistema judiciário reforça ativamente a lei contra seus militares, mesmo em tempo de guerra.2 É o único país na história mo¬derna a devolver território disputado, capturado numa guerra defensiva e crucial para sua própria defesa, em troca da paz. E Israel matou menos civis inocentes, em comparação ao número dos seus civis mortos, do que qualquer país comprometido com uma guerra similar. Desafi o os acusadores de Israel a apresentar dados em apoio à sua afirmação de que, como foi dito por um acusador, Israel “é o exemplo primeiro dos violadores de direitos humanos no mundo”.3 Não serão capazes de fazê-lo.

Quando o melhor é acusado de ser o pior, o foco deve mudar para os acusadores que, eu afirmo, podem ser culpados de intolerância, hipocri¬sia ou, no mínimo, de uma ignorância abismal. São eles que devem estar no banco dos réus da história, junto com outros que também escolheram o povo judeu, sua religião, sua cultura ou a nação judaica para uma con¬denação sem igual e imerecida.

A premissa deste livro é que uma solução de dois Estados para as reivindicações palestinas e israelenses é, ao mesmo tempo, inevitável e desejável. A forma final precisa dessa solução é, naturalmente, objeto de muita disputa – como prova o fracasso das negociações de Camp David e Taba em 2000-2001 para alcançar uma solução aceitável por ambas as partes e pelas disputas em torno do “mapa da estrada” de 2003. Existem, na verdade, apenas quatro alternativas possíveis para um Estado judeu e um Estado palestino viverem em paz, lado a lado.

A primeira é a solução preferida dos palestinos, defendida pelo Hamas e outros, que rejeitam o direito de Israel existir (geralmente de-nominados de recusantes): especificamente exigem a destruição de Israel e a eliminação total de um Estado judeu em qualquer parte do Oriente Médio. A segunda alternativa é preferida por um pequeno número de fundamentalistas judeus e expansionistas: a anexação permanente da margem oeste e da faixa de Gaza e a expulsão ou integração dos milhões de árabes que atualmente habitam essas áreas. A terceira alternativa já foi a preferida dos palestinos, mas eles não mais a aceitam: algum tipo de federação entre a margem oeste e um outro Estado árabe (isto é, a Síria ou a Jordânia). A quarta, que sempre tem sido um pretexto para tornar Israel um Estado palestino de fato, é a criação de um único Estado binacional. Nenhuma dessas alternativas é aceitável atualmente. Uma resolução que reconheça o direito de autodeterminação por israelenses e palestinos é o único caminho razoável para a paz, apesar de não estar livre de riscos.

A solução de dois Estados também parece ser um dos poucos pontos de consenso para o conflito árabe-palestino-israelense que, de outra for¬ma, é um dilema insolúvel. Qualquer consideração razoável de como resolver pacificamente essa disputa prolongada deve começar a partir desse consenso. A maior parte do mundo atualmente advoga uma solução de dois Estados, incluindo a grande maioria dos norte-americanos. Uma maioria expressiva de israelenses, há muito, já aceitou esse compromisso. É hoje a posição oficial da Autoridade Palestina e dos governos do Egito, da Jordânia, da Arábia Saudita e do Marrocos. Apenas os extremistas entre os israelenses e palestinos, bem como os Estados recusantes da Síria, do Irã e da Líbia, desejam que todo território do que atualmente é Israel, a margem oeste e a faixa de Gaza sejam permanentemente controlados apenas por Israel ou apenas pelos palestinos.

Alguns opositores acadêmicos de Israel, como Noam Chomsky e Edward Said, também rejeitam a solução de dois Estados. Chomsky afi r¬mou: “Não creio que seja uma boa idéia”, apesar de reconhecer que pos¬sa ser “a melhor das várias idéias ruins que andam por aí”. Há muito, Chomsky tem preferido, e aparentemente ainda prefere, um Estado úni¬co binacional baseado nos modelos do Líbano e da Iugoslávia.4 O fato de ambos esses modelos terem falhado lamentavelmente e terminado em sangrento fratricídio é ignorado por Chomsky, para quem a teoria é mais importante do que a experiência. Said opõe-se fi rmemente a qual¬quer solução que deixe Israel existir como um Estado judeu: “Não creio numa solução de dois Estados. Creio numa solução de um Estado”.5 Como Chomsky, ele é a favor de um Estado secular binacional – uma solução elitista e impraticável que teria de ser imposta a ambos os lados, uma vez que virtualmente nenhum israelense ou palestino iria aceitá-la (exceto como trama para destruir a outra nação).

Com certeza, os resultados de pesquisas em favor de uma solução de dois Estados variam com o tempo, especialmente de acordo com as circunstâncias. Em períodos de conflito violento, mais israelenses e mais palestinos rejeitam o compromisso, mas a maioria das pessoas razoá¬veis percebe que, apesar do que indivíduos possam teoricamente esperar ou mesmo reivindicar como direito divino, a realidade é que nem israe¬lenses nem palestinos sairão ou aceitarão a solução de um só Estado. Conseqüentemente, a inevitabilidade – e correção – de algum tipo de compromisso de dois Estados é um começo útil para qualquer discussão que busque uma solução construtiva desse conflito perigoso e doloroso.

Um ponto de partida concordante é essencial porque cada parte dessa longa disputa inicia a narrativa de sua reivindicação relativa ao território em um ponto diferente da história. Isso não deveria ser surpre¬endente, uma vez que nações e povos em conflito geralmente escolhem como início de sua narrativa nacional o ponto que melhor serve para apoiar suas reivindicações e queixas. Quando os colonizadores ameri¬canos procuraram obter a separação da Inglaterra, sua Declaração de Independência deu início à narrativa com uma história de “repetidas injustiças e usurpações” cometidas pelo “rei de então”, tais como “taxa¬ção sem a nossa concordância” e “alojamento de muitas tropas armadas entre nós”. Aqueles que se opuseram à separação começaram sua narra¬tiva com os erros dos habitantes da colônia, como sua recusa em pagar determinados impostos e as provocações aos soldados ingleses. De modo similar, a Declaração de Independência de Israel começa sua narrativa com a terra de Israel sendo “o local de nascimento do povo judeu”, onde “eles pela primeira vez alcançaram a cidadania... e legaram ao mundo o eterno Livro dos Livros”. A genuína carta da Constituição palestina começa com a “ocupação sionista” e rejeita qualquer “reivindicação de ligações históricas ou espirituais entre os judeus e a Palestina”, a divisão da Palestina pela ONU e o “estabelecimento do Estado de Israel”.

Qualquer tentativa de desvendar as controvérsias históricas de dis¬putas complexas e, em última análise, não comprováveis dos extremistas israelenses e árabes somente conduz a argumentos não-realistas de ambos os lados. Evidentemente é necessário ter alguma descrição da história – antiga ou moderna – dessa terra e de sua demografia em constante mutação, nem que seja para começar a entender como pessoas razoáveis podem chegar a conclusões tão opostas a partir dos mesmos fatos básicos. A realidade, é claro, é de que há concordância em apenas parte dos fatos. Muito é defendido e considerado a verdade absoluta por alguns, enquanto outros crêem exatamente no contrário.

Essa disparidade tão acentuada de percepção resulta de vários fa¬tores. Às vezes é uma questão de interpretação de algum acontecimento. Por exemplo, quando chegarmos ao capítulo 12, veremos que ninguém nega o fato de que centenas de milhares de árabes que viviam onde hoje é Israel não vivem mais lá. Apesar de haver disputa sobre o número preciso, a maior discordância é se todos, a maioria, alguns ou nenhum desses re¬fugiados foi expulso de Israel. Se cada um partiu porque os líderes árabes lhe deram a ordem ou se houve alguma combinação desses e de outros fatores. Também há discordância sobre quanto tempo esses refugiados realmente viveram nos lugares depois abandonados, uma vez que a ONU definiu um refugiado palestino – ao contrário de qualquer outro refugia-do na história – como qualquer um que tenha vivido no território que se tornou Israel durante apenas dois anos antes de partir
Pelo fato de ser impossível reconstruir a dinâmica precisa e as con-dições que acompanharam a guerra de 1948, deflagrada pelos Estados árabes contra Israel, a única conclusão sobre a qual se pode ter absoluta certeza é que jamais alguém saberá – ou convencerá seus opositores – se a maioria dos árabes que abandonou Israel foi expulsa, abandonada ou sofreu alguma combinação de fatores que a levou de um lugar para outro. Recentemente, Israel abriu muitos dos seus arquivos históricos para os estudiosos, e novas informações conduziram a compreensões e interpre¬tações mais amplas, mas não terminaram – e jamais terminarão – com as discordâncias.
De modo similar, a maioria dos 850 mil judeus sefardis que viviam nos países árabes antes de 1948 foram para Israel, porque foram forçados a sair, abandonados ou experimentaram algum tipo de temor, tiveram al¬guma oportunidade ou foram em busca de um ideal religioso. Novamente,o movimento dinâmico e preciso da história jamais será conhecido, espe¬cialmente porque os países árabes dos quais saíram não mantêm registros e arquivos históricos ou recusam-se a fornecê-los.

Cada lado faz jus à narrativa que lhe é conveniente, embora re-conheça que outros possam interpretar os fatos de modo algo diferente. Algumas vezes a disputa é mais sobre a definição de termos do que sobre a interpretação dos fatos. Por exemplo, os árabes freqüentemente argumen¬tam que Israel recebeu 54% do território da Palestina apesar de apenas 35% dos residentes serem judeus.7 Os israelenses, por outro lado, argu¬mentam que os judeus eram uma clara maioria nas regiões da terra aloca¬da a Israel quando a ONU fez a partição do território em disputa. Como se vê, as definições precisas podem algumas vezes estreitar as disparidades.

Um outro ponto de partida deve incluir algum tipo de lei de caduci-dade para ressentimentos antigos. Assim como a questão a favor de Israel não pode mais basear-se exclusivamente sobre a expulsão dos judeus da terra de Israel no primeiro século, também a questão dos árabes não pode se basear com segurança em acontecimentos que supostamente ocorre¬ram há mais de um século. Uma razão para uma lei de caducidade é o reconhecimento de que, à medida que o tempo passa, se torna cada vez mais difícil reconstruir o passado com algum grau de precisão e as me¬mórias políticas endurecem e substituem os fatos. Como já foi dito, “há fatos e há fatos verdadeiros”.

Com relação aos acontecimentos que precederam a primeira Aliyah em 1882 (a imigração inicial de refugiados judeus europeus para a Palestina), existem mais memórias políticas e religiosas do que fatos reais. Sabemos que sempre houve uma presença judaica em Israel, princi¬palmente nas cidades santas de Jerusalém, Hebron e Safed, e que sempre houve uma pluralidade ou maioria em Jerusalém por séculos. Sabemos que judeus europeus começaram a se mudar para onde hoje é Israel em números significativos durante a década de 1880 – só pouco depois da época em que australianos descendentes de ingleses começaram a deslo¬car os aborígines australianos, e americanos descendentes de europeus começaram a se mudar para alguns territórios ocidentais, originalmente habitados por americanos nativos.

Os judeus da primeira Aliyah não deslocaram os residentes locais por conquista ou por intimidação, como fizeram os americanos e aus-tralianos. Legal e abertamente compraram terras – boa parte das quais considerada não-cultivável – de proprietários ausentes. Ninguém que aceite a Austrália como sendo legitimamente uma nação cristã de lín-gua inglesa, ou a América ocidental como parte dos Estados Unidos, pode questionar a legitimidade da presença judaica onde hoje é Israel, de 1880 até o presente. Mesmo antes da divisão feita pela ONU, em 1947, tratados e leis internacionais reconheceram que a comunidade judaica existia na Palestina como questão “de direito”, e qualquer discussão racional do conflito deve ter como premissa que o “conflito fundamental” é de “di¬reito com direito”. Tais conflitos são freqüentemente os mais difíceis de resolver, já que cada lado deve ser persuadido a comprometer-se com o que acredita ser uma absoluta questão de direito. A tarefa torna-se ainda mais desalentadora quando há alguns de cada lado que vêem a sua rei¬vindicação com base num mandato divino.

Inicio a questão a favor de Israel por uma breve revisão da histó¬ria do conflito entre árabes, muçulmanos e judeus e depois entre árabes, palestinos, muçulmanos e israelenses, com ênfase na recusa dos líderes palestinos em aceitar uma solução de dois Estados (ou duas pátrias) em 1917, 1937, 1948 e 2000. Focalizo os esforços pragmáticos de Israel para viver em paz dentro de fronteiras seguras, apesar dos repetidos es¬forços dos líderes árabes para destruir o Estado judeu. Saliento os erros de Israel, mas argumento que foram geralmente cometidos num esforço bem-intencionado (apesar de algumas vezes mal orientado) de defender a sua população civil. Finalmente, argumento que Israel procurou cumprir a lei basicamente em todas as suas atividades.

Apesar da minha forte crença de que deve haver uma lei de cadu-cidade para ressentimentos, levantar a causa a favor de Israel requer uma breve viagem ao passado relativamente recente. Isso é necessário porque a causa contra Israel, nos dias atuais sendo levantada em campi universi¬tários, na mídia e no mundo todo, baseia-se em distorções propositais dos registros históricos, a começar com a chegada dos primeiros europeus à Palestina, no final do século XIX, e continuando com a divisão feita pela ONU, o estabelecimento do Estado judeu, as guerras entre Estados árabes e Israel, culminando no atual terrorismo e nas reações diante dele. Os registros históricos devem ser bem estabelecidos para evitar a advertência do filósofo Santayana de que aqueles que não lembram o passado estão condenados a repeti-lo.

Cada capítulo deste livro começa com a acusação apresentada con¬tra Israel, citando fontes específicas. Respondo à acusação com fatos reais embasados em provas aceitáveis. Ao apresentar os fatos geralmente não me baseio em fontes pró-Israel, mas principalmente em fontes objetivas e, algumas vezes, para enfatizar algum ponto, em fontes anti-Israel.

Provo, sem sombra de dúvida, que as ações de Israel têm sido jul¬gadas por um duplo padrão pernicioso: que mesmo quando Israel foi o melhor entre os melhores do mundo, tem sido muitas vezes acusado de ser o pior entre os piores. Também provo que esse duplo padrão não tem sido apenas injusto com o Estado judeu, mas tem prejudicado o código da lei, ferido a credibilidade de organizações internacionais como a ONU e encorajado terroristas palestinos a cometer atos de violência para provo¬car reações exageradas de Israel e assegurar a condenação unilateral de Israel pela comunidade internacional.

Na conclusão do livro, argumento que é impossível entender o con-flito no Oriente Médio sem aceitar a realidade de que, desde o início, a estratégia da liderança árabe tem sido a eliminação da existência de qual¬quer Estado judeu e mesmo de uma substancial população judaica onde hoje se situa Israel. Mesmo o professor Edward Said, o mais destacado defensor acadêmico dos palestinos, reconhece que “o nacionalismo pa¬lestino foi integralmente baseado na expulsão dos israelenses [querendo dizer judeus]”8. Esse é um fato simples, não sujeito a um questionamento razoável. As provas verbais e escritas vindas de líderes árabes e palestinos são esmagadoras. Várias táticas têm sido usadas para esse fim, inclusive a mentirosa reescrita da história da imigração de refugiados judeus para a Palestina e a história demográfica dos árabes na região. Outras táticas têm incluído o ataque a civis judeus vulneráveis a partir da década de 1920,o suporte palestino a Hitler e ao genocídio nazista nos anos 1930 e 1940 e a oposição violenta à solução de dois Estados proposta pela Comissão Peel, em 1937, e depois pela ONU, em 1948. Ainda uma outra tática foi a criação e posterior exacerbação e exploração da crise dos refugiados.

Para alguns, a simples idéia de um Estado palestino ao lado de um Estado judeu tem sido uma tática em si – um primeiro passo – para a eliminação de Israel. Entre 1880 e 1967, na verdade, nenhum porta-voz árabe ou palestino falou a favor de um Estado palestino. Em vez disso, que¬riam que a área chamada pelos romanos de Palestina fosse incorporada à Síria ou à Jordânia. Como Auni Bey Abdul-Hati, um proeminente líder palestino, disse à Comissão Peel em 1937, “não existe tal país... Palestina é um termo que os sionistas inventaram... nosso país foi, durante séculos, parte da Síria”. Portanto, os palestinos rejeitaram a pátria independente proposta pela Comissão Peel porque também traria consigo uma peque¬na pátria judaica. O objetivo sempre permaneceu o mesmo: eliminar o Estado judeu e transferir a maioria dos judeus para fora da área.

Os realistas árabes agora reconhecem que esse objetivo é inatingível – pelo menos em um futuro previsível. A esperança é que o pragmatismo predomine sobre o fundamentalismo e que o povo palestino e seus líderes finalmente cheguem a compreender que a causa a favor de um Estado pales¬tino é fortalecida pela aceitação de um Estado judeu. Quando os palestinos desejarem seu próprio Estado mais do que desejam a destruição do Estado judeu, a maioria dos israelenses receberá pacificamente o Estado palestino como bom vizinho. O acordo que deverá seguir o “mapa da estrada” e os apertos de mão, bem como promessas trocadas em Acaba, em 4 de junho de 2003, representam alguma esperança de que a solução de dois Estados
– há tempos aceita por Israel – se torne finalmente uma realidade.

Acolho a discussão vigorosa sobre a questão a favor de Israel que defendo neste livro. De fato, espero gerar um debate honesto e contextual sobre um assunto que se tem polarizado por argumentos extremistas. Certamente haverá discordâncias sobre as conclusões a que chego e as inferências que faço dos fatos históricos. Mas não pode haver discordân¬cia razoável sobre os fatos básicos: os judeus europeus que se juntaram aos seus primos sefardis onde hoje é Israel, no final do século XIX, tinham um direito absoluto de procurar refúgio na terra de seus ancestrais; esta¬beleceram com o suor do rosto uma pátria judaica em partes da Palestina que justamente compraram de proprietários ausentes; deslocaram bem poucos felás (árabes que trabalhavam a terra) locais; aceitaram propos¬tas baseadas na lei internacional para uma pátria judaica repartida em áreas com maioria judaica; e, pelo menos até recentemente, quase todos os líderes palestinos e árabes categoricamente rejeitaram qualquer solu¬ção que incluísse um Estado judeu ou a autodeterminação judaica. Esses fatos indiscutíveis estabeleceram as bases do conflito que acompanhou o estabelecimento de Israel e que continua até hoje. É importante apre¬sentar esses fatos históricos como parte da atual questão a favor de Israel porque essa distorção ou omissão fundamental na história dolorosa é um elemento da questão muitas vezes levantada contra o Estado judeu.

Decidi escrever este livro depois de acompanhar de perto as nego-ciações de paz de Camp David e Taba, de 2000-2001, e depois de ver como tantas pessoas no mundo se voltaram contra Israel quando as negociações falharam e os palestinos retornaram ao terrorismo. Eu estava lecionando na Universidade de Haifa, em Israel, durante o verão de 2000, e pude ob¬servar em primeira mão o entusiasmo e a expectativa com os quais tantos israelenses aguardavam o resultado do processo de paz iniciado com os acordos de Oslo em 1993 e que parecia estar a caminho da aceitação de uma resolução de dois Estados, com Israel e Palestina fi nalmente convi¬vendo pacificamente depois de tantos anos de violento conflito.

À medida que o processo se encaminhava para a resolução, o pri-meiro-ministro israelense Ehud Barak surpreendeu o mundo ao oferecer aos palestinos praticamente tudo que demandavam, inclusive um Estado com sua capital em Jerusalém, o controle do Monte do Templo, a devolu¬ção de aproximadamente 95% da margem ocidental e toda a faixa de Gaza e um pacote de compensação de 30 bilhões de dólares para os refugiados de 1948. Como poderia Yasser Arafat rejeitar essa oferta histórica? O prín¬cipe Bandar, da Arábia Saudita, que estava servindo de intermediário entre as partes, exortou Arafat a “aceitar este negócio”. Você poderia alguma vez conseguir “um negócio melhor”?, perguntou. Você preferiria negociar com Sharon? Como Arafat vacilou, Bandar advertiu-o: “Espero que o senhor se lembre do que eu lhe disse. Se perdermos esta oportunidade será um crime”.

Observei com horror como Arafat cometeu esse crime, rejeitan¬do a oferta de Barak e abandonando as negociações de paz sem nem mesmo fazer uma contraproposta. Mais tarde o príncipe Bandar iria caracterizar a decisão de Arafat como “um crime contra os palestinos – de fato, contra toda a região”. Considerou Arafat pessoalmente res-ponsável por todas as mortes resultantes dos conflitos entre israelenses e palestinos.10 O presidente Clinton também colocou toda a culpa pelo fim do processo sobre Arafat, como o fizeram quase todos que partici-param das negociações. Mesmo alguns europeus ficaram furiosos com Arafat por abandonar essa oferta generosa. Finalmente, parecia que a opinião pública mundial estava abandonando os palestinos, que ha-viam novamente rejeitado a solução de dois Estados, e voltando-se para os israelenses, que haviam feito uma proposta para a saída do impasse violento.
Mas em poucos meses a opinião pública internacional novamente mudou a favor dos palestinos e contra Israel, desta vez com uma vingan¬ça. Repentinamente Israel era o pária, o vilão, o agressor e o destruidor da paz. Em campi universitários ao redor do mundo era Israel – o país que tinha acabado de oferecer tanto – o único objeto das petições de despojamento e boicote. Como tantas pessoas inteligentes puderam es¬quecer tão depressa quem era culpado pelo fim do processo de paz? Como o mundo podia tão depressa transformar Arafat, o vilão de Camp David, num herói e Israel, que heroicamente tinha oferecido tanto, num vilão? O que aconteceu nesse breve período para produzir uma mudança tão dramática na opinião pública?

Fiquei sabendo que o que aconteceu foi precisamente aquilo que o príncipe Bandar havia predito a Arafat que aconteceria se rejeitasse a proposta de paz de Barak: “Você tem apenas duas alternativas. Ou você aceita esta proposta ou haverá guerra”. Arafat escolheu ir à guerra. De acordo com seu próprio ministro das Comunicações, “a Autoridade Palestina começou a preparar-se para o início da atual revolta naciona lista dos palestinos a partir do retorno das negociações de Camp David, a pedido do presidente Yasser Arafat”.

A desculpa para a escalada das explosões suicidas foi a visita de Ariel Sharon ao Monte do Templo. Mas, como o ministro das Comunicações alardeou, “Arafat... havia previsto o início da intifada como um passo com¬plementar à resistência palestina nas negociações, e não como um protes¬to específico contra a visita de Sharon ao Al-Haram Al-Sharif [o Monte do Templo]”. De fato, a escalada do terrorismo havia começado alguns dias antes da visita de Sharon, como parte “das instruções da Autoridade Palestina” às “forças políticas e facções para conduzir todos os elementos da intifada”. Em outras palavras, em vez de mostrar “firmeza nas negocia¬ções” fazendo contrapropostas à generosa oferta de Barak, Arafat decidiu fazer a sua contraproposta na forma de explosões suicidas e aumento da violência. O príncipe Bandar acusou Arafat de responsável pelo banho de sangue resultante: “Ainda não me recuperei... da magnitude da oportu¬nidade perdida”, declarou ele a um repórter. “Mil e seiscentos palestinos mortos até agora. E setecentos israelenses mortos. No meu julgamento, nenhuma dessas mortes de israelenses e palestinos é justifi cada”.

Então, de que maneira este homem, responsável por essas mortes evitáveis, que escolheu rejeitar a proposta de paz de Barak e instruiu seus subordinados a reiniciar a violenta intifada como um “estágio comple¬mentar” às negociações, conseguiu mudar a opinião pública mundial tão depressa em favor dos palestinos e contra Israel? Essa pergunta desalen¬tadora necessitava de uma resposta, e foi a resposta assustadora que me levou a escrever este livro.

A resposta vem em duas partes. A primeira é bastante óbvia: Arafat jogou a comprovada carta do terrorismo, que funcionou para ele tantas vezes através de sua longa e tortuosa carreira como terrorista diplomata. Ao fazer de alvo civis israelenses – crianças ou ônibus escolares, mulhe¬res grávidas em shopping centers, adolescentes numa discoteca, famílias num jantar de Pessach, estudantes universitários numa cafeteria –, Arafat sabia que podia fazer com que Israel tivesse uma reação exacerbada, pri¬meiro elegendo um primeiro-ministro mais sagaz para substituir o manso Ehud Barak, depois instigando os militares a tomar atitudes que inevi¬tavelmente resultariam na morte de civis palestinos. Funcionou perfei¬tamente, como no passado. De repente, o mundo estava vendo imagens perturbadoras de soldados israelenses atirando em multidões, parando mulheres em pontos de controle e matando civis. Arafat havia “dominado” uma “dura aritmética da dor”, como foi dito por um diplomata: “As perdas palestinas contam a seu favor e as perdas israelenses também. A não-violência não compensa”.

Para muitos, a simples aritmética era suficiente: mais palestinos do que israelenses estavam mortos, e só esse fato já provava que Israel era o vilão. Era ignorado o fato de que, apesar de “apenas” 800 israe¬lenses terem sido mortos (até junho de 2003), os terroristas palestinos haviam tentado matar milhares mais e não haviam conseguido só porque as autoridades israelenses haviam frustrado “aproximadamente 80% das tentativas” de ataques terroristas.14 Também foi ignorado o fato de que entre os aproximadamente dois mil palestinos mortos havia centenas de homens-bomba, fabricantes de bombas, atiradores de bombas, coman¬dantes terroristas e mesmo supostos colaboradores mortos por outros palestinos. Quando se contam apenas os civis inocentes, morreram signi¬ficativamente mais israelenses do que palestinos.15 De fato, Israel matou menos civis palestinos inocentes durante as décadas que tem combatido o terrorismo do que qualquer outra nação na história diante de tal vio-lência, e essas mortes trágicas foram conseqüências não-intencionais do combate ao terrorismo, mais do que o objeto da violência.

Por que então tantas pessoas na comunidade internacional – diplo-matas, homens de mídia, estudantes, políticos, líderes religiosos – caíram na trama transparente e imoral de Arafat? Por que não culpavam Arafat pela escalada da violência, como fizeram o príncipe Bandar e outros? Por que culpavam Israel tão apressadamente? Por que líderes morais e religiosos, que geralmente traçam uma clara distinção entre aqueles que propo¬sitalmente alvejam civis inocentes e aqueles que inadvertidamente matam civis, num esforço de proteger seus próprios civis, eram incapazes de fazer essa importante distinção quando se tratava de Israel? Por que não compreenderam como a liderança palestina estava manipulando e exploran¬do a aritmética da morte? Por que não podiam ver além da contagem de corpos e focalizar o correto cálculo moral: quantas pessoas inocentes foram deliberadamente transformadas em alvos e mortas de cada lado? Procurando responder a essas perguntas perturbadoras, tornou-se claro para Procurando responder a essas perguntas perturbadoras, tornou-se claro para mim que forças obscuras estavam em jogo. A mudança dra¬mática e quase total nas percepções do público num período tão curto de tempo não podia ser explicada com base exclusiva em princípios da lógica, moralidade, justiça – mesmo política. As respostas estavam, pelo menos em parte, no fato de Israel ser o Estado judeu e o “judeu” entre os Estados do mundo. Uma total compreensão das reações bizarras do mun¬do à generosa proposta israelense de paz e a violenta resposta palestina requer o reconhecimento da longa e difícil história mundial no julgamen¬to do povo judeu por padrões diferentes e muito mais exigentes.

O mesmo ocorre com a nação judaica. Pouco após o seu estabeleci-mento como primeiro Estado judaico moderno do mundo, Israel tem sido avaliado segundo um duplo padrão de julgamento e crítica de suas ações ao defender-se contra ameaças à sua própria existência e à sua população civil. Este livro é sobre este duplo padrão – a sua injustiça em relação a Israel e, mais importante, seu pernicioso efeito ao encorajar o terrorismo palestino e outros.

Se o tom deste livro algumas vezes pode parecer contencioso, é por-que as acusações atuais contra Israel freqüentemente são estridentes, in¬transigentes, unilaterais e exageradas: “tipo nazista”, “genocida”, “exem¬plo clássico de violadores de direitos humanos no mundo”, e assim por diante. Essas falsas acusações devem ser respondidas direta e verdadeira¬mente antes de se poder restaurar um tom de compromisso e reconheci¬mento mútuo de erros, e os assuntos serem debatidos nos seus méritos e deméritos freqüentemente complexos. Mas, com demasiada freqüência,o debate atual, especialmente nos campi universitários, é caracterizado por acusações contenciosas e unilaterais feitas por aqueles que desejam demonizar Israel. São freqüentemente respondidas pelo reconhecimento bastante mais franco de erros por defensores de Israel e um tom de des-culpa que muitas vezes serve aos acusadores.

O avanço em direção à paz somente virá quando ambos os lados quiserem reconhecer seus próprios erros e culpas e ir além das acusações do passado para um futuro de compromisso mútuo. Uma atmosfera favo¬rável a tal compromisso não será alcançada se o ar não for purifi cado das acusações falsas, exageradas e unilaterais que agora poluem a discussão em tantas colocações. A finalidade deste livro é ajudar a purificar o ar, fornecendo defesas diretas e verdadeiras a falsas acusações. O tom dessas defesas, algumas vezes, necessariamente espelha o tom das acusações. A principal característica dos meus escritos, discursos e aulas durante anos sempre foi ser direto e não criar intrigas ou preocupar-me em ofen¬der aqueles que, com base em suas ações intolerantes e falsas acusações, merecem ser ofendidos. Procuro seguir esse caminho neste livro.

Uma vez purificado o ar dos poluentes da intolerância e da falsida¬de, um debate mais diferenciado pode ser iniciado sobre políticas especifi ¬camente israelenses – bem como sobre políticas especifi camente palesti¬nas. Este livro não é parte desse debate, apesar de eu ter minhas próprias opiniões sobre muitas dessas questões. Enquanto Israel for particular e falsamente acusado de ser o principal infrator, a primeira obrigação da¬queles comprometidos com a verdade e a justiça é refutar essas acusações – de modo firme e inequívoco.

Freqüentemente, perguntam-me como, na qualidade de civil de¬fensor do livre-arbítrio e liberal, posso apoiar Israel. A implicação por trás da pergunta é que devo estar comprometendo meus princípios ao apoiar um regime tão “repressivo”. A verdade é que apóio Israel precisamente porque sou um civil defensor do livre-arbítrio e liberal. Também critico Israel sempre que suas políticas violam o rigor da lei. Tampouco procuro defender ações chocantes de Israel ou de seus aliados, tais como as ma¬tanças de 1948 por tropas irregulares de civis em Deir Yassin, o massa¬cre falangista de palestinos em 1982 no campo de refugiados de Sabra e Shatila ou os assassinatos em massa de muçulmanos orando por Baruch Goldstein em 1994. Como em qualquer outra democracia, Israel e seus líderes deveriam ser criticados sempre que suas ações deixem de atingir padrões aceitáveis, mas o criticismo deveria ser proporcional, comparativo e contextual, como deveria ser também em relação a outras nações.

Defendo a causa de Israel com base em considerações liberais e de defesa da liberdade civil, apesar de acreditar que os conservadores tam¬bém deveriam apoiar o Estado judeu com base em valores conservadores. Não peço a ninguém que faça concessões a seus princípios. Antes, o meu pedido é que todas as pessoas de boa vontade simplesmente apliquem ao Estado judeu de Israel os mesmos princípios de moralidade e justiça que aplicam a outros Estados e povos. Se aplicassem um só padrão de justiça, a causa a favor de Israel se resolveria por si. Mas, como tantas pessoas insistem em ser mais exigentes em relação a Israel, eu agora defendo a causa segundo a qual, num julgamento por qualquer padrão racional, Israel merece o apoio – embora, certamente, não o apoio sem crítica – de todas as pessoas de boa vontade que atribuem valor à paz, à justiça, à ho-nestidade e à autodeterminação.

Desregulamentar profissões. Todas!

Alexandre Barros

O governo anunciará em breve a proibição de carros pequenos com motores de menos de 2.0 e serão obrigatórios transmissão automática, computadores de bordo e airbags sêxtuplos. Que tal lhe pareceria essa notícia? Fords Ka, Fiats Palio, Fords Fiesta sumiriam do mercado. Todos os carros custariam muito mais caro. Adeus ao sonho do carro 1.0, sem imposto. Seria uma crise nacional.

Mas não causa crise sermos obrigados a pagar a um médico formado numa faculdade, que estudou seis anos, para girar lentes na frente do nosso rosto e nos dizer que temos 2,5 graus de miopia. Ou pagar a um médico a taxa de carta de motorista, para nos mandar ler algumas letras na parede. Nem causa espanto que precisemos pagar a advogados, formados por cinco anos, para nos tirarem da cadeia, coisa que um estudante de Direito do primeiro ano sabe fazer, ou até mesmo quem nunca estudou Direito.


Escrevi, nos anos 70, um artigo chamado "Em defesa dos advogados", publicado no Jornal da Tarde. Dias depois chegou pelo correio (a vida era assim antes daquele menino maluquinho e irresponsável, William Gates III, que abandonou a faculdade) cópia de carta do presidente da OAB de São Paulo protestando e explicando detalhadamente por que a regulamentação exercida pela OAB era fundamental para a defesa dos interesses dos possíveis clientes. Mas a carta não falava nada sobre a obrigação de pagar mais caro por advogados que estudaram cinco anos para prestar serviços corriqueiros sem complexidades ou consequências jurídicas maiores. A resposta: custa muito caro porque, quando pagamos a um advogado, temos de ressarci-lo pelos anos de estudos de Direito e pagar um naco das mensalidades da OAB, que é um sindicato que defende mais os interesses dos advogados que o dos clientes.

Desregulamentar a medicina? Certamente. Faço palestras em que proponho a desregulamentação da medicina. A reação das plateias é de horror. Mas como? É a nossa saúde que está em jogo!

Imediatamente depois da reação, mas ainda durante o pânico, peço que levantem a mão todas as pessoas que utilizaram (ou seus parentes próximos) tratamentos alternativos, como cromoterapia, florais de Bach, aromaterapia, cinesiologia, hidroterapia, iridologia, quiropracticia, etc. Sempre mais de metade das audiências levantou as mãos. Ou seja, as pessoas acreditam em terapias alternativas, usam-nas em substituição à medicina e muitas depositam a continuidade de sua vida nelas (como quem se trata de câncer com extratos de sementes de pêssegos). Mas, quando perguntadas, a maioria diz-se a favor da regulamentação da medicina.

Bem-vindos ao mundo das profissões regulamentadas. O Cialis, o maior concorrente do Viagra para disfunção erétil, custou ao laboratório que o inventou, desenvolveu e comercializa entre US$ 600 milhões e US$ 800 milhões antes da venda do primeiro comprimido. Foram centenas de cientistas, pesquisadores, bioquímicos e milhares de testes exigidos pela FDA (a Anvisa americana). Cada vez que compra uma caixa de Cialis, você paga por todos esses custos. Mas há um, inútil, que você paga e não se dá conta: o salário da farmacêutica responsável da filial da empresa que produz o Cialis no Brasil. Ela entra na produção do Cialis como Pilatos no Credo, sem ter nada que ver com os benefícios do remédio. Ela só está lá porque os farmacêuticos (como todos os outros profissionais regulamentados) conseguiram que o Congresso Nacional votasse uma lei obrigando todos os laboratórios a terem um(a) farmacêutico(a) responsável, e também cada farmácia a ter um(a) farmacêutico(a) para lhe vender a caixinha dos comprimidos mágicos (ou de qualquer outro remédio que você queira comprar).

José Zanine Caldas, famosíssimo arquiteto autodidata, desenhou e construiu algumas das mais caras e belas casas do Joá e da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Quem as comprava pagava por sua competência e seu bom gosto, mas um naco era para o engenheiro formado, cuja única função era assinar a planta. Zanine foi professor na Universidade de Brasília. Hoje não poderia, porque não tinha diploma.

Em resumo, não ganhamos nada com profissões regulamentadas. Só ganham os profissionais que fazem parte delas.

Sou contra as faculdades? Não (vivo, em parte, de ser professor). Mas acho que todos devem poder contratar, para qualquer serviço, o profissional em quem confiam, independentemente de ter ou não um diploma e/ou um registro profissional.

Quando regulamentam profissões, parlamentares caem na esparrela de acreditar que estão defendendo o público. Potoca. Estão apenas defendendo um mercado cativo para grupos politicamente organizados que buzinaram nos seus ouvidos que eles deviam regulamentar alguma profissão.

O problema não é só brasileiro. Todos os prédios que você vê ao vivo em Las Vegas, ou no seriado CSI, foram construídos por pessoas de bom caráter. Pedreiros, no Estado de Nevada, precisam apresentar um atestado de bom caráter, além de saber empilhar tijolos.

Uma lei de 1952 proibia comunistas de serem farmacêuticos no Texas e, no Estado de Washington, veterinários eram proibidos de tratar de vacas enfermas se não assinassem um juramento anticomunista.

Há no Congresso brasileiro 169 projetos de regulamentação de profissões. A cada um que for aprovado você pagará mais caro por aquele serviço, em troca de proteção zero. Regulamentações profissionais só protegem os prestadores de serviços e excluem concorrentes que poderiam prestar os mesmos serviços, só que mais barato.

Acabou de ler o artigo? Não tem nada que fazer? Entre no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=B6vOChhue20). E ouça o hino do farmacêutico.

Parabéns! A conta é toda sua, inclusive a do hino.
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Alexandre Barros, cientista político (Ph.D. pela University of Chicago), é diretor-gerente da Early Warning: Análise de Oportunidade e Risco Político

Use energia, enriqueça e salve o planeta


John Tierney

Quando o primeiro Dia da Terra aconteceu, em 1970, os ambientalistas norte-americanos tinham uma boa razão para se sentirem culpados. A riqueza do país e a tecnologia avançada pareciam tão ruins para o planeta que chegaram a aparecer numa famosa equação desenvolvida pelo ecologista Paul Ehrlich e pelo físico John P. Holdren, hoje conselheiro científico do presidente americano Barack Obama.

A equação deles era: I = PRT. Isso significa que o impacto ambiental é igual à população multiplicada pela riqueza multiplicada pela tecnologia. Proteger o planeta parecia exigir menos pessoas, menos riqueza e tecnologias mais simples - o mesmo tipo de transformação social e revolução energética defendidos em muitos comícios relacionados ao Dia da Terra da última quarta-feira.



Porém, para cientistas pesquisadores do meio ambiente, muita coisa mudou desde a década de 1970. Com os benefícios de seus esclarecimentos e equações melhoradas, vou fazer algumas previsões:

1. Não haverá nenhuma revolução verde no campo energético ou coisas do tipo. Nenhum líder, lei ou tratado irá mudar radicalmente as fontes energéticas para as pessoas e as indústrias nos Estados Unidos ou em outros países. Nenhuma recessão ou depressão irá causar mudanças duradouras na paixão dos consumidores de consumir energia, ganhar dinheiro e adquirir novas tecnologias - e isso, acredite ou não, é uma boa notícia, pois...

2. Quanto mais ricos todos ficam, mais verde será o planeta no longo prazo.

Entendo que esta segunda previsão parece ser difícil de acreditar se considerarmos a quantidade de carbono despejada na atmosfera hoje pelos americanos e as projeções do aumento dessas emissões na Índia e na China, à medida que esses países enriquecem.

Tais projeções facilitam deduzir que a riqueza e a tecnologia causam mais danos ao meio ambiente. No entanto, apesar da poluição aumentar quando um país se industrializa, à medida que as pessoas enriquecem, elas podem bancar água e ar mais limpos. Elas começam a usar fontes de energia que utilizam menos carbono - não só porque elas se preocupam com o aquecimento global. O processo de "descarbonização" começou muito antes do nascimento de Al Gore.

A velha teoria I = PRT ("a riqueza é ruim") pode ter feito algum sentido intuitivo, mas não casa com os dados analisados desde aquele primeiro Dia da Terra. Na década de 1990, pesquisadores perceberam que os gráficos envolvendo o impacto ambiental não produziam uma linha ascendente simples à medida que o país enriquecia. A linha frequentemente sobe, se estabiliza, e depois reverte de forma descendente, formando uma figura como um arco ou um "U" invertido - chamado curva de Kuznets. (EX)

Em dezenas de estudos, pesquisadores identificaram curvas de Kuznets para uma variedade de problemas ambientais. Existem exceções para a tendência, especialmente em países com governos incompetentes e sistemas deficientes de propriedade privada. Porém, em geral, enriquecer significa eventualmente ficar mais verde. À medida que a renda sobe, as pessoas geralmente focam, antes de tudo, em limpar sua água. Depois é a vez dos poluentes do ar, como o dióxido de enxofre.

Com o aumento da riqueza, as pessoas consomem mais energia, entretanto, elas preferem fontes energéticas mais eficientes e limpas - vão de madeira, carvão e petróleo, para gás natural e energia nuclear, progressivamente emitindo menos carbono por unidade de energia. Essa tendência de "descarbonização" global tem ocorrido num ritmo notavelmente estável, desde 1850, segundo Jesse Ausubel, da Rockefeller University, e Paul Waggoner, da Estação Experimental de Agricultura de Connecticut.

"Quando você tem muitos edifícios cheios de computadores operando ao mesmo tempo, a energia entregue tem de ser bastante limpa e compacta", argumentou Ausubel, diretor do Programa para o Ambiente Humano da Rockefeller. "A tendência de longo prazo é em direção ao gás natural e à energia nuclear, ou energia solar, se possível. Se o sistema energético evoluir nessa tendência, a maioria do carbono será eliminada até 2060 ou 2070".

Todavia, o que dizer sobre todo o dióxido de carbono, cuspido hoje pelos americanos, que se desloca para suas McMansões? Bem, é verdade que os moradores de subúrbios americanos emitem mais gases do efeito estufa se comparados a maioria das outras pessoas do mundo (apesar dos nova-iorquinos não serem muito diferentes de outras zonas urbanas ricas).

No entanto, os Estados Unidos, e outros países ocidentais, parecem estar próximos do topo de uma curva de Kuznets em relação às emissões de carbono, prontos para começar a alegre descida curva abaixo. A quantidade de carbono emitida pelo cidadão americano médio tem permanecido estável pelas últimas décadas. Além disso, as emissões de carbono per capita começaram a declinar em alguns países, como a França. Alguns pesquisadores calculam que o ponto de mudança pode chegar quando a renda per capita de um país atinge US$ 30 mil, mas isso pode variar amplamente, dependendo do tipo de combustível disponível.

Nesse meio tempo, mais carbono está sendo eliminado da atmosfera pelas florestas em expansão nos Estados Unidos e outros países ricos. O desmatamento também segue uma curva de Kuznets. Em países pobres, as florestas são desmatadas para fornecer combustível e área de cultivo. Porém, à medida que as pessoas enriquecem e obtêm melhorias tecnológicas em relação à agricultura, os campos tendem a se transformar em áreas florestais.

Obviamente, mesmo se o impacto dos países ricos nas emissões de gases do efeito estufa diminuir, ainda haverá um aumento das emissões de carbono pela China, Índia e outros países, os ascendentes na curva de Kuznets. Apesar desse prospecto ter o lobby de ambientalistas para a restrição dos gases do efeito estufa, alguns economistas temem que um tratado global possa, no fim das contas, prejudicar a atmosfera ao diminuir o ritmo do crescimento econômico e, portanto, prolongar o tempo necessário para os países pobres atingirem o ponto de mudança na curva.

Então, portanto, existem tantas razões para achar que países em diferentes estágios na curva de Kuznets podemssam chegar a concordar na aplicação dessas restrições? O tratado de Kyoto não transformou a indústria nem os consumidores europeus. Apesar de que alguns ambientalistas americanos esperam que a combinação da crise econômica e um novo presidente possa deflagrar uma nova era de austeridade energética e energia verde, o senhor Ausubel afirma que eles esperam o reverso da história.

Nos últimos séculos, disse ele, nada alterou drasticamente as tendências de longo prazo na forma como os americanos produzem ou usam energia - nem a Grande Depressão, nem as guerras mundiais, nem a crise energética dos anos 1970, nem os grandiosos programas para produzir energia alternativa.

"Sistemas energéticos evoluem com uma lógica própria, gradualmente. Eles não se transformam de repente em algo diferente", explicou Ausubel. Esse não é um discurso muito empolgante para ser dito no Dia da Terra. Porém, no longo prazo, a curva de Kuznets é mais confiável que uma revolução.
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http://www.nytimes.com/2009/04/21/science/earth/21tier.html?_r=1&scp=10&sq=John%20Tierney&st=cse

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2009/05/10/ult574u9331.jhtm

O Segredo de Karl (Fonft Economia)


Filosofia da Liberdade

Análise do Oriente Médio


 
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