O Obama andou lendo 'Deus, um Delírio'?

Entrevista com Patrick Moore


“A energia nuclear é boa para o planeta”

Um dos fundadores do Greenpeace explica por que “virou a casaca” no debate sobre o aquecimento global

O consultor canadense Patrick Moore, de 60 anos, gosta de ser identificado como um dos fundadores do Greenpeace – uma das organizações ambientais mais influentes do mundo. Mas os ambientalistas hoje preferem usar outros termos para se referir a Moore. “Eco-Judas” é a versão bem-humorada. “Lobista da indústria nuclear”, a mais comum. A querela começou quando o consultor deixou o Greenpeace, em 1986, e passou a defender os temas que antes combatia: da segurança da energia nuclear à dos transgênicos. Moore diz que a energia nuclear é uma das saídas para as mudanças climáticas porque os reatores não emitem gás carbônico, principal responsável pelo aquecimento da Terra. “Tento influenciar na educação das pessoas”, diz.



QUEM É
É porta-voz da Coalizão pela Energia Limpa e Segura, aliança mantida pela associação da indústria nuclear americana

FORMAÇÃO
Estudou Biologia Florestal na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, onde também fez doutorado em Ecologia

O QUE FEZ
Na década de 1970, foi um dos fundadores do Greenpeace, que deixou em 1986. Fundou a consultoria privada Greenspirit Strategies

ÉPOCA – Quando o senhor integrava o Greenpeace, escreveu que “as usinas nucleares são a invenção mais perigosa da humanidade”. Hoje, as defende publicamente. Por que mudou de opinião?

Patrick Moore – No Greenpeace, nós achávamos que tudo o que era nuclear era ruim. Acreditávamos que a energia nuclear estava inevitavelmente ligada às armas atômicas. Mas é só reparar que os reatores que produzem energia não são usados para matar pessoas. Na verdade, reatores são usados até na medicina para produzir medicamentos que tratam milhões de pessoas. Muitas tecnologias podem ser usadas para o bem ou para o mal. Você pode voar em um avião para promover uma missão de paz ou para destruir uma cidade com uma bomba.

ÉPOCA – O senhor não se diz um alarmista a respeito do aquecimento global, mas o usa como argumento para defender a energia nuclear. Não é uma contradição?

Moore – Não acho que eu esteja me contradizendo. Não contratamos seguro contra incêndio para nossas casas mesmo sem saber se elas pegarão ou não fogo? Acho difícil prever quais serão as conse-qüências do aumento da temperatura do planeta no futuro. Mas acredito que, se quisermos reduzir nossas emissões de gás carbônico, teremos de reduzir nossa dependência dos combustíveis fósseis.

ÉPOCA – A energia nuclear é considerada cara e, em muitos países, conta com subsídios governamentais para chegar a um preço razoável aos consumidores. Ela é financeiramente viável?

Moore – Comparada com as outras fontes de energia, a nuclear é mais cara que a hidrelétrica. E também é mais cara que a eletricidade gerada em termelétricas movidas a carvão. Mas ainda é mais barata que a eletricidade produzida com gás natural. E, com certeza, muito menos cara que a energia solar.

“O Greenpeace faz uso de minha história e não o contrário. Quem trabalha hoje lá está usufruindo da organização que ajudei a construir”

ÉPOCA – O senhor tem dados para comparar os preços de cada tipo de energia?

Moore – Não dá para colocar em números exatos. No caso das hidrelétricas, depende de onde o reservatório for construído. Cada usina nuclear também é um caso único: depende de quanto tempo vai demorar a construção, de qual era o preço dos materiais no período etc. Tudo o que eu posso dizer é que, em 21 países, 15% ou mais da eletricidade é gerada em usinas nucleares. Na França, chega a 80%. A Eslováquia, por exemplo, não é um país rico, e 66% de sua eletricidade vem de usinas nucleares. A razão pela qual esses países contam com a energia nuclear é que ela tem um preço bastante razoável comparado ao de outras tecnologias.

ÉPOCA – Como resolver o problema do armazenamento do lixo nuclear se, desde que a primeira usina entrou em funcionamento, na década de 1950, na Rússia, ainda não há no mundo um abrigo definitivo para o combustível usado?

Moore – A França e o Japão já conseguem dar um destino final para seu lixo nuclear. Eles estão reciclando o combustível usado para reaproveitá-lo nos reatores. O combustível conserva 95% de seu potencial energético mesmo depois de usado uma vez.

ÉPOCA – Alguns especialistas consideram esse reprocessamento muito arriscado. Depois de usado no reator, parte do urânio se transforma em plutônio, que pode ser usado para fazer bombas. É seguro lidar com esse material?

Moore – No Japão, o plutônio é misturado novamente ao urânio dentro do equipamento que faz a reciclagem. Assim, não é possível construir bombas. Mas eu não estou tão preocupado com os terroristas se eles se apossarem desse material porque não sabem construir bombas. Agora, países como a Coréia do Norte e o Irã podem contratar cientistas para isso. Mas ainda é mais fácil para eles comprar centrífugas para enriquecer o urânio que usar o material reprocessado.

ÉPOCA – Por que não usar o dinheiro gasto nas usinas nucleares para desenvolver fontes alternativas de energia que não oferecem os perigos da nuclear?

Moore – A energia solar e a energia eólica não dão conta de abastecer toda uma rede elétrica. Além disso, de onde viria a energia quando não houvesse sol e quando parasse de ventar? Porque não faz sol e não venta o tempo todo. Sou a favor de usar primeiro o potencial hidrelétrico. Mas, uma vez que ele tenha se esgotado, defendo a energia nuclear em seguida.

ÉPOCA – O senhor tem alguma ligação com a indústria nuclear?

Moore – Eu sou um dos diretores da Clean and Safe Energy Coalition (Coalizão pela Energia Limpa e Segura), junto com Christine Todd Whitman, que já foi diretora da agência americana de proteção ambiental. Somos como porta-vozes. Queremos convencer o público americano de que a energia nuclear é decisiva para reduzirmos nossas emissões de gases do efeito estufa. A coalizão é mantida financeiramente pelo Instituto de Energia Nuclear, a associação da indústria nuclear nos Estados Unidos.

ÉPOCA – Seus críticos o chamam de lobista. O senhor é lobista?

Moore – Eu não sou lobista. Eu nem sei como fazer lobby. Eu falo com muitos políticos, mas não faço lobby para modificar leis. Essa é a função do Instituto de Energia Nuclear. Um lobista diz “nós queremos uma legislação assim para poder ter dinheiro para a indústria nuclear”, ou algo do tipo. Eu não tento influenciar a lei. Eu tento influenciar as políticas ambientais. E tento influenciar na educação das pessoas.

ÉPOCA – O que o senhor quer dizer com políticas ambientais? Isso faz parecer que é lobby.

Moore – O que quero dizer com políticas ambientais é que eu sou a favor da energia nuclear. Todo mundo sabe disso. Quando converso com os políticos, é mais para trocar informações. Eu diria que não sou lobista, eu sou um comunicador. Eu diria que o Greenpeace é que é lobista. Porque são eles que sempre estão tentando emplacar leis. Eu sou mais um ativista que faz campanhas para a sociedade em geral.

ÉPOCA – Fica claro para o público que o senhor é pago pela indústria nuclear?

Moore – Em todos os artigos que escrevo na imprensa eu sempre coloco um rodapé com minha identificação: “Patrick Moore trabalha como consultor para governos e indústrias”. Mas, muitas vezes, os editores cortam essa parte. Mas eu nunca escondo essa informação. E, mesmo que eu tentasse esconder, todo movimento ambiental está espalhando isso por aí.

ÉPOCA – O Greenpeace acusa o senhor de usar o nome da organização, mais de 20 anos após deixá-la, para conseguir marketing e credibilidade. O senhor já pensou em parar de se identificar como um dos fundadores do Greenpeace?

Moore – Eles dizem que eu estou usando comercialmente minha história no Greenpeace. Mas são eles que a estão usando. Quem trabalha hoje no Greenpeace é que está usufruindo da organização que eu ajudei a construir.

A Escrava Wal-Mart


Rodrigo Constantino

“São os consumidores e não os empresários que determinam o que deve ser produzido.” (Mises)

No livre mercado, são os consumidores quem mandam, determinando o que deve ser produzido pelas empresas que competem em busca de lucro. A maior garantia de bom atendimento, variedade de produtos, preços baixos e qualidade está justamente na livre concorrência, ausente de barreiras artificialmente criadas pelo governo. Tudo isso é bastante evidente e lógico, mas, infelizmente, as décadas de lavagem cerebral marxista impedem uma compreensão maior destes fatos. Suas vítimas passaram a encarar os empresários como inimigos exploradores, o lucro como pecado, e o governo como uma espécie de “deus protetor”, que irá cuidar dos consumidores impedindo a “exploração capitalista”. As empresas grandes passam a ser as maiores vilãs nessa mentalidade distorcida.

Mesmo os americanos não estão livres dessa inversão, e a Wal-Mart, pelo seu gigantismo, costuma ser o alvo preferido dessa turma. Por isso é tão pertinente citar alguns trechos da entrevista concedida ao The Wall Street Journal pelo equatoriano Eduardo Castro-Wright, que assumiu a presidência executiva da divisão americana da Wal-Mart Stores há três anos. Uma parte da entrevista foi traduzida e publicada no jornal Valor, mostrando como as mudanças feitas pelo presidente têm colaborado para um crescimento maior da empresa. Logo no começo, Castro-Wright diz: “Fornecer uma boa experiência de compra começa com oferecer opções de produtos que os consumidores merecem, a manutenção de um espaço asseado e ter associados (funcionários) simpáticos, para que os clientes queiram voltar”. Ou seja, logo de cara vemos que o principal foco da empresa está voltado para o cliente, com a meta de propiciar uma compra agradável e com os produtos realmente demandados.

A Wal-Mart já era conhecida pela sua política de preços baixos, e o presidente reforça este objetivo: “Primeiro, tivemos de reforçar nossa liderança em preços baixos. Precisávamos perguntar a nós mesmos qual era a nossa filosofia e ela era mais do que apenas garantir um preço baixo, mas sim ajudar as pessoas a economizar e assim melhorar suas vidas”. Novamente, fica claro que a empresa é uma parceira de seus clientes, com interesses alinhados. Se os consumidores podem economizar, ficam satisfeitos, e retornam para comprar novamente na loja. Cliente feliz é cliente bom. A Wal-Mart entende isso: “O plano então contou com tudo, de melhorias na sinalização visual das lojas, para que as pessoas pudessem encontrar as coisas mais facilmente, a investimento em tecnologia para agilizar os caixas”. A Wal-Mart é conhecida pelos seus pesados investimentos em tecnologia. Se as filas nos caixas são mais rápidas, a loja vende mais, e os clientes ficam mais satisfeitos. Novamente, os interesses estão alinhados.

Apesar de seu tamanho, com faturamento de US$ 240 bilhões apenas nos Estados Unidos, a Wal-Mart não passa de uma escrava dos consumidores, tendo que buscar sempre atender da melhor forma possível a demanda. Castro-Wright explica: “Aprendemos que fornecer escolhas ao cliente não tem a ver com mais produtos, mas produtos selecionados cuidadosamente e nos quais os clientes estão interessados”. Isso faz todo o sentido, naturalmente. Afinal, hoje a empresa é um gigante, justamente por focar tanto nos clientes. Mas nada impede que amanhã outra empresa consiga superar a Wal-Mart no atendimento aos consumidores. O capitalismo, como Schumpeter já tinha notado, é um processo dinâmico, com uma “destruição criativa” que garante o progresso rumo aos produtos mais desejados pelos consumidores e aos métodos mais eficientes para produção destes.

O tamanho não é garantia de vida eterna para empresa alguma. Existem várias provas disso, como o caso da IBM, por exemplo, que perdeu bastante terreno para empresas novas como a Microsoft e Intel, e foi forçada a se reinventar para sobreviver. Na verdade, poucas empresas existem há mais de um século, justamente por causa desse processo dinâmico do capitalismo. O sucesso depende da escolha dos consumidores. São esses que possuem o poder de decidir quem ganha e quem perde, num plebiscito ininterrupto chamado “mercado”. As empresas precisam lucrar para sobreviver, e o lucro depende dos consumidores. No livre mercado, as empresas não passam de “escravas” dos consumidores. Estes não precisam do governo para protegê-los. Precisam apenas da livre concorrência, possível justamente quando o governo não se mete para garantir privilégios e criar barreiras artificiais. A imagem perante os clientes é um dos mais valiosos ativos de uma empresa, que depende da confiança para prosperar. Alguém realmente acredita que a Wal-Mart não vende alimentos podres por causa da vigilância do governo, e não por causa dos próprios interesses e foco no lucro?

O que o governo deve fazer para proteger o consumidor é justamente deixá-lo em paz para escolher livremente de quem comprar aquilo que é desejado. Se o “Zé da Quitanda” não tem condições de competir com a Wal-Mart para oferecer produtos melhores e preços menores, o governo não deve protegê-lo da “competição predatória”, pois isso seria feito apenas à custa dos consumidores. No capitalismo liberal, vence quem consegue melhor atender a demanda, e essa é a maior proteção que os consumidores podem ter. O caso da Wal-Mart ilustra isso de forma perfeita: a empresa possui um valor de mercado acima de US$ 200 bilhões, mas é apenas uma escrava de seus consumidores.

Lula prepara (de novo) o golpe de Estado do terceiro mandato

Se isso prosperar, voltamos à escuridão política

Desde que foi criado, há 28 anos, o PT vem sendo chamado pelos intelectuais liberais de a “UDN de macacão”. Esse apelido, inventado pelo professor Cláudio Lembo, tinha por objetivo ironizar o falso-moralismo e a histeria denuncista demonstrados pelos petistas –obviamente até estourar o escândalo do mensalão. Pois agora o PT apresenta uma outra característica daquela velha UDN do brigadeiro Eduardo Gomes: a atração atávica por golpes de Estado.

Pois o presidente Lula voltou a se movimentar pelo terceiro mandato. Ano passado ele ensaiou a idéia duas vezes. No primeiro semestre, a Executiva do PT discutiu abertamente o plano de promover um plebiscito para a adoção do parlamentarismo – com Lula, de novo, com a força do povo, evidentemente. No segundo semestre Lula colocou na rua o bloco que pregava o terceiro mandato. Diante da reação dura da oposição, Lula recuou e fechou um acordo com a ministra Dilma Roussef. Lula lança Dilma candidata à sucessão. Em troca, Dilma se comprometeu a só ficar no poder um único mandato, caso seja eleita, abrindo espaço para a volta de Lula em 2014.

A ISCA DE LULA

Nesta semana Lula esteve em Buenos Aires, à frente de 264 empresários. Levou também alguns políticos, entre eles o deputado federal Devanir Ribeiro, do PT paulista, autor da emenda do terceiro mandato. Devanir não ficou entre os colegas políticos, mas se inseriu estrategicamente na comitiva de empresários.

Devanir pertence ao baixo clero da Câmara, mas não é um deputado qualquer. Ele faz parte da bancada pessoal do presidente. É amigo de Lula desde os anos 70, quando os dois foram diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. No Congresso, se presta ao papel de ventríloco informal do presidente. O que ele diz, é compreendido como recado de Lula que não pode ser enviado pelos canais formais.

Em Buenos Aires, o deputado estava em missão acintosa do Planalto. Puxou assunto com vários empresários sobre o governo Lula. E sobre como seria bom que o presidente pudesse continuar por mais tempo no poder. Lula sondava o capital a procura de peixes graúdos dispostos a morder a isca. Devanir era a isca de Lula. Nem sabia direito quem era quem. Apenas foi colocado ali, como atrativo aos tubarões.

Na segunda-feira 4 de agosto, Devanir se viu cercado de quatro empresários de peso, sendo dois deles diretores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp. Foram eles que puxaram assunto sobre a emenda do terceiro mandato – segundo relatou Devanir, já de volta a Brasília, em conversa reservada com um petista amigo. Durante essa conversa, os empresários teriam dito a Devanir que a melhor saída para o Brasil, no atual cenário, é continuar com Lula. E pediram a ele que reapresente sua emenda constitucional, que volte a falar abertamente sobre o terceiro mandato, porque há centenas de grandes empresários dispostos a apoiar a idéia – e a convencer seus deputados e senadores a votar na emenda.

Devanir fala a verdade. Pelo menos no essencial. Confirmei com dois empresários que estavam em Buenos Aires que a tese do terceiro mandato foi correu solta entre eles. Há capital graúdo a fim de manter Lula. Entre eles, estariam Paulo Skaf, presidente da Fiesp, Armando Monteiro Neto, presidente da CNI, Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, Jorge Gerdau, do Grupo Gerdau, Abílio Diniz, do Pão de Açúcar, e Márcio Cypriano, presidente do Bradesco.

Na quarta-feira 6 de agosto, quando Lula seguia para a China e a comitiva política estava de volta a Brasília, a tese do terceiro mandato retornava às conversas de bastidores do Congresso Nacional.



OS TRÊS FATORES DE RISCO

Um fato novo e dois antigos estão levando Lula mudar de planos e a preparar um golpe constitucional:

1) O fato novo é um possível terceiro mandato para o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia. Quando Lula ensaiou a mudança constitucional, ano passado, o precedente externo era Hugo Chávez, da Venezuela. Se a tese fosse aprovada por aqui, seria inevitável a comparação de Lula e Chávez pelos analistas de Wall Street, algo péssimo para nossos negócios. Agora é diferente. Uribe é o maior aliado dos Estados Unidos no continente. Está derrotando com armas em punho os narco-terroristas das Farc. Uribe busca o terceiro mandato. Se passar na Colômbia, não haverá mais resistência dos aliados ocidentais para que o terceiro mandato seja adotado também para Lula.

2) Outro fato é que a popularidade de Lula prossegue batendo recordes em cima de recordes por conta dos programas sociais e de uma condução correta da economia. A última novidade, anunciada na terça-feira 5 de agosto, é que a classe média agora representa 51% da população, um fato histórico espetacular, admita-se.;

3) O terceiro fato é que a oposição, capitaneada pelo PSDB, continua cada vez mais perdida. Não consegue apresentar programa de governo alternativo. E muito menos dá sinais de conseguir se unir em torno de um candidato único ao Planalto. Enfim, estamos sem oposição.

DUBIEDADE PRESIDENCIAL
Quando a idéia do terceiro mandato tomou fôlego pela primeira vez, em setembro de 2007, Lula agiu com dubiedade. Em áudio público, o presidente condenou a idéia. “Esse negócio de achar que tem pessoas que são imprescindíveis e insubstituíveis não existe em política”, disse na época. “A alternância de poder é uma coisa extremamente importante para o fortalecimento da democracia.”

Mas nos bastidores, Lula fazia de tudo para tirar de cena todos os possíveis candidatos da base do governo, como Marta Suplicy (leia detalhes logo abaixo) -- enquanto nada faz para conter os defensores do terceiro mandato. Naquela investida, Devanir era apenas um dos defensores da idéia. “Nunca toquei nesse assunto diretamente com Lula”, jura Devanir a todos que perguntam. Ele, no entanto, faz a ressalva. “O Lula nunca me desautorizou. Nem me repreendeu.”

Ora, ora, se Lula efetivamente não pensasse em terceiro mandato, teria intimidade para barrar a iniciativa de Devanir. Eles dividiram uma cela no Dops, quando Lula foi preso com base na extinta Lei de Segurança Nacional. Juntos, fundaram o PT. Quando Lula chegou ao poder, ajudou Devanir a se eleger deputado federal. As duas famílias se freqüentam e Lula e Devanir costumam se encontrar nos finais de semana. “Já perdi a conta de quantas vezes estive no Alvorada”, diz o deputado.

Para o senador Arthur Virgílio, líder do PSDB, o presidente está agindo com dubiedade nesse assunto. “Ele diz que não quer, mas deixa correr solta a articulação pelo terceiro mandato.”

BRUXARIAS NO CALDEIRÃO
Lula de fato está sendo estimulado por um grupo de auxiliares que privam de sua intimidade a desejar (e a trabalhar) o terceiro mandato. De acordo com duas autoridades com acesso às conversas secretas do Planalto, o plano para que Lula permaneça mais tempo no poder é cozinhado em dois caldeirões.

O primeiro é de pura bruxaria política. Sua solução exige mudança da Constituição e vai direto ao ponto – o terceiro mandato consecutivo em 2010. Eis então o projeto de Devanir: apresentar quando o momento político aprouver uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dando direito ao presidente da República de convocar plebiscitos. Hoje, só o Congresso pode fazê-lo. Se a proposta vingar, Lula estaria livre para consultar o povo sobre seu direito de concorrer de novo.

E essa aprovação, por si só, emparedaria as vozes contrárias no Congresso e no Supremo Tribunal Federal. Além disso, o “sim” ao terceiro mandato funcionaria como uma pré-eleição, minguando as forças da oposição para a disputa oficial em 2010.

Além do amigo Devanir, outros dois deputados estão dispostos a mostrar o rosto no projeto Lula-2010: Carlos Willian, aliado do PTC de Minas, e Cândido Vaccarezza, do PT de São Paulo. A proposta de Carlos Willian, imaginada ainda em 2007, é de zerar todo o jogo eleitoral, criando o direito de Lula e dos atuais governadores de concorrer mais uma vez. William argumenta que é do interesse de todos, inclusive para o Aécio Neves, que quer ser presidente, mas ainda não mostrou seu trabalho.

O caso da emenda de Vaccarezza é um pouco mais contraditório do ponto de vista político. Ela propõe a adoção do parlamentarismo. Sob um novo regime de governo, Lula teria o direito de concorrer a presidente. “Não se pode falar em golpe, pois são propostas dentro do jogo democrático”, justifica Vaccarezza.

OS ÁULICOS DO PLANALTO
Três dos assessores mais próximos do presidente já se engajaram no projeto do terceiro mandato em 2010: o ministro Luis Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência, o assessor especial Marco Aurélio Garcia e o chefe-de-gabinete Gilberto Carvalho. Dentro do PT, participam da articulação Ricardo Berzoini, o deputado Antônio Palocci e o ex-ministro Luís Gushiken, que ainda é influente. A corrente de José Dirceu sempre foi contra.

Nenhum deles aceita falar publicamente sobre o assunto, é óbvio. Todos sabem que qualquer uma dessas emendas é uma ruptura sem paralelos da Constituição de 1988 e uma medida de força que atenta contra a normalidade democrática do Brasil.

A ESTRATÉGIA PARLAMENTARISTA

Pertinente recordar que o primeiro plano de prorrogar o mandato de Lula surgiu em abril de 2007, dentro da Executiva do PT. A idéia era adotar o parlamentarismo, reelegendo Lula presidente, quantas vezes fosse possível --e criando a alternância de poder com um primeiro-ministro. O plano logo foi substituído por outro, o do terceiro mandato presidencialista, que agrada muito mais a Lula. De qualquer forma, a estratégia do parlamentarismo não está enterrada, apenas hibernando. E o que significa isso?

Ora, ora, só há uma expressão possível para classificar tal manobra: golpe de Estado. A Constituinte de 1988 estabeleceu um plebiscito, em 1993, para que todos os brasileiros decidissem qual o regime e o sistema de governo queriam para o Brasil. Monarquia ou República? Presidencialismo ou parlamentarismo? Na ocasião, o PSDB de Fernando Henrique se engajou pelo parlamentarismo. O PMDB, como sempre, se dividiu. O PFL de Marco Maciel e o PT de Lula entraram de cabeça na campanha pelo presidencialismo. Deu República presidencialista na cabeça, por quase 80% dos votos.

O DEFENSOR DO POVO

Em 2006, quando se planejava a campanha de Lula à reeleição, o presidente do PT Ricardo Berzoini encomendou uma pesquisa qualitativa sobre a imagem do presidente. Descobriu-se que o eleitor o via como uma espécie de ombudsman, o defensor do povo num governo ruim. Lula seria um homem bom, que tenta fazer o possível para que um governo de homens corruptos e incompetentes ajude os pobres.

Enfim, aquela pesquisa detectou que o eleitorado estaria predisposto a adotar um sistema similar ao parlamentarismo, desde que o chefe de Estado fosse Lula – e o chefe de governo pouco importa, pode ser qualquer um. Hoje o cenário é um pouco diferente. Lula está muito mais popular. E seu governo, ainda por cima, é visto como muito bom.



POR QUE É GOLPE

A adoção do parlamentarismo, em si, até poderia ser bom para o Brasil. A maior parte dos estudiosos do tema avalia que seja o sistema político mais democrático existente, o que mais acelera a redução das desigualdades e o desenvolvimento econômico. Vide o exemplo da Europa. Argumentam até que a principal república presidencialista do mundo, os Estados Unidos, em verdade teria um sistema presidencial-parlamentarista, com um Executivo e Legislativo interdependentes.

Em teoria, também não haveria problema algum um país em construção, como é o caso do Brasil, rever uma decisão já tomada no Plebiscito de 1993 e, eventualmente, dar uma guinada parlamentarista.

Mas o que se discute é o casuísmo da hora. As teses do parlamentarismo e do terceiro mandato não estão sendo levantadas dentro do contexto da reforma política necessária –aí sim, seria uma discussão legítima.



ANÕES CÍNICOS DA HISTÓRIA

Ademais, a tese da prorrogação do mandato está sendo patrocinada por figuras menores do petismo, que gostariam de se eternizar no poder. Dentro do PT, os costureiros são o deputado Devanir Ribeiro, metalúrgico da facção lulista, o deputado Cândido Vacarezza, porta-voz de José Dirceu, Carlos William, do tal PTC, ou dirigentes petistas como Rui Falcão, da sub-facção de Marta Suplicy. Outro que já aderiu a causa é o deputado Virgílio Guimarães, de Minas, que há três anos tentou ser presidente da Câmara e provocou o desastre chamado Severino Cavalcanti.

O argumento deles é de um cinismo comovente. Segundo Devanir e Vacarezza, Lula seria um parlamentarista desde criancinha. No plebiscito de 1993, ele até teria defendido esse sistema nas conversas internas do PT, mas como o PT decidiu-se pelo presidencialismo, Lula, democrata que é, então se engajou de corpo e alma na defesa do presidencialismo. Mas agora, diante da realidade dinâmica dos fatos, Lula poderia se engajar de bom grado em outra tese.



QUE FALTA FAZ UM PETISTA VIÁVEL

A principal razão pela qual Lula e o PT querem mudar as regras do jogo é que o partido não tem uma barbada para apresentar em 2010. José Dirceu fez de tudo para ser o sucessor de Lula –mas foi abatido no caminho. Antônio Palocci também. Tarso Genro não se mostrou com densidade eleitoral, nem Patrus Ananias. Então Lula tirou Dilma da manga da camisa. E agora Fernando Haddad, o jovem ministro da Educação, ensaiar por as mangas de fora.

Mas nenhum deles parece ser capaz de derrotar Ciro Gomes, do PSB, ou os tucanos José Serra e Aécio Neves. Restou Marta Suplicy, candidata de Dirceu –mas não de Lula. Ele vai lutar para que ela seja eleita prefeita de São Paulo. Presidente da República, contudo, jamais!



DILMA, A ALTERNATIVA CONSTITUCIONAL

Desde que foi reeleito, em 2006, Lula emite todos os sinais de que não quer ajudar o PT a construir um candidato petista para sua sucessão. “Tudo indica que o candidato de Lula chama-se Lula”, aposta o cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília “Até porque o PT não tem outro”. Foi então que Lula acabou chegando a uma nova idéia chamada Dilma Roussef.

Vale lembrar que por volta de outubro de 2007 a idéia do terceiro mandato tornara-se politicamente inviável. Foi então que Lula encontrou uma alternativa de retornar ao poder, mas com base nas atuais regras do jogo. Por esse plano, Lula voltaria a disputar a sucessão em 2014.

A idéia contemplava a possibilidade de o presidente apoiar Ciro Gomes, num acordo para que ele ficasse apenas quatro anos. Numa reunião no Planalto, chegou-se à conclusão de que seria difícil tal acerto ser respeitado. Ao mesmo tempo, a direção do PT avisou que, nesse caso, o partido teria nome próprio para 2010. Lula então conversou com Dilma, auxiliar que jamais disputou uma eleição. Ela aceitou a empreitada. Ficou então fechado que Dilma seria a candidata de Lula em 2010. E, se eleita, Lula seria o candidato de Dilma em 2014.

Mas agora há fatos novos. Dilma não passa dos 7% nas pesquisas. Lula dá sinais de que caminha para índices de popularidade num patamar próximo a 80%. A oposição está em pandarecos. E por fim vem o fator Álvaro Uribe e seu terceiro mandato apoiado pelos americanos.



A LONGA NOITE HOBBESIANA
O Brasil tem uma história golpes, notadamente os militares, aquele fenômeno que o cientista político Oliveiros Ferreira, da USP, chama de “longa noite hobbesiana” -- uma escuridão que durou século e meio, iniciada em 1821, quando as tropas do Exército no Rio de Janeiro obrigaram o príncipe regente Pedro de Alcântara a substituir o ministro da Guerra, e que se prolongaria até 1985, quando o último general-presidente do regime de 64, João Figueiredo, deixou o Palácio do Planalto pela porta dos fundos.

Foram pelo menos 15 as intervenções políticas dos militares em momentos decisivos da história brasileira. A 16ª tentativa, a derradeira, quando então coronel-ministro César Cals pregou a prorrogação do mandato de Figueiredo para impedir que Tancredo Neves tomasse posse, não colou. Os deputados Devanir e Vacarezza são os César Cals do PT.

Desde a redemocratização em 1985, não tivemos tentativas de golpes de Estado, somente dois casuísmos –os cinco anos de mandato para José Sarney, e a reeleição para Fernando Henrique Cardoso. Parece que Lula também quer deixar sua marca negativa na história.

Submission {submissão} legendado

O cineasta Van Gogh foi assassinado por causa desse filme, por um mulçumano.

O curta-metragem relata a violência exercida contra as mulheres muçulmanas, que são tratadas como inferiores pelos seguidores do islamismo, que tem Alá como o seu Deus. Elas são impedidas de trabalhar e de andar pelas ruas sozinhas. Milhares de viúvas que, sem poder ganhar seu sustento, dependem de esmolas ou simplesmente passam fome. Mulheres com os dedos decepados por pintar as unhas. apedrejadas por que cometeram adultério Casadas, solteiras, velhas ou moças e até crianças, suspeitas de transgressões - e tudo o que compõe a vida normal é visto como transgressão - são espancadas, ou executadas. E por toda parte aquelas imagens que já se tornaram um símbolo: grupos de figuras idênticas, sem forma e sem rosto, cobertas da cabeça aos pés nas suas túnicas - as burqas.

Submission foi escrito por Ayaan Hirsi Ali, assim como aconteceu com seu diretor antes do crime, ela também vem sofrendo ameaças de morte. de alguns membros da sua ex-religião, o islã.



Como eu Dizia


Nada disso surgiu da noite para o dia

Logo após a divulgação do Dossiê Brasil na revista colombiana Cambio , confirmando tudo aquilo que há anos venho dizendo sobre a aliança PT-Farc, o Chefe de Gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, saiu alardeando que não tem qualquer "ligação estreita" com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e que o governo brasileiro "tem zero de relação com as Farc".

Não preciso contestar a dupla mentira. Já o fiz, com muita antecedência, no artigo Simbiose obscena , publicado em O Globo de 7 de fevereiro de 2004, no qual remetia os leitores ao site http://www.nodo50.org/americalibre/consejo.htm , "para que vejam com seus próprios olhos a obscena simbiose entre a narcoguerrilha colombiana e a farsa petista que nos governa". O endereço – prosseguia o artigo - "é de América Libre , versão jornalística do Foro de São Paulo , fundada por (adivinhem) Frei Betto e hoje dirigida por (já adivinharam) Emir Sader. A revista prega abertamente a guerra revolucionária, a implantação do comunismo em toda a América Latina. Seu mais recente editorial proclama: O 11 de setembro dos povos será, para a confraria da América Livre, um compromisso de honra. Será um encontro com os sonhos e com o desejo ."

Da primeira à última página, a coisa respinga sangue e ódio, de mistura com a velha retórica autodignificante que faz do genocídio comunista uma apoteose do amor à humanidade, condenando como fascista quem quer que veja nele algo de ruim. Na mesa do seu Conselho Editorial, quem se senta ao lado do líder das Farc, comandante Manuel Marulanda Vélez, o famigerado Tiro Fijo ? Nada menos que o chefe de gabinete do sr. Lula, Gilberto Carvalho. Está lá também o ex-deputado Greenhalgh... Se isso não é promiscuidade, se isso não é cumplicidade entre o nosso governo e o crime organizado, se isso não é uma tramóia muito suja, digam-me então o que é, porque minha imaginação tem limites.

Estão lá ainda o dr. Leonardo Boff, o compositor Chico Buarque de Hollanda ... e o inefável prof. Antônio Candido..." (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/040207globo.htm ). Era o primeiro escalão inteiro da elite intelectual petista que, ao lado do próprio chefe do gabinete presidencial, conspirava ativamente com as Farc, com o MIR chileno e com outras organizações criminosas para a implantação do regime comunista no continente. Se os políticos ditos "de oposição", os donos de jornais e canais de TV, os líderes empresariais, eclesiásticos e militares tivessem então consentido em examinar o documento que eu lhes exibia, não seria preciso, agora, uma revista colombiana lhes esfregar a verdade na cara, tarde demais para evitar a consolidação da quadrilha petista-farqueana no poder. Na verdade, nem precisavam das minhas advertências. Em 7 de dezembro de 2001, o Foro de São Paulo , sob a presidência do sr. Luís Inácio Lula da Silva, já havia lançado um manifesto de apoio incondicional às Farc, no qual classificava como "terrorismo de Estado" as ações militares do governo colombiano contra essa organização.

A mídia inteira e todas as lideranças políticas nacionais, sem exceção visível, abafaram esse fato para não prejudicar a candidatura Lula uns meses depois. Logo após o pleito de 2002, a existência de um conluio entre o presidente eleito e a esquerda radical latino-americana já se tornara ainda mais nítida pela duplicidade de línguas com que o homem falava para o público em geral, ante as câmeras, e para seus companheiros de militância comunista. Como mais tarde anotei em artigo do Jornal do Brasil ( http://www.olavodecarvalho.org/semana/060413jb.html ): "Enquanto a mídia local celebrava a lisura do pleito, o vencedor confessava ao Le Monde que a eleição tinha sido 'apenas uma farsa, necessária à tomada do poder', sendo confirmado nisso pelo sr. Marco Aurélio Garcia em declaração ao jornal argentino La Nación de 5 de outubro de 2002."

Em qualquer país decente, confissões abertas como essas suscitariam imediatamente uma tempestade de investigações e denúncias. No Brasil, foram recebidas com uma afetação de indiferença blasée por todos aqueles a quem, no fundo, elas aterrorizavam. Poucas condutas humanas se igualam, em baixeza, à covardia que começa por se camuflar de impassibilidade olímpica e, pela persistência, acaba por se transformar em cumplicidade ativa. Mas essas criaturas haviam investido tão pesado no slogan anestésico Lula mudou , que, para não reconhecer o erro, preferiram dobrar, triplicar e quadruplicar a aposta na mentira, até que contestá-la se tornasse, como de fato se tornou, prova de doença mental.

Graças a essa longa e pertinaz conspiração de omissões, a esquerda revolucionária teve todo o tempo e a tranqüilidade que poderia desejar para alterar o mapa do poder político brasileiro ao ponto de torná-lo irreconhecível. Quem manda no Brasil, hoje? Um bom indício é a propriedade da terra. Seis por cento do território nacional pertencem a estrangeiros, dez por cento ao MST, outros dez a "nações indígenas" já sob controle internacional informal, quinze ou vinte são controlados pelos narcotraficantes locais aliados às Farc, mais dez ou quinze estão para ser transferidos aos quilombolas.

O que está acontecendo neste país é a mais vasta operação de confisco territorial já observado na história humana desde a coletivização da agricultura na URSS e na China – e as chamadas elites, sentadas sobre esse paiol de pólvora, com um sorriso amarelo na boca, só querem dar a impressão de que a paz reina, as instituições são sólidas e São Lulinha zela pelo bem de todos.

Outro indício seguro da distribuição do poder é a capacidade de mobilização das massas. Somem os partidos de esquerda, o MST, as centrais sindicais, as pastorais de base e porcarias semelhantes, e verão que, no instante em que quiser, a esquerda revolucionária tem condições de espalhar nas ruas não menos de cinco milhões de militantes enfurecidos. Consolidado pela omissão pusilânime de todos os que teriam o dever de impedir que ele se consolidasse, o monopólio esquerdista dos movimentos de massa marca a distância entre onipotência absoluta e impotência total e é, por si, um retrato do que o futuro reserva ao País.

Mas as organizações de esquerda têm algo mais que isso: têm, através das centrais sindicais, dos partidos e de uma rede imensurável de organizações militantes, o controle absoluto e incontestável de todos os serviços essenciais. Mais ainda do que sua extensão descomunal, o que é notável nesse sistema de dominação é a sua integração, a sua unidade estratégica e funcional. As Farc não estão infiltradas só nos altos escalões da República: elas dominam também os bas-fonds da criminalidade, através de seus contatos com o PCC e o Comando Vermelho, por sua vez estreitamente articulados com o MST e organizações congêneres. De alto a baixo, a sociedade brasileira está à mercê da subversão e do crime.

Nada disso surgiu da noite para o dia. Tudo foi preparado e montado pouco a pouco, metodicamente, desde o advento da Nova República , diante dos olhos cegos e cérebros entorpecidos da liderança "direitista", cuja preocupação predominante ou única, ao longo da construção desse engenho macabro, foi tapar as bocas dos inconvenientes que ousassem perturbar suas boas relações com o governo. O quadro corresponde exatamente, milimetricamente, ao esquema da revolução passiva propugnado por Antonio Gramsci, em que só um lado age, enquanto o outro se deixa arrastar para o abismo com docilidade abjeta.

Também isso expliquei antecipadamente, no meu livro de 1993, A Nova Era e a Revolução Cultural , que até coloquei à disposição dos leitores, gratuitamente, no meu site da internet ( http://www.olavodecarvalho.org/livros/neindex.htm ). Direi que foi como falar com pedras? Não sei, nunca falei com pedras. Agora sinto-me tentado a experimentar.

Anarquia nos céus


A idéia de abolir toda a regulamentação governamental sobre o setor aéreo e entregar essa tarefa para o livre mercado é, para a maioria das pessoas, uma idéia tão impensável e esquisita quanto a idéia de privatizar toda a polícia e os tribunais. A percepção geral é a de que viagens aéreas requerem um controle centralizado e internacional, além de regulamentações dos governos para se prevenir uma anarquia completa nos céus (no sentido depreciativo do termo). Mas será que os governos são realmente necessários para se efetuar essa tarefa, ou ela pode e deve ser completamente entregue ao livre mercado?

Há um debate entre os seguidores da Escola Austríaca sobre a questão do espaço aéreo - sendo um recurso intangível, poderia ele se tornar privado sem que, para isso, tenha de sofrer algum tipo de remodelagem ou mesmo transformação física? Se assumirmos que ele de fato pode se tornar propriedade privada seguindo esses termos, a resposta para toda a questão da desestatização da aviação se torna bem direta: aerovias "virtuais" seriam construídas da mesma maneira que as rodovias na terra; aqueles que fossem donos dessas aerovias iriam ditar as regras para se voar uma aeronave ao longo dessas rotas, bem como quem teria a permissão de fazer isso; aeroportos poderiam ser os proprietários do espaço aéreo acima e nas proximidades de seus perímetros, ou poderiam simplesmente alugá-lo. Enfim, há uma vasta gama de possibilidades. Entretanto, para o benefício do debate, vamos assumir que esse espaço aéreo não pode ser privado, e que o céu é portanto "livre para todos". Nesse caso, a resposta pode exigir um pouco mais de elaboração.

Assim como na privatização e desnacionalização da polícia e do sistema judiciário em uma sociedade anarco-capitalista, as companhias de seguro teriam um papel vital na área da aviação. Praticamente cada dono de um avião iria querer fazer um seguro para sua aeronave, já que o custo unitário desses objetos normalmente varia desde algumas poucas centenas de milhares de dólares até centenas de milhões de dólares. Ninguém em seu perfeito juízo compraria um bem tão custoso e deixaria de fora todo o processo do seguro.

Uma segunda razão para que os proprietários façam seguro para suas aeronaves é o fato de que todos os aeroportos comerciais, junto com todas as pistas de pouso particulares, iriam requerer que qualquer avião com a intenção de pousar lá tenha seguro. Só assim ser-lhe-iam dados os direitos de pouso. Isso, é claro, advém do desejo dos proprietários dos aeroportos se certificarem de que quaisquer danos causados a uma aeronave por um acidente em seu solo poderiam ser pagos, parcial ou completamente, pela companhia de seguros da infeliz aeronave envolvida. Como esses aeroportos são propriedade privada, seus proprietários também têm o direito de se defender contra qualquer intruso indesejado (não-segurado).

O que, então, essas companhias de seguro iriam demandar das companhias aéreas e de outros proprietários de aeronaves em termos de obrigações e condições estipuladas em seus contratos de seguro? Como de praxe, companhias de seguro procuram minimizar o pagamento das indenizações aos seus clientes para assim minimizar os custos e maximizar os lucros. Isso, por sua vez, faz com que essas companhias tenham um ávido interesse em se certificar de que seus clientes - os donos de aviões - evitem ao máximo qualquer acidente. Para lograr esse êxito, as companhias de seguro teriam de cooperar com as companhias aéreas, com as organizações industriais, com os aeroportos, com os fabricantes de aeronaves e até mesmo com os concorrentes para que se desenvolvesse um sistema comum para a condução segura e ordenada das operações de vôo. Isso incluiria tudo: desde o estabelecimento de padrões gerais para a navegação aérea e para a entrega do equivalente aos atuais brevês, até o estabelecimento de sistemas para o preenchimento de planos de vôo e para a condução do controle de tráfego aéreo. As companhias de seguro iriam então exigir que seus clientes seguissem essas regras como pré-requisito para a assinatura de um contrato.

Também deve-se ter em mente que essas companhias de seguro estariam interessadas somente em "regulamentações" que aumentem de fato a segurança, o que significa que qualquer regulação custosa e redundante considerada desnecessária do ponto de vista da segurança seria rapidamente rejeitada. As companhias de seguro também iriam alegremente adotar quaisquer novas propostas e idéias de regulação que reduzissem o risco de acidentes, e não haveria a necessidade de elas terem de pedir permissão a altas autoridades como políticos ou burocratas para implementarem essas mudanças. Quaisquer propostas de melhorias, portanto, seriam rapidamente adotadas se consideradas de natureza positiva, contribuindo assim para acelerar a prevenção de futuros acidentes.

Primeiro, essas soluções privadas se contrastam fragorosamente às suas contrapartidas governamentais atuais - como a Federal Aviation Administration (FAA, equivalente à ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil) -, que estão completamente amarradas por formalidades burocráticas que frequentemente levam anos para ser acatadas - ou contornadas - sempre que se deseja impor novas e melhores medidas de segurança, já que isso normalmente requer o envolvimento de políticos para mudar a legislação e garantir a implementação desses novos procedimentos. Esse processo se torna particularmente enfadonho se as regulamentações propostas tiverem o potencial de irritar eleitores ou grupos de interesse, a quem os políticos estão sempre ávidos para fazer agrados de forma a mantê-los em sua base de apoio.

Segundo, esses departamentos e seus donos - os governos - não têm qualquer interesse financeiro direto em fazer de tudo que puderem para aperfeiçoar a segurança aérea, ao contrário das companhias de seguro, que estariam constantemente à procura de maneiras para se aumentar a segurança de maneira a manter as reivindicações das cias. aéreas e de outros proprietários de aeronaves em um nível mínimo.

Terceiro, políticos são muito conhecidos por se intrometerem paternalisticamente em áreas sobre as quais não têm o mínimo conhecimento. Isso significa que inevitavelmente novas regulamentações propostas e impostas por eles frequentemente vêm na forma de respostas graduais e automáticas às demandas públicas por mais segurança aérea. Isso produz regulamentações rasas, sem substância, ao mesmo tempo em que cria a falsa impressão de que o governo está de fato trabalhando duro para aprimorar a segurança. A única coisa que ele consegue obter, contudo, é uma redução na eficiência dos serviços aéreos e no conforto dos passageiros.

Os governos sempre serão inferiores às empresas privadas nesse quesito, não necessariamente por serem menos competentes, mas por lhes faltarem os mesmos incentivos que impulsionam as companhias de seguro a aprimorar a segurança. Onde uma burocracia tem o incentivo de aumentar seu orçamento, uma empresa privada tem o incentivo de reduzir seus custos, e acidentes impõem custos. Cada dólar gasto na tentativa de melhorar a segurança é, por conseguinte, um investimento, já que ele pode levar a uma diminuição das indenizações, gerando assim uma maior margem de lucro.

A National Transport Safety Board (NTSB), órgão que hoje cuida de todas as investigações de acidentes aéreos, também seria uma instituição desnecessária (assim como suas gêmeas estrangeiras), pois as companhias de seguro assumiriam essa tarefa também. Acidentes naturalmente seriam de interesse particular das seguradoras, e esses eventos seriam meticulosamente examinados sempre que um avião de algum de seus clientes estivesse envolvido. A intenção seria obviamente tentar determinar as causas exatas por detrás do sinistro. Essas investigações formariam a base para quaisquer futuras reivindicações feitas por seus clientes, tornando-se assim vitais para ambas as partes.

A manutenção de uma frota aérea também seria monitorada de perto pela seguradora da companhia. E se a seguradora julgasse a manutenção de uma determinada companhia aérea como sendo de baixa qualidade, ela iria peremptoriamente reclamar com sua cliente e ameaçar aumentar o valor do prêmio, caso nenhuma ação corretiva fosse imediatamente tomada pela cia. aérea para melhorar a segurança. Que uma agência governamental tenha essa responsabilidade e monitore cada operação de cada companhia aérea não é apenas uma tarefa descomunal; é uma tarefa destinada ao fracasso, pois a FAA e suas equivalentes estrangeiras (no Brasil, o Cenipa - Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) carecem de incentivos financeiros para esse procedimento. Pela mesma razão, os governos não têm como saber quais padrões de manutenção eles devem impor de maneira ideal às cias. aéreas, além daqueles que são arbitrariamente impostos por políticos e burocratas. Eles não têm como reproduzir o mesmo processo criativo relacionado a novas maneiras de aprimorar a segurança da mesma maneira que companhias de seguro, concorrendo entre si e guiadas pelo lucro, se incumbiriam de fazer. Da mesma forma, soluções eficientes podem envolver contratos personalizados com cada cia. aérea, contratos relacionados à manutenção de suas aeronaves; nenhuma agência governamental teria como adotar tal procedimento. Novamente, faltam os incentivos financeiros. Ao invés disso, uma agência governamental imporia um esquema do tipo "o mesmo para todos". Isso não só afetaria a produtividade das cias. aéreas, como também reduziria a segurança.

O governo não só não é imprescindível como também é incapaz de fornecer segurança aérea suficiente para impedir seqüestros e outros ataques a aviões e aeroportos, como os eventos de 11 de setembro deixaram claro. De fato, é bem provável que o governo americano tenha sido a instituição que possibilitou que aqueles ataques ocorressem. Desde 1961, os pilotos americanos tinham a permissão de levar consigo armas de fogo na cabine de comando de seus aviões. Mas apenas dois meses antes dos ataques de 11/09, a FAA baniu essa prática. Como resultado, os seqüestradores tinham a certeza de que estarem armados com facas e estiletes já seria suficiente para subjugar e dominar completamente quatro aviões comerciais, pois sabiam que nenhum dos pilotos a bordo estaria armado. Essa proibição foi revogada em novembro de 2001, e esperemos que ela jamais retorne.

George W Bush gosta de creditar às suas draconianas "melhorias na segurança" a ausência de novos ataques terroristas aos EUA nos últimos sete anos. Mas o histórico poderia ser de mais de quarenta e sete anos, caso o governo e a FAA não tivessem intervindo na segurança aérea. Ou, como bem colocou Hans-Hermann Hoppe, uma arma poderia ter evitado aquilo que o segundo maior exército do mundo não conseguiu.

Esse exemplo, junto com o sempre crescente congestionamento dos céus e aeroportos, além do fato de acidentes aéreos continuarem ocorrendo por todo o globo, são sintomas típicos do planejamento central e da socialização do setor aéreo. Nenhum governo pode resolver todos esses problemas, independente da quantidade de dinheiro do contribuinte que ele direciona para a segurança aeroportuária, para o controle de tráfego aéreo, ou para a FAA (no Brasil, para a ANAC); ele simplesmente carece dos incentivos apropriados e dos mecanismos requeridos, tais como o desejo de lucros e o temor da concorrência. Empresas privadas, por outro lado, possuem de fato os incentivos e os meios, e até que a tarefa de regular as viagens aéreas seja inteiramente entregue ao livre mercado, recursos econômicos e vidas humanas continuarão sendo arruinados.

 
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