O Mito Tchê

A pouco tempo perguntei para um rapaz que trazia em seu corpo uma camiseta vermelha com a famosa estampa do Tchê Guevara -"você verdadeiramente conhece a pessoa que voce carrega estampada em sua camiseta? -Não, respondeu ele. -então vou lhe contar sobre a vida dele."

Depois da conversa ficou espantado, quase tirou a camiseta, mas como estava em lugar público declinou.

Este mito chamado Tchê Guevara vem sendo usado pela esquerda a anos principalmente pelos jovens desavisados que vão na onda dos lideres esquerdistas. Veja o que escreveu Paulo Leite sobre o assunto. Poucos fenômenos de nossos tempos causa tanto espanto quanto a durabilidade do "marketing" montado em torno de Guevara. Montado, em grande medida, em torno da famosa foto do falecido fotógrafo cubano Alberto Korda. É de deixar os Dudas da vida verdes de inveja.


Que a molecada dos meus tempos de jovenzinho, no fim dos anos 60, usasse camisetas com a estampa do Tche, dá até pra entender. Que a molecada de hoje em dia faça o mesmo é um testemunho da força de décadas de propaganda enganosa. Onde andam os orgãos de defesa do consumidador quando precisamos deles?

É evidente que os jovens que passeiam com o bom e velho Ernesto no peito nem imaginam, por exemplo, que seu herói mandou 1.897 homens para o paredão, segundo o jornalista cubano Luís Ortega. Guevara, aliás, gostava de dizer que "para mandar alguém para o pelotão de fuzilamento, as provas judiciais são desnecessárias. Esses procedimentos legais são um arcaico detalhe burguês". "Enlouquecido com fúria irei manchar meu rifle de vermelho ao abater qualquer inimigo que caia em minhas mãos! Minhas narinas se dilatam ao saborear o odor acre de pólvora e sangue. Com as mortes de meus inimigos eu preparo meu ser para a luta sagrada e me junto ao proletariado triunfante com um uivo bestial."

Esse pacífico e bem-humorado trecho foi tirado do "Diário de Motocicleta", do argentino Tchê Guevara, aquele mesmo que falava em "não perder a ternura". Não sei bem por que essa passagem não foi incluída no filme de Walter Salles, que evidentemente pinçou do livro trechos bem menos comprometedores.

Poucos fenômenos de nossos tempos causa tanto espanto quanto a durabilidade do "marketing" montado em torno de Guevara. Montado, em grande medida, em torno da famosa foto do falecido fotógrafo cubano Alberto Korda. É de deixar os Dudas da vida verdes de inveja.

Que a molecada dos meus tempos de jovenzinho, no fim dos anos 60, usasse camisetas com a estampa do Tchê, dá até pra entender. Que a molecada de hoje em dia faça o mesmo é um testemunho da força de décadas de propaganda enganosa. Onde andam os orgãos de defesa do consumidador quando precisamos deles?

É evidente que os jovens que passeiam com o bom e velho Ernesto no peito nem imaginam, por exemplo, que seu herói mandou 1.897 homens para o paredão, segundo o jornalista cubano Luís Ortega. Guevara, aliás, gostava de dizer que "para mandar alguém para o pelotão de fuzilamento, as provas judiciais são desnecessárias. Esses procedimentos legais são um arcaico detalhe burguês".

Tchê Guevara é, curiosamente, conhecido como "heróico guerrilheiro", quando na verdade não participou de nenhuma batalha verdadeira na guerrilha em Cuba. Quando Fidel Castro, louco para livrar-se do argentino (que foi um desastre como ministro da Indústria), despachou Che para lutar no Congo e depois na Bolívia, ele pôde finalmente sentir na pele a dureza de um verdadeiro confronto a bala: quase perdeu a vida no Congo, e acabou morto na Bolívia.

Álvaro Vargas Llosa, filho de Mário e co-autor do "Guia do Perfeito Idiota Latino-americano", escreveu recentemente sobre os mitos que mantém o culto a Che Guevara vivo.

Entre eles, está a crença de que Guevara lutava pela "justiça social". Não é bem verdade, diz Vargas Llosa: "em realidade, ele ajudou a arruinar a economia de Cuba ao desviar recursos para indústrias que terminaram em fracasso, ajudando a reduzir a produção de açucar, o principal produto cubano, pela metade em dois anos. Foi durante sua passagem pelo comando da economia cubana que o racionamento começou na ilha".

Outro mito, segundo Alvaro Vargas Llosa, é o de que Guevara tinha uma conexão especial com os camponeses, quando "ele morreu precisamente porque nunca conseguiu conectar com eles". Em seu diário boliviano, Tchê escreveu que "as massas camponesas não nos ajudam em nada". A tentativa de fomentar uma revolução no interior da Bolívia foi um fracasso tão grande que nem o partido comunista do país quis se juntar a Guevara, observa Vargas Llosa.

O pior mito, na opinião do escritor peruano, é o de que as aventuras de Tchê Guevara foram "uma celebração de vida". Uma descrição mais próxima da verdade, defende Álvaro, seria "uma orgia de morte". Vargas Llosa lembra que Tchê matou muitos inocentes em Santa Clara, na região central de Cuba, onde sua coluna esteve acampada no estágio final da revolução fidelista.

O peruano também lembra da entusiasmada participação do Tchê na execução de centenas de prisioneiros no presídio La Cabana (onde, dizem, os gritos de "Viva Cuba Libre" dos executados se ouviam até no meio da noite).

A verdade inescapável é que um mundo em que Tchê Guevara é considerado um herói visionário é um triste mundo. Está na hora de começar a destruir mais esse mito esquerdista.

Para entender a crise financeira

O mundo esta melhor graças ao capitalismo.

Um mundo melhor, por LIGIA FILGUEIRAS.

Para bilhões de pessoas no mundo a vida não podia ser melhor, se comparada com a de seus antepassados. Vive-se mais tempo, com mais saúde, mais conforto. Mas o mundo não está cheio de problemas e ameaças globais, como nos alerta a mídia quase todos os dias? O mundo tem muitos problemas, só que hoje tem mais soluções do que em toda sua História. É só fazer a conta dos avanços. E foi o que fez o economista Indur Goklany, delegado dos Estados Unidos junto à ONU no Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática. Os dados estão em seu livro ‘The Improving State of the World’, comentado na publicação THE SPECTATOR por Allister Heath***. O livro foi lançado no final de 2006 pelo Cato Institute.


Segundo o articulista, o livro demonstra que em cada aspecto da vida humana que possa ser mensurado – seja expectativa de vida, disponibilidade de alimentos, acesso à água limpa, mortalidade infantil, índices de alfabetização ou trabalho infantil - o bem-estar e a qualidade de vida estão melhorando em todo o mundo. E sabe quem está tirando melhor proveito disso? O pobre. É ele que está tendo o maior progresso em termos de padrão de vida, graças ao capitalismo e à tecnologia.

Allister Heath diz que o livro de Goklany é um compêndio extraordinário. Os ambientalistas radicais é que não vão gostar: seu pessimismo leva uma ducha fria quando o autor demonstra que, ao contrário do que se propaga na mídia, à medida que um país vai se tornando mais rico também se torna mais limpo e tem mais consciência em relação ao meio ambiente. A China de hoje que o diga: por causa dos Jogos Olímpicos de 2008, está correndo contra o tempo para “limpar” toda sujeira plantada pelos regimes comunistas.

Problemas no mundo? Muitos e sérios, reconhece o economista, como o estado de privação, doença e miséria em que vivem os povos da África subsaariana, Coréia do Norte e outras partes do mundo. Mas reconhecer a gravidade desses problemas não significa não reconhecer o enorme avanço felizmente registrado entre tantos outros povos. Para milhões de pessoas a extrema pobreza ficou no passado.

A humanidade nunca se alimentou tão bem: a porção diária de alimento nos países pobres aumentou em 38 por cento desde os anos 1960, para 2.666 calorias em média por pessoa por dia. E olha que a população desses países cresceu 83 por cento nesse período! “Esse é um progresso extraordinário que lacra, de vez, o caixão do Maltusianismo”, segundo Allister Heath.

Os preços dos alimentos caíram, em média, 75 por cento na segunda metade do século 20, graças à produtividade da agricultura e a um comércio mais livre entre os povos. Com isso, menos pessoas passam fome hoje no mundo. A taxa de subnutrição nos países pobres caiu pela metade, para 17 por cento, em contraste com a queda de um pouco mais de um terço 45 anos atrás. Em países ricos, destaca o artigo, o gasto com a cesta básica de alimentação despencou. O preço da farinha, do bacon e da batata, em comparação com a renda individual, baixou entre 82 e 92 por cento no último século; essa tendência está ocorrendo em países em desenvolvimento agora.

O fato é que: nunca antes na história da humanidade tantas pessoas ficaram livres da extrema pobreza tão rapidamente. Do final dos anos 70 para hoje, o número de pessoas ganhando US$1 por dia caiu de 16 por cento para 6 por cento; ganhando US$2 caiu de 39 para 18 por cento. Em 1980, 84 por cento da população mundial viviam em absoluta pobreza; hoje, um quinto da humanidade se encontra nessas condições.

A fome e a baixa expectativa de vida são problemas restritos agora a um pequeno número de países infelizes condenados a serem “mal governados por elites cleptocráticas ou que insistem em rejeitar o capitalismo e a globalização”, comenta o artigo.

Só há um jeito de garantir que os pobres dos países mais pobres tenham comida e agasalho: seus governos devem adotar a economia de mercado, sólidos direitos de propriedade, moeda estável, livre comércio e progresso tecnológico.

Para se ter uma noção do salto de qualidade de vida abordado no livro, um cidadão que nascia no território britânico na Idade Média se chegasse aos 30 anos de idade poderia se considerar uma pessoa de muita sorte. A expectativa média de vida era de 22 anos, antes que uma doença, a fome ou ferimentos levassem a pessoa embora. Lá pelos 1800s, graças à Revolução Industrial, a expectativa média de vida passou a ser de 36 anos –“um progresso jamais visto!”, comenta o autor – bem abaixo da média hoje dos países mais pobres ou arrasados pela guerra. Já nos anos 1950, o cidadão inglês vivia, em média, 69 anos. Hoje vive quase 78!

A expectativa de vida nos países mais pobres tem subido ainda mais rápido. Na China, saltou de 41 anos na última década de 50 para 71 anos hoje. Na Índia saltou de 39 anos para 63 anos, quase dobrando o tempo de vida de 2 bilhões de pessoas. Na média geral do mundo, em 1900 a expectativa era de 31 anos; hoje está superando os 67 anos.

Se compararmos a defasagem entre países ricos e países pobres, vamos nos assombrar como vem diminuindo. Nos 1950s, uma criança que nascesse num país próspero como a Inglaterra tinha 25 anos a mais de expectativa de vida do que uma criança que nascesse num país pobre como a Argélia. Hoje essa diferença se reduziu para 12,2 anos, graças à difusão de conhecimentos e à transferência de tecnologia no campo da saúde pública e aos avanços da medicina nos países ocidentais.

Não estamos apenas vivendo mais; estamos vivendo com mais saúde, não só nos países ricos, mas nos pobres também. A taxa de deficientes físicos nos países ricos encolheu significativamente; assim também a incidência de doenças crônicas, ao longo do século 20. Os doentes cardíacos vivem hoje mais 9 anos que no passado (apesar dos altos índices de obesidade); os que sofrem de doenças respiratórias ganharam mais 11 anos de vida (apesar da concorrência do cigarro); e os de câncer têm uma expectativa de vida de oito anos a mais.

Esses números têm um valor maior se considerarmos o lado negativo da vida moderna – as centenas de produtos quimicamente elaborados. Esses números derrubam o sempre repetido e incorreto refrão de que a poluição, a urbanização e a modernidade tornaram a vida mais perigosa. Antes da Industrialização, 200 em cada 1000 crianças morriam antes de completar um ano de idade. A mortalidade infantil hoje é de 57 para cada 1000 crianças, graças ao enorme progresso no campo da nutrição, higiene e assistência médica nos países em desenvolvimento.

As crianças não apenas vivem mais. Elas hoje passam mais sua infância na escola. O trabalho infantil ainda existe, mas está declinando consistentemente. Em 1960, um quarto de todas as crianças entre 10 e 14 anos trabalhava. Hoje, um décimo da população infantil trabalha. Como resultado, em parte, desse declínio, a taxa de analfabetismo caiu de 46 por cento em 1970 para cerca de 18 por cento hoje.

Em outro campo, os países em desenvolvimento tiveram grande progresso nos últimos 20 anos. Hoje, em muitos deles, as pessoas têm mais liberdade para escolher seus governantes e para expressar suas opiniões; esses países estão hoje mais propensos a aceitar a adoção do Estado de direito e seus cidadãos hoje estão menos dispostos a perder suas vidas, sua liberdade e suas propriedades pelos caprichos de um governante. Menos pessoas hoje labutam 18 horas numa mina; mais pessoas trabalham em escritórios e usufruem de férias.

O aumento da produtividade e o incremento tecnológico possibilitam hoje uma economia dos recursos energéticos, a redução na emissão de substâncias tóxicas como chumbo e dióxido de enxofre; proporcionam água potável mais limpa e melhor qualidade do ar. O articulista lembra que em dezembro de 1952 a grande poluição do ar em Londres que matou 4.000 pessoas agora é um mero dado histórico, assim como o Grande Fedor de 1858 quando o rio Tâmisa ficou tão poluído que os políticos britânicos tiveram que abandonar o Parlamento.

Mais dados: uma tonelada de carvão produz 12 vezes mais eletricidade nas modernas termoeletréticas do que 100 anos atrás. A intensidade de energia nos países ricos vem caindo na ordem de 1,3 por cento ao ano nos últimos 150 anos. Este ano, a demanda de petróleo em países ricos terá uma queda real, apesar do intenso crescimento econômico. Como a produtividade da terra aumentou barbaramente em relação à última década, os países do Ocidente hoje se podem dar ao luxo de substituir parte da terra destinada à agricultura por áreas de florestas.

Pode até ser que a mudança climática venha a incrementar problemas existentes como a malária, as enchentes nas zonas litorâneas e a perda de moradias, admite Goklany, mas nada disso justifica o alto grau de intervencionismo proposto no recente relatório de Sir Nicholas Stern.

Na relação custo-benefício, o que os países em desenvolvimento vão ganhar nos próximos 80 anos, com o ritmo mais rápido na promoção da qualidade de vida, vai compensar qualquer custo no aquecimento global.

Nossa melhor escolha, portanto, assegura Allister Heath comentando o livro de Goklany, é deixar que a tecnologia, o comércio e a economia global continuem a crescer sem impedimentos. E cita o economista: “se a atual taxa de desenvolvimento continuar, poderemos, em breve, estar morando num mundo onde a fome e a desnutrição tenham sido eliminadas de vez; onde a malária, a tuberculose, a AIDS e outras doenças infecciosas e parasíticas sejam resquícios na memória; e onde a humanidade possa ter suas necessidades atendidas mesmo devolvendo terra e água ao resto da natureza ... até mesmo na África subsaariana a mortalidade infantil pode ser tão baixa quanto é hoje nos EUA e a expectativa de vida pode ser igual’.

Allister Heath conclui: “A esperança é matéria prima rara nos dias de hoje no Ocidente. Ainda que tenhamos muito a progredir, nossa vitória sobre a fome e a pobreza extrema ao longo dos dois últimos séculos são as grandes conquistas da civilização. Está na hora de pararmos com a excessiva preocupação com o terrorismo, a criminalidade crescente, a migração populacional e todos os nossos outros problemas, para celebrarmos o que, de fato, conseguimos fazer de bom.”

O risco moral criado pelas regulamentações


Por Ron Paul



Desde que o pacote de socorro financeiro foi aprovado, é irritante ouvir a quantidade de "especialistas" que erroneamente culpam o livre mercado pelos nossos recentes problemas econômicos e que, consequentemente, clamam por mais regulamentações. Na prática, mais regulamentações podem apenas piorar ainda mais a situação.

É importante entender que reguladores não são seres oniscientes. Não é factível crer que eles têm a capacidade de antecipar cada coisa que possa eventualmente dar errado com qualquer que seja a indústria ou atividade que estejam regulando. Quando estão formulando suas regras, eles estão simplesmente adivinhando. E para aqueles que estão sendo regulados, é quase sempre impossível entender as inúmeras e complexas regras que eles supostamente devem obedecer.

Entretanto, as corporações muito ricas podem contratar advogados capazes de descobrir algumas brechas nas regulamentações e torná-las nulas e sem efeito. É por essa razão que as regulamentações pesadas favorecem as grandes empresas em detrimento das pequenas, que não podem bancar advogados caros. Consequentemente, são os pequenos empreendedores que, ironicamente, saem prejudicados pelas regulamentações.

O outro problema é a confiança que as pessoas cegamente colocam nas regulamentações, e todo o risco moral que isso cria. Muitas pessoas confiam tão completamente nos reguladores governamentais que elas abdicam de seu próprio senso comum em prol desses burocratas. Elas crêem que, se uma determinada coisa não viola lei alguma, então essa coisa deve ser segura. Quantas fraudes já foram vendidas sob o argumento de que "Isso é perfeitamente legítimo", seduzindo assim todos os ingênuos? Muitas pessoas, inclusive ninguém menos que Warren Buffet, não entendiam de fato como funcionavam os derivativos - um verdadeiro castelo de cartas financeiro -, mas como eles eram instrumentos legitimados pelo governo e que prometiam grandes retornos, as pessoas investiram neles. A mesma coisa ocorre em qualquer área onde o envolvimento do governo é pleno. Muitos acreditam que, se seus filhos estão tirando boas notas em alguma escola pública, então eles certamente estão tendo uma boa educação. Afinal, suas crianças estão passando pelo teste supremo determinado pelo estado... Mas, como sabemos muito bem, isso não é garantia alguma de excelência educacional. Da mesma forma, não é necessariamente verdade que uma criança que NÃO obtenha notas boas na escola estará fadada a uma vida de insucessos.

A sua água potável é segura só porque o governo diz que é? Será que a internet irá magicamente se tornar mais segura para seus filhos se o governo aprovar regulamentações sobre ela? Eu alertaria ferrenhamente qualquer família que acreditar que sim. Nada, absolutamente nada, substitui o bom senso, a responsabilidade própria e o zelo.

Esses princípios explicam por que o livre mercado funciona muito melhor do que uma economia centralmente planejada. Com o planejamento central, o julgamento próprio relativo a questões como segurança, conhecimento e benefícios relativos a algum tipo de comportamento é automaticamente entregue aos caprichos de burocratas do estado. A questão então passa a ser: "O que posso fazer para levar vantagens?". E sempre haverá vantagens para aqueles que podem pagar bons advogados que encontrem brechas no sistema.

Consequentemente, o resultado disso é que um comportamento nocivo, que em um livre mercado fracassaria de imediato, passa a ser estimulado, protegido e perpetuado. E pior: um comportamento correto passa a ser desencorajado.

Em suma: regulamentações podem na verdade beneficiar os grandes negócios e as grandes corporações, enquanto simultaneamente dizimam as pequenas empresas, que são a espinha dorsal de qualquer economia. No atual cenário de economia vacilante, isso seria arrasador. É por isso que eu fico irritado toda vez que alguém sai dizendo que mais regulamentações podem resolver a crise atual. Ao contrário, elas podem apenas piorar o cenário.

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Ron Paul é um congressista republicano do Texas e foi candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2008. Seu website: http://www.campaignforliberty.com/

Para entender o “martírio”

Um jornalista cita um homem-bomba palestino frustrado que disse que o que o levou a matar israelenses foi "o amor pelo martírio [...] Não queria vingança por nada. Só queria ser mártir”

Passagem->

“Qual é a atração do martírio?", perguntei. "O poder do espírito eleva-nos, enquanto o poder das coisas materiais puxa-nos para baixo", disse ele. "Uma pessoa determinada ao martírio torna-se imune ao empuxo material. Nosso mentor peguntou: 'E se a operação fracassar?'. Dissemos a ele: 'De qualquer maneira, conseguiremos nos encontrar com o Profeta e seus companheiros, oxalá'. "Flutuávamos, nadávamos na sensação de que estávamos prestes a entrar na eternidade. Não tínhamos dúvida. Fizemos um juramento sobre o Corão, na presença de Alá — a promessa de não vacilar. Essa promessa da jihad chama-se bayt al-ridwan, com o nome do jardim do Paraíso reservado aos profetas e aos mártires. Sei .que há outras maneiras de lutar a jihad. Mas essa é a melhor de todas. Todas as operações de martírio, se feitas em nome de Alá, doem menos que uma picada de mosquito!" S mostrou-me um vídeo que documentava o planejamento final da operação. Nas imagens granuladas, vi-o com outros dois jovens engajados num diálogo ritualístico de perguntas e respostas sobre a glória do martírio [...] Os jovens e o mentor então se ajoelharam e colocaram a mão direita sobre o Corão. O mentor disse: "Vocês estão preparados? Amanhã, estarão no Paraíso".

Voltaire captou bem há muito tempo: "Aqueles que são capazes de convencê-lo de absurdos são capazes de fazê-lo cometer atrocidades". Assim como Bertrand Russell: "Muita gente prefere morrer a pensar. Na verdade é isso o que fazem".

É entrevista com uma mulher-bomba.

"Decidi me tornar uma mártir porque esse é o sonho de todo menino e menina palestino vivendo nessa situação”


“É por isso que nos tornamos mártires, para defender nosso país".


“Tenho certeza de que este é o único caminho e é o caminho que amamos. Fomos criados para nos tornar mártires de Deus”


“Mártires, homens ou mulheres, tem de trabalhar em segredo, ninguém pode saber. Você tem de tomar muito cuidado para não dar nenhum sinal do que está prestes a fazer”.

“Tento não cometer erros para que possa estar pronta para o martírio"

Tanto o nacionalismo quanto a religiosidade, não passam de doenças infantis da humanidade.

Muita Calma Nessa Hora!


Rodrigo Constantino

“O aquecimento global não é o único assunto relevante, e com alguns cientistas fazendo cenários assustadores e dando declarações dramáticas simplesmente se fecha o diálogo vital sobre as prioridades sociais.” (Bjorn Lomborg)

Que o tema “aquecimento global” virou uma histeria parece evidente para qualquer um que ainda não perdeu o juízo. A razão e a calma desapareceram dos debates, onde prevalece o alarmismo irracional. Há muitos motivos e interesses que justificam esta postura, mas só temos a perder com ela. Neste contexto, o livro de Bjorn Lomborg, Cool It, torna-se uma leitura imprescindível, justamente porque foca com serenidade nos argumentos e fatos conhecidos, sem utilizar um apelo sensacionalista. Em resumo, o livro tenta despertar uma reflexão saudável num momento onde as emoções têm dominado o assunto. Qualquer um que é contra as medidas radicais pregadas pelos fervorosos ambientalistas passa a ser visto como um insensível, irresponsável e lacaio das indústrias poluidoras. Isso é prejudicial para o debate.

Antes de seguir com os principais pontos de Lomborg, que é autor também do excelente livro O Ambientalista Cético, é importante mencionar que ele acredita no aquecimento global e que a emissão de dióxido de carbono pelos homens é uma das causas deste aquecimento. Ou seja, ele não nega o aquecimento antropogênico, mas tenta mostrar que há muito alarmismo infundado e que outras prioridades estão sendo abandonadas em prol deste pânico irracional. Alguns cientistas negam o fator humano como causa do aquecimento, e creio que a ciência não pode calar dissidentes, pois o júri ainda não deu o veredicto final. Mas o livro de Lomborg é bastante útil, justamente porque ele é um dos que acredita no aquecimento causado pelos homens, e ainda usa os modelos do próprio IPCC para atacar as medidas defendidas por muitos ambientalistas. O meu ceticismo vai além, pois desconfio de todo modelo que alega ser capaz de previsões de fenômenos complexos como o clima num futuro muito distante. Basta observar a enorme taxa de erros dos especialistas no passado para ficar cético.

O principal ponto de Lomborg pode ser explicado com base naquilo que Bastiat já havia notado: existe aquilo que se vê, mas também existe aquilo que não se vê. Muitos tendem a focar apenas no mais visível, deixando de lado tudo o que não está imediatamente aparente. Todos apontam os inconvenientes do aquecimento global, por exemplo, mas ignoram que existem coisas boas provenientes dele. Já perguntaram para os escandinavos se uma temperatura mais elevada é realmente indesejável? Muitos falam das vítimas do calor, que morrem todo ano, mas deixam de lado as mortes causadas pelo frio. Além disso, Lomborg traz para o debate a idéia de custo de oportunidade, já que os recursos são escassos e devemos sempre focar nas prioridades. Vários ambientalistas parecem tratar seu negócio como o único relevante, e por isso o tom catastrófico, já que se o próprio planeta e os seres humanos correm o risco de extinção, parece natural que todos os esforços sejam direcionados para este problema. Mas será que é este mesmo o caso? Lomborg demonstra claramente que não, que as previsões mais alarmantes são totalmente infundadas, e que várias outras prioridades merecem maior atenção.

O caso dos ursos polares é sintomático para expor as falácias do eco-terrorismo. Alguns ambientalistas radicais chegaram a declarar que o urso polar será parte da nossa história, algo que nossos netos conhecerão apenas em livros. Várias pessoas já devem ter visto capas de revista ou jornal mostrando um urso polar no meio de geleiras derretidas, com dificuldade para sobreviver. No entanto, poucos sabem que a população de ursos polares tem aumentado na verdade. Eram cerca de cinco mil ursos na década de 1960, e atualmente existem 25 mil. O principal motivo é um rigor maior contra a caça. Contrário ao que poderíamos pensar, as populações em declínio vêm de áreas que estão esfriando nos últimos 50 anos, enquanto as populações crescentes estão em áreas mais quentes. Por que estes dados são ignorados pela imprensa e por muitos ambientalistas?

Na mais recente onda de calor que tirou milhares de vidas na Europa, inúmeros ambientalistas aproveitaram para apontar as desgraças do aquecimento global. Quando duas mil pessoas morreram de calor no Reino Unido recentemente, o estardalhaço foi ensurdecedor. Enquanto isso, a BBC discretamente expôs um documentário mostrando que umas 25 mil pessoas eram vítimas fatais do frio em cada inverno inglês, sendo que os invernos de 1998 a 2000 tiveram quase 50 mil mortes a cada ano. Na Europa como um todo, segundo Lomborg, cerca de 200 mil pessoas morrem por ano de excesso de calor. No entanto, algo como um milhão e meio de europeus morrem todo ano por excesso de frio. Por que ninguém fala disso? Lomborg acredita inclusive que o aquecimento global poderá ter um efeito líquido positivo em termos de perdas humanas. Muitos idosos sofrem com problemas respiratórios por causa do frio. Já perguntaram a estas pessoas se temperaturas mais elevadas são realmente indesejáveis?

Um dos principais alvos de Lomborg é o Protocolo de Kyoto, com metas ambiciosas e ao mesmo tempo irrealistas e até ineficientes. Lomborg questiona se o real objetivo é tornar a vida dos seres humanos melhor, ou apenas reduzir emissões de CO2. Muitas vezes parece que a meta final é apenas atacar as indústrias e o uso de combustível fóssil, talvez por motivos ideológicos. O ponto é que a adoção das medidas do Protocolo de Kyoto iria gerar pouco impacto positivo em relação ao aquecimento global, mas seria extremamente custoso para a humanidade. Há também uma completa desconfiança em relação à capacidade humana de se adaptar e avançar tecnologicamente. Aprendemos a produzir muito mais usando a mesma quantidade de energia. Um carro médio na América melhorou a distância percorrida por consumo de combustível em 67% desde 1973. A máquina de lavar ou o ar condicionado consomem a metade da energia consumida nas décadas passadas.

Os países que mais poluem em termos relativos são os menos desenvolvidos, como Índia e China, justamente porque o progresso capitalista ainda não chegou com força. A tendência é que o próprio avanço tecnológico vá demandando cada vez menos recursos para produzir a mesma quantidade de bens. Alguns ambientalistas parecem ignorar isso, ou mesmo desejar um regresso aos tempos medievais da pré-indústria. Será que a vida dos seres humanos era mais confortável antes do avanço industrial? Claro que não! Talvez a ideologia explique tanta gente ter abraçado o eco-terrorismo. Já que não podem mais condenar a industrialização capitalista por não produzir riqueza para todos, agora atacam a própria produção de riqueza em si, alegando que ela irá destruir o mundo. Os custos das medidas radicais propostas para redução de CO2 cairiam sobre os consumidores, especialmente os mais pobres. Poucos levam isso realmente em conta na hora de mergulhar na “cruzada moral” que se tornou a causa ambientalista.

Na verdade, medidas bem mais pontuais e baratas teriam um efeito muito melhor em comparação ao que o Protocolo de Kyoto defende. Mas não é provável que alguém ganhe o Prêmio Nobel da Paz defendendo a construção de diques ou a plantação de árvores. Soa bem mais grandioso defender a redução em até 60% das emissões de CO2, como fez Al Gore, ainda que esta meta seja inviável, pois geraria resultados catastróficos para a economia. Além disso, devemos sempre ter em mente a questão das prioridades. Algo como quatro milhões de pessoas morrem todo ano vítimas da desnutrição, três milhões morrem por causa do HIV e quase dois milhões perdem a vida por falta de água potável. Será que num mundo desses a prioridade realmente deveria ser o aquecimento global e os trilhões de dólares que a causa demanda? Será que não existem usos mais prioritários para esses recursos?

Acabar com os subsídios agrícolas no mundo desenvolvido, por exemplo, iria gerar um benefício fantástico para os mais pobres, estimado por alguns modelos na casa do trilhão de dólares. Curiosamente, muitos ambientalistas são também defensores do protecionismo comercial, para “proteger” empregos locais de eleitores. Será que a prioridade dessas pessoas é realmente o bem-estar da humanidade, especialmente dos mais pobres? A cruzada ambientalista pode fazer seus adeptos se sentirem bem, parte de uma causa moral superior. Mas a questão crucial é outra: queremos nos sentir bem, ou queremos efetivamente fazer o bem?

Entre os anos 900 e 1200 ocorreu um período quente conhecido como Período Quente Medieval, que reduziu o gelo no mar e tornou possível a colonização de áreas antes inóspitas, como a Groelândia. Os Vikings não resolveram chamar a terra desse nome, ligado à cor verde, por ironia. Não existiam indústrias ainda, para serem culpadas pela época mais quente. Em seguida, veio um período de esfriamento. O inverno mais rigoroso da França ocorreu possivelmente em 1693, que pode ter matado quase 10% da população francesa. Se estamos deixando para trás essa pequena era do gelo, parece natural vermos geleiras derretendo. Na verdade, as geleiras vêm se reduzindo há séculos, e há muito pouco o que o corte na emissão de CO2 pode fazer para mudar isso. Ainda assim, a Groelândia parece ter passado do ponto mais quente desde 1940, e de fato esfriou até 1990. Não se escuta muito falar sobre isso. O ano mais quente no local foi 1941, e as décadas mais quentes foram 1930 e 1940. Por que não vemos ambientalistas comentando esses dados? Em contrapartida, vemos uma grande atenção voltada para a Antártica, especificamente a sua península, que está aquecendo. No entanto, a parte da Antártica que está se tornando mais quente representa apenas 4% do total da área, enquanto os demais 96% da Antártica se tornaram mais frio. O Pólo Sul viu sua temperatura declinar desde o começo das medições, em 1957. Quantas pessoas lêem sobre isso na imprensa?

O aquecimento global e por tabela os homens são acusados pelos furacões violentos agora também. No entanto, a própria World Meteorological Organization (WMO), ligada à ONU, reconhece que nenhum ciclone tropical individual pode ser diretamente atribuído à mudança climática. Além disso, a WMO entende também que o recente aumento do impacto social dos ciclones se deve basicamente à maior concentração da população nas áreas atingidas. Existem duas vezes e meia mais gente no mundo hoje do que em 1950, e cada um é, na média, três vezes mais rico. As áreas de encosta cresceram ainda mais em termos relativos. Parece natural que o estrago de ciclones, tanto em termos de riqueza quanto de vidas perdidas, tende a ser maior atualmente. Se o furacão que atingiu Miami em 1926 ocorresse hoje, com a mesma intensidade, ele seria o maior na história americana em termos de estragos. No entanto, vemos vários ambientalistas usando o Katrina como “evidência” dos estragos crescentes do aquecimento global. Não é uma postura muito científica. Além disso, medidas menores, como diques e barreiras eficientes, podem gerar um resultado bem melhor do que o corte na emissão de CO2 proposto pelo Protocolo de Kyoto. Infelizmente, propor a construção de diques não tem o mesmo glamour que abraçar uma “missão salvadora” do planeta, ainda que a primeira opção efetivamente possa salvar bem mais vidas.

O alarmismo é bem antigo quando se trata do clima, assim como o uso do homem como bode expiatório. Na Europa medieval, as “bruxas” eram queimadas pela Inquisição acusadas de criar o mau tempo. A culpa pelos verões úmidos das décadas de 1910 e 1920 foi atribuída à Primeira Guerra Mundial, com extensivo uso de disparos, e ao início do rádio transatlântico. A revista Science Digest publicou em 1973 que o mundo estava prestes a congelar, e que se nada fosse feito logo seria tarde demais. Em 1975, a capa da respeitada Science News tinha uma foto de Nova York tomada por uma geleira, alertando que uma nova era do gelo havia começado. Isso tem pouco mais de 30 anos apenas, e o pânico do momento era o esfriamento global. O discurso de catástrofe iminente conquista muitos seguidores, mas não deve ser a língua da ciência.

Modelos frios que usam o conhecimento limitado dos especialistas no presente já não deveriam ser encarados sem ceticismo ou desconfiança, pelo simples fato de que não somos capazes de antecipar o futuro com tanta precisão. Hayek já havia notado que o conhecimento é disperso e que o futuro é sempre incerto, especialmente quando se trata de fenômenos complexos. É perigoso depositar poder demais no conhecimento dos especialistas de determinado assunto, quando eles mesmos sabem apenas uma pequena parcela do todo. Mas mesmo assim, segundo Lomborg, os estudos com peer-review calculam os estragos do aquecimento global em cerca de 1% do PIB, e seus custos em cerca de 2%. Gastar dois dólares para conseguir economizar um dólar não parece uma decisão sábia do ponto de vista econômico. Sem dúvida existem outras formas melhores de gastar esses recursos.

A politização do IPCC não ajuda também. Como coloca o cientista Richard Lindzen, do MIT, os dissidentes do alarmismo climático viram os fundos de pesquisa desaparecer, e foram vítimas de todo tipo de injúria. Não se faz ciência séria desta forma. Mas, infelizmente, o tema do aquecimento global é perfeito para políticos oportunistas, que falam aos corações dos eleitores, enquanto jogam os custos para longe de seus mandatos. Há muita hipocrisia no tratamento do assunto, como no caso onde um governo prega a urgente necessidade de uma drástica redução na emissão de CO2, ao mesmo tempo em que inaugura um novo aeroporto. Os políticos adotam discursos vazios, defendendo medidas radicais e absurdas porque sabem que elas não serão adotadas de fato. O que é positivo, pois seus efeitos seriam terríveis para a economia. O Terceiro Mundo, por exemplo, ainda tem algo como um bilhão e meio de pessoas sem acesso à eletricidade. O uso de combustível fóssil é crucial para essa gente, para o seu desenvolvimento econômico. Vetar o consumo de combustível ou exigir a sua substituição por alternativas bem mais caras é o mesmo que condenar essas pessoas à completa miséria. Será que a sensação confortante de fazer parte de uma cruzada moral justifica este resultado concreto? Vamos condenar centenas de milhões à pobreza eterna para que Al Gore receba um Prêmio Nobel da Paz, enquanto consome sozinho mais combustível fóssil do que milhares de africanos juntos?

Os debates em torno do tema adquiriram ares de seita religiosa, com muitos fanáticos atacando os “hereges” que pedem mais calma e razão neste momento. Alguns chegaram a propor medidas legais contra os dissidentes, assim como existe para quem nega a existência do Holocausto. Se depender dessa turma, seria crime negar o aquecimento global ou suas previsões catastróficas! O que aconteceu com o bom senso das pessoas? A histeria não ajuda em nada na tomada de decisões. É preciso esfriar a cabeça quando o assunto é aquecimento global. Além disso, confiar demais nas medidas políticas nunca foi algo muito sábio. Faz mais sentido acreditar na capacidade dos indivíduos de se adaptarem, de inovarem e criarem novas técnicas eficientes de produção. O mundo não saiu da era medieval para a modernidade por conta de planos mirabolantes de políticos, mas sim pelo funcionamento do livre mercado. Políticos raramente acertam na hora de definir prioridades, e quase nunca acertam nas medidas escolhidas para atacar as prioridades também.

Se os políticos tivessem tomado medidas radicais com base nas previsões de Malthus, o mundo seria outro hoje, muito pior. Na década de 1970, o Clube de Roma fez previsões catastróficas sobre os recursos naturais, alertando que o petróleo, por exemplo, estava prestes a acabar. E se os governos tomassem medidas radicais com base nessas previsões erradas? Existem vários exemplos onde especialistas previram desgraças de forma infundada, e se o governo criasse planos rígidos com base nessas estimativas, a humanidade perderia muito. Portanto, vamos lembrar isso tudo, e evitar os discursos sensacionalistas e as previsões apocalípticas, pois isso em nada auxilia as tomadas de decisão. Quando o assunto for o aquecimento global, é preciso esfriar a cabeça, antes de tudo.

Obama Communist Flag In Office!

Obama bandeira comunista no escritório!

O Obama andou lendo 'Deus, um Delírio'?

Entrevista com Patrick Moore


“A energia nuclear é boa para o planeta”

Um dos fundadores do Greenpeace explica por que “virou a casaca” no debate sobre o aquecimento global

O consultor canadense Patrick Moore, de 60 anos, gosta de ser identificado como um dos fundadores do Greenpeace – uma das organizações ambientais mais influentes do mundo. Mas os ambientalistas hoje preferem usar outros termos para se referir a Moore. “Eco-Judas” é a versão bem-humorada. “Lobista da indústria nuclear”, a mais comum. A querela começou quando o consultor deixou o Greenpeace, em 1986, e passou a defender os temas que antes combatia: da segurança da energia nuclear à dos transgênicos. Moore diz que a energia nuclear é uma das saídas para as mudanças climáticas porque os reatores não emitem gás carbônico, principal responsável pelo aquecimento da Terra. “Tento influenciar na educação das pessoas”, diz.



QUEM É
É porta-voz da Coalizão pela Energia Limpa e Segura, aliança mantida pela associação da indústria nuclear americana

FORMAÇÃO
Estudou Biologia Florestal na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, onde também fez doutorado em Ecologia

O QUE FEZ
Na década de 1970, foi um dos fundadores do Greenpeace, que deixou em 1986. Fundou a consultoria privada Greenspirit Strategies

ÉPOCA – Quando o senhor integrava o Greenpeace, escreveu que “as usinas nucleares são a invenção mais perigosa da humanidade”. Hoje, as defende publicamente. Por que mudou de opinião?

Patrick Moore – No Greenpeace, nós achávamos que tudo o que era nuclear era ruim. Acreditávamos que a energia nuclear estava inevitavelmente ligada às armas atômicas. Mas é só reparar que os reatores que produzem energia não são usados para matar pessoas. Na verdade, reatores são usados até na medicina para produzir medicamentos que tratam milhões de pessoas. Muitas tecnologias podem ser usadas para o bem ou para o mal. Você pode voar em um avião para promover uma missão de paz ou para destruir uma cidade com uma bomba.

ÉPOCA – O senhor não se diz um alarmista a respeito do aquecimento global, mas o usa como argumento para defender a energia nuclear. Não é uma contradição?

Moore – Não acho que eu esteja me contradizendo. Não contratamos seguro contra incêndio para nossas casas mesmo sem saber se elas pegarão ou não fogo? Acho difícil prever quais serão as conse-qüências do aumento da temperatura do planeta no futuro. Mas acredito que, se quisermos reduzir nossas emissões de gás carbônico, teremos de reduzir nossa dependência dos combustíveis fósseis.

ÉPOCA – A energia nuclear é considerada cara e, em muitos países, conta com subsídios governamentais para chegar a um preço razoável aos consumidores. Ela é financeiramente viável?

Moore – Comparada com as outras fontes de energia, a nuclear é mais cara que a hidrelétrica. E também é mais cara que a eletricidade gerada em termelétricas movidas a carvão. Mas ainda é mais barata que a eletricidade produzida com gás natural. E, com certeza, muito menos cara que a energia solar.

“O Greenpeace faz uso de minha história e não o contrário. Quem trabalha hoje lá está usufruindo da organização que ajudei a construir”

ÉPOCA – O senhor tem dados para comparar os preços de cada tipo de energia?

Moore – Não dá para colocar em números exatos. No caso das hidrelétricas, depende de onde o reservatório for construído. Cada usina nuclear também é um caso único: depende de quanto tempo vai demorar a construção, de qual era o preço dos materiais no período etc. Tudo o que eu posso dizer é que, em 21 países, 15% ou mais da eletricidade é gerada em usinas nucleares. Na França, chega a 80%. A Eslováquia, por exemplo, não é um país rico, e 66% de sua eletricidade vem de usinas nucleares. A razão pela qual esses países contam com a energia nuclear é que ela tem um preço bastante razoável comparado ao de outras tecnologias.

ÉPOCA – Como resolver o problema do armazenamento do lixo nuclear se, desde que a primeira usina entrou em funcionamento, na década de 1950, na Rússia, ainda não há no mundo um abrigo definitivo para o combustível usado?

Moore – A França e o Japão já conseguem dar um destino final para seu lixo nuclear. Eles estão reciclando o combustível usado para reaproveitá-lo nos reatores. O combustível conserva 95% de seu potencial energético mesmo depois de usado uma vez.

ÉPOCA – Alguns especialistas consideram esse reprocessamento muito arriscado. Depois de usado no reator, parte do urânio se transforma em plutônio, que pode ser usado para fazer bombas. É seguro lidar com esse material?

Moore – No Japão, o plutônio é misturado novamente ao urânio dentro do equipamento que faz a reciclagem. Assim, não é possível construir bombas. Mas eu não estou tão preocupado com os terroristas se eles se apossarem desse material porque não sabem construir bombas. Agora, países como a Coréia do Norte e o Irã podem contratar cientistas para isso. Mas ainda é mais fácil para eles comprar centrífugas para enriquecer o urânio que usar o material reprocessado.

ÉPOCA – Por que não usar o dinheiro gasto nas usinas nucleares para desenvolver fontes alternativas de energia que não oferecem os perigos da nuclear?

Moore – A energia solar e a energia eólica não dão conta de abastecer toda uma rede elétrica. Além disso, de onde viria a energia quando não houvesse sol e quando parasse de ventar? Porque não faz sol e não venta o tempo todo. Sou a favor de usar primeiro o potencial hidrelétrico. Mas, uma vez que ele tenha se esgotado, defendo a energia nuclear em seguida.

ÉPOCA – O senhor tem alguma ligação com a indústria nuclear?

Moore – Eu sou um dos diretores da Clean and Safe Energy Coalition (Coalizão pela Energia Limpa e Segura), junto com Christine Todd Whitman, que já foi diretora da agência americana de proteção ambiental. Somos como porta-vozes. Queremos convencer o público americano de que a energia nuclear é decisiva para reduzirmos nossas emissões de gases do efeito estufa. A coalizão é mantida financeiramente pelo Instituto de Energia Nuclear, a associação da indústria nuclear nos Estados Unidos.

ÉPOCA – Seus críticos o chamam de lobista. O senhor é lobista?

Moore – Eu não sou lobista. Eu nem sei como fazer lobby. Eu falo com muitos políticos, mas não faço lobby para modificar leis. Essa é a função do Instituto de Energia Nuclear. Um lobista diz “nós queremos uma legislação assim para poder ter dinheiro para a indústria nuclear”, ou algo do tipo. Eu não tento influenciar a lei. Eu tento influenciar as políticas ambientais. E tento influenciar na educação das pessoas.

ÉPOCA – O que o senhor quer dizer com políticas ambientais? Isso faz parecer que é lobby.

Moore – O que quero dizer com políticas ambientais é que eu sou a favor da energia nuclear. Todo mundo sabe disso. Quando converso com os políticos, é mais para trocar informações. Eu diria que não sou lobista, eu sou um comunicador. Eu diria que o Greenpeace é que é lobista. Porque são eles que sempre estão tentando emplacar leis. Eu sou mais um ativista que faz campanhas para a sociedade em geral.

ÉPOCA – Fica claro para o público que o senhor é pago pela indústria nuclear?

Moore – Em todos os artigos que escrevo na imprensa eu sempre coloco um rodapé com minha identificação: “Patrick Moore trabalha como consultor para governos e indústrias”. Mas, muitas vezes, os editores cortam essa parte. Mas eu nunca escondo essa informação. E, mesmo que eu tentasse esconder, todo movimento ambiental está espalhando isso por aí.

ÉPOCA – O Greenpeace acusa o senhor de usar o nome da organização, mais de 20 anos após deixá-la, para conseguir marketing e credibilidade. O senhor já pensou em parar de se identificar como um dos fundadores do Greenpeace?

Moore – Eles dizem que eu estou usando comercialmente minha história no Greenpeace. Mas são eles que a estão usando. Quem trabalha hoje no Greenpeace é que está usufruindo da organização que eu ajudei a construir.

A Escrava Wal-Mart


Rodrigo Constantino

“São os consumidores e não os empresários que determinam o que deve ser produzido.” (Mises)

No livre mercado, são os consumidores quem mandam, determinando o que deve ser produzido pelas empresas que competem em busca de lucro. A maior garantia de bom atendimento, variedade de produtos, preços baixos e qualidade está justamente na livre concorrência, ausente de barreiras artificialmente criadas pelo governo. Tudo isso é bastante evidente e lógico, mas, infelizmente, as décadas de lavagem cerebral marxista impedem uma compreensão maior destes fatos. Suas vítimas passaram a encarar os empresários como inimigos exploradores, o lucro como pecado, e o governo como uma espécie de “deus protetor”, que irá cuidar dos consumidores impedindo a “exploração capitalista”. As empresas grandes passam a ser as maiores vilãs nessa mentalidade distorcida.

Mesmo os americanos não estão livres dessa inversão, e a Wal-Mart, pelo seu gigantismo, costuma ser o alvo preferido dessa turma. Por isso é tão pertinente citar alguns trechos da entrevista concedida ao The Wall Street Journal pelo equatoriano Eduardo Castro-Wright, que assumiu a presidência executiva da divisão americana da Wal-Mart Stores há três anos. Uma parte da entrevista foi traduzida e publicada no jornal Valor, mostrando como as mudanças feitas pelo presidente têm colaborado para um crescimento maior da empresa. Logo no começo, Castro-Wright diz: “Fornecer uma boa experiência de compra começa com oferecer opções de produtos que os consumidores merecem, a manutenção de um espaço asseado e ter associados (funcionários) simpáticos, para que os clientes queiram voltar”. Ou seja, logo de cara vemos que o principal foco da empresa está voltado para o cliente, com a meta de propiciar uma compra agradável e com os produtos realmente demandados.

A Wal-Mart já era conhecida pela sua política de preços baixos, e o presidente reforça este objetivo: “Primeiro, tivemos de reforçar nossa liderança em preços baixos. Precisávamos perguntar a nós mesmos qual era a nossa filosofia e ela era mais do que apenas garantir um preço baixo, mas sim ajudar as pessoas a economizar e assim melhorar suas vidas”. Novamente, fica claro que a empresa é uma parceira de seus clientes, com interesses alinhados. Se os consumidores podem economizar, ficam satisfeitos, e retornam para comprar novamente na loja. Cliente feliz é cliente bom. A Wal-Mart entende isso: “O plano então contou com tudo, de melhorias na sinalização visual das lojas, para que as pessoas pudessem encontrar as coisas mais facilmente, a investimento em tecnologia para agilizar os caixas”. A Wal-Mart é conhecida pelos seus pesados investimentos em tecnologia. Se as filas nos caixas são mais rápidas, a loja vende mais, e os clientes ficam mais satisfeitos. Novamente, os interesses estão alinhados.

Apesar de seu tamanho, com faturamento de US$ 240 bilhões apenas nos Estados Unidos, a Wal-Mart não passa de uma escrava dos consumidores, tendo que buscar sempre atender da melhor forma possível a demanda. Castro-Wright explica: “Aprendemos que fornecer escolhas ao cliente não tem a ver com mais produtos, mas produtos selecionados cuidadosamente e nos quais os clientes estão interessados”. Isso faz todo o sentido, naturalmente. Afinal, hoje a empresa é um gigante, justamente por focar tanto nos clientes. Mas nada impede que amanhã outra empresa consiga superar a Wal-Mart no atendimento aos consumidores. O capitalismo, como Schumpeter já tinha notado, é um processo dinâmico, com uma “destruição criativa” que garante o progresso rumo aos produtos mais desejados pelos consumidores e aos métodos mais eficientes para produção destes.

O tamanho não é garantia de vida eterna para empresa alguma. Existem várias provas disso, como o caso da IBM, por exemplo, que perdeu bastante terreno para empresas novas como a Microsoft e Intel, e foi forçada a se reinventar para sobreviver. Na verdade, poucas empresas existem há mais de um século, justamente por causa desse processo dinâmico do capitalismo. O sucesso depende da escolha dos consumidores. São esses que possuem o poder de decidir quem ganha e quem perde, num plebiscito ininterrupto chamado “mercado”. As empresas precisam lucrar para sobreviver, e o lucro depende dos consumidores. No livre mercado, as empresas não passam de “escravas” dos consumidores. Estes não precisam do governo para protegê-los. Precisam apenas da livre concorrência, possível justamente quando o governo não se mete para garantir privilégios e criar barreiras artificiais. A imagem perante os clientes é um dos mais valiosos ativos de uma empresa, que depende da confiança para prosperar. Alguém realmente acredita que a Wal-Mart não vende alimentos podres por causa da vigilância do governo, e não por causa dos próprios interesses e foco no lucro?

O que o governo deve fazer para proteger o consumidor é justamente deixá-lo em paz para escolher livremente de quem comprar aquilo que é desejado. Se o “Zé da Quitanda” não tem condições de competir com a Wal-Mart para oferecer produtos melhores e preços menores, o governo não deve protegê-lo da “competição predatória”, pois isso seria feito apenas à custa dos consumidores. No capitalismo liberal, vence quem consegue melhor atender a demanda, e essa é a maior proteção que os consumidores podem ter. O caso da Wal-Mart ilustra isso de forma perfeita: a empresa possui um valor de mercado acima de US$ 200 bilhões, mas é apenas uma escrava de seus consumidores.

Lula prepara (de novo) o golpe de Estado do terceiro mandato

Se isso prosperar, voltamos à escuridão política

Desde que foi criado, há 28 anos, o PT vem sendo chamado pelos intelectuais liberais de a “UDN de macacão”. Esse apelido, inventado pelo professor Cláudio Lembo, tinha por objetivo ironizar o falso-moralismo e a histeria denuncista demonstrados pelos petistas –obviamente até estourar o escândalo do mensalão. Pois agora o PT apresenta uma outra característica daquela velha UDN do brigadeiro Eduardo Gomes: a atração atávica por golpes de Estado.

Pois o presidente Lula voltou a se movimentar pelo terceiro mandato. Ano passado ele ensaiou a idéia duas vezes. No primeiro semestre, a Executiva do PT discutiu abertamente o plano de promover um plebiscito para a adoção do parlamentarismo – com Lula, de novo, com a força do povo, evidentemente. No segundo semestre Lula colocou na rua o bloco que pregava o terceiro mandato. Diante da reação dura da oposição, Lula recuou e fechou um acordo com a ministra Dilma Roussef. Lula lança Dilma candidata à sucessão. Em troca, Dilma se comprometeu a só ficar no poder um único mandato, caso seja eleita, abrindo espaço para a volta de Lula em 2014.

A ISCA DE LULA

Nesta semana Lula esteve em Buenos Aires, à frente de 264 empresários. Levou também alguns políticos, entre eles o deputado federal Devanir Ribeiro, do PT paulista, autor da emenda do terceiro mandato. Devanir não ficou entre os colegas políticos, mas se inseriu estrategicamente na comitiva de empresários.

Devanir pertence ao baixo clero da Câmara, mas não é um deputado qualquer. Ele faz parte da bancada pessoal do presidente. É amigo de Lula desde os anos 70, quando os dois foram diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. No Congresso, se presta ao papel de ventríloco informal do presidente. O que ele diz, é compreendido como recado de Lula que não pode ser enviado pelos canais formais.

Em Buenos Aires, o deputado estava em missão acintosa do Planalto. Puxou assunto com vários empresários sobre o governo Lula. E sobre como seria bom que o presidente pudesse continuar por mais tempo no poder. Lula sondava o capital a procura de peixes graúdos dispostos a morder a isca. Devanir era a isca de Lula. Nem sabia direito quem era quem. Apenas foi colocado ali, como atrativo aos tubarões.

Na segunda-feira 4 de agosto, Devanir se viu cercado de quatro empresários de peso, sendo dois deles diretores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp. Foram eles que puxaram assunto sobre a emenda do terceiro mandato – segundo relatou Devanir, já de volta a Brasília, em conversa reservada com um petista amigo. Durante essa conversa, os empresários teriam dito a Devanir que a melhor saída para o Brasil, no atual cenário, é continuar com Lula. E pediram a ele que reapresente sua emenda constitucional, que volte a falar abertamente sobre o terceiro mandato, porque há centenas de grandes empresários dispostos a apoiar a idéia – e a convencer seus deputados e senadores a votar na emenda.

Devanir fala a verdade. Pelo menos no essencial. Confirmei com dois empresários que estavam em Buenos Aires que a tese do terceiro mandato foi correu solta entre eles. Há capital graúdo a fim de manter Lula. Entre eles, estariam Paulo Skaf, presidente da Fiesp, Armando Monteiro Neto, presidente da CNI, Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, Jorge Gerdau, do Grupo Gerdau, Abílio Diniz, do Pão de Açúcar, e Márcio Cypriano, presidente do Bradesco.

Na quarta-feira 6 de agosto, quando Lula seguia para a China e a comitiva política estava de volta a Brasília, a tese do terceiro mandato retornava às conversas de bastidores do Congresso Nacional.



OS TRÊS FATORES DE RISCO

Um fato novo e dois antigos estão levando Lula mudar de planos e a preparar um golpe constitucional:

1) O fato novo é um possível terceiro mandato para o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia. Quando Lula ensaiou a mudança constitucional, ano passado, o precedente externo era Hugo Chávez, da Venezuela. Se a tese fosse aprovada por aqui, seria inevitável a comparação de Lula e Chávez pelos analistas de Wall Street, algo péssimo para nossos negócios. Agora é diferente. Uribe é o maior aliado dos Estados Unidos no continente. Está derrotando com armas em punho os narco-terroristas das Farc. Uribe busca o terceiro mandato. Se passar na Colômbia, não haverá mais resistência dos aliados ocidentais para que o terceiro mandato seja adotado também para Lula.

2) Outro fato é que a popularidade de Lula prossegue batendo recordes em cima de recordes por conta dos programas sociais e de uma condução correta da economia. A última novidade, anunciada na terça-feira 5 de agosto, é que a classe média agora representa 51% da população, um fato histórico espetacular, admita-se.;

3) O terceiro fato é que a oposição, capitaneada pelo PSDB, continua cada vez mais perdida. Não consegue apresentar programa de governo alternativo. E muito menos dá sinais de conseguir se unir em torno de um candidato único ao Planalto. Enfim, estamos sem oposição.

DUBIEDADE PRESIDENCIAL
Quando a idéia do terceiro mandato tomou fôlego pela primeira vez, em setembro de 2007, Lula agiu com dubiedade. Em áudio público, o presidente condenou a idéia. “Esse negócio de achar que tem pessoas que são imprescindíveis e insubstituíveis não existe em política”, disse na época. “A alternância de poder é uma coisa extremamente importante para o fortalecimento da democracia.”

Mas nos bastidores, Lula fazia de tudo para tirar de cena todos os possíveis candidatos da base do governo, como Marta Suplicy (leia detalhes logo abaixo) -- enquanto nada faz para conter os defensores do terceiro mandato. Naquela investida, Devanir era apenas um dos defensores da idéia. “Nunca toquei nesse assunto diretamente com Lula”, jura Devanir a todos que perguntam. Ele, no entanto, faz a ressalva. “O Lula nunca me desautorizou. Nem me repreendeu.”

Ora, ora, se Lula efetivamente não pensasse em terceiro mandato, teria intimidade para barrar a iniciativa de Devanir. Eles dividiram uma cela no Dops, quando Lula foi preso com base na extinta Lei de Segurança Nacional. Juntos, fundaram o PT. Quando Lula chegou ao poder, ajudou Devanir a se eleger deputado federal. As duas famílias se freqüentam e Lula e Devanir costumam se encontrar nos finais de semana. “Já perdi a conta de quantas vezes estive no Alvorada”, diz o deputado.

Para o senador Arthur Virgílio, líder do PSDB, o presidente está agindo com dubiedade nesse assunto. “Ele diz que não quer, mas deixa correr solta a articulação pelo terceiro mandato.”

BRUXARIAS NO CALDEIRÃO
Lula de fato está sendo estimulado por um grupo de auxiliares que privam de sua intimidade a desejar (e a trabalhar) o terceiro mandato. De acordo com duas autoridades com acesso às conversas secretas do Planalto, o plano para que Lula permaneça mais tempo no poder é cozinhado em dois caldeirões.

O primeiro é de pura bruxaria política. Sua solução exige mudança da Constituição e vai direto ao ponto – o terceiro mandato consecutivo em 2010. Eis então o projeto de Devanir: apresentar quando o momento político aprouver uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dando direito ao presidente da República de convocar plebiscitos. Hoje, só o Congresso pode fazê-lo. Se a proposta vingar, Lula estaria livre para consultar o povo sobre seu direito de concorrer de novo.

E essa aprovação, por si só, emparedaria as vozes contrárias no Congresso e no Supremo Tribunal Federal. Além disso, o “sim” ao terceiro mandato funcionaria como uma pré-eleição, minguando as forças da oposição para a disputa oficial em 2010.

Além do amigo Devanir, outros dois deputados estão dispostos a mostrar o rosto no projeto Lula-2010: Carlos Willian, aliado do PTC de Minas, e Cândido Vaccarezza, do PT de São Paulo. A proposta de Carlos Willian, imaginada ainda em 2007, é de zerar todo o jogo eleitoral, criando o direito de Lula e dos atuais governadores de concorrer mais uma vez. William argumenta que é do interesse de todos, inclusive para o Aécio Neves, que quer ser presidente, mas ainda não mostrou seu trabalho.

O caso da emenda de Vaccarezza é um pouco mais contraditório do ponto de vista político. Ela propõe a adoção do parlamentarismo. Sob um novo regime de governo, Lula teria o direito de concorrer a presidente. “Não se pode falar em golpe, pois são propostas dentro do jogo democrático”, justifica Vaccarezza.

OS ÁULICOS DO PLANALTO
Três dos assessores mais próximos do presidente já se engajaram no projeto do terceiro mandato em 2010: o ministro Luis Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência, o assessor especial Marco Aurélio Garcia e o chefe-de-gabinete Gilberto Carvalho. Dentro do PT, participam da articulação Ricardo Berzoini, o deputado Antônio Palocci e o ex-ministro Luís Gushiken, que ainda é influente. A corrente de José Dirceu sempre foi contra.

Nenhum deles aceita falar publicamente sobre o assunto, é óbvio. Todos sabem que qualquer uma dessas emendas é uma ruptura sem paralelos da Constituição de 1988 e uma medida de força que atenta contra a normalidade democrática do Brasil.

A ESTRATÉGIA PARLAMENTARISTA

Pertinente recordar que o primeiro plano de prorrogar o mandato de Lula surgiu em abril de 2007, dentro da Executiva do PT. A idéia era adotar o parlamentarismo, reelegendo Lula presidente, quantas vezes fosse possível --e criando a alternância de poder com um primeiro-ministro. O plano logo foi substituído por outro, o do terceiro mandato presidencialista, que agrada muito mais a Lula. De qualquer forma, a estratégia do parlamentarismo não está enterrada, apenas hibernando. E o que significa isso?

Ora, ora, só há uma expressão possível para classificar tal manobra: golpe de Estado. A Constituinte de 1988 estabeleceu um plebiscito, em 1993, para que todos os brasileiros decidissem qual o regime e o sistema de governo queriam para o Brasil. Monarquia ou República? Presidencialismo ou parlamentarismo? Na ocasião, o PSDB de Fernando Henrique se engajou pelo parlamentarismo. O PMDB, como sempre, se dividiu. O PFL de Marco Maciel e o PT de Lula entraram de cabeça na campanha pelo presidencialismo. Deu República presidencialista na cabeça, por quase 80% dos votos.

O DEFENSOR DO POVO

Em 2006, quando se planejava a campanha de Lula à reeleição, o presidente do PT Ricardo Berzoini encomendou uma pesquisa qualitativa sobre a imagem do presidente. Descobriu-se que o eleitor o via como uma espécie de ombudsman, o defensor do povo num governo ruim. Lula seria um homem bom, que tenta fazer o possível para que um governo de homens corruptos e incompetentes ajude os pobres.

Enfim, aquela pesquisa detectou que o eleitorado estaria predisposto a adotar um sistema similar ao parlamentarismo, desde que o chefe de Estado fosse Lula – e o chefe de governo pouco importa, pode ser qualquer um. Hoje o cenário é um pouco diferente. Lula está muito mais popular. E seu governo, ainda por cima, é visto como muito bom.



POR QUE É GOLPE

A adoção do parlamentarismo, em si, até poderia ser bom para o Brasil. A maior parte dos estudiosos do tema avalia que seja o sistema político mais democrático existente, o que mais acelera a redução das desigualdades e o desenvolvimento econômico. Vide o exemplo da Europa. Argumentam até que a principal república presidencialista do mundo, os Estados Unidos, em verdade teria um sistema presidencial-parlamentarista, com um Executivo e Legislativo interdependentes.

Em teoria, também não haveria problema algum um país em construção, como é o caso do Brasil, rever uma decisão já tomada no Plebiscito de 1993 e, eventualmente, dar uma guinada parlamentarista.

Mas o que se discute é o casuísmo da hora. As teses do parlamentarismo e do terceiro mandato não estão sendo levantadas dentro do contexto da reforma política necessária –aí sim, seria uma discussão legítima.



ANÕES CÍNICOS DA HISTÓRIA

Ademais, a tese da prorrogação do mandato está sendo patrocinada por figuras menores do petismo, que gostariam de se eternizar no poder. Dentro do PT, os costureiros são o deputado Devanir Ribeiro, metalúrgico da facção lulista, o deputado Cândido Vacarezza, porta-voz de José Dirceu, Carlos William, do tal PTC, ou dirigentes petistas como Rui Falcão, da sub-facção de Marta Suplicy. Outro que já aderiu a causa é o deputado Virgílio Guimarães, de Minas, que há três anos tentou ser presidente da Câmara e provocou o desastre chamado Severino Cavalcanti.

O argumento deles é de um cinismo comovente. Segundo Devanir e Vacarezza, Lula seria um parlamentarista desde criancinha. No plebiscito de 1993, ele até teria defendido esse sistema nas conversas internas do PT, mas como o PT decidiu-se pelo presidencialismo, Lula, democrata que é, então se engajou de corpo e alma na defesa do presidencialismo. Mas agora, diante da realidade dinâmica dos fatos, Lula poderia se engajar de bom grado em outra tese.



QUE FALTA FAZ UM PETISTA VIÁVEL

A principal razão pela qual Lula e o PT querem mudar as regras do jogo é que o partido não tem uma barbada para apresentar em 2010. José Dirceu fez de tudo para ser o sucessor de Lula –mas foi abatido no caminho. Antônio Palocci também. Tarso Genro não se mostrou com densidade eleitoral, nem Patrus Ananias. Então Lula tirou Dilma da manga da camisa. E agora Fernando Haddad, o jovem ministro da Educação, ensaiar por as mangas de fora.

Mas nenhum deles parece ser capaz de derrotar Ciro Gomes, do PSB, ou os tucanos José Serra e Aécio Neves. Restou Marta Suplicy, candidata de Dirceu –mas não de Lula. Ele vai lutar para que ela seja eleita prefeita de São Paulo. Presidente da República, contudo, jamais!



DILMA, A ALTERNATIVA CONSTITUCIONAL

Desde que foi reeleito, em 2006, Lula emite todos os sinais de que não quer ajudar o PT a construir um candidato petista para sua sucessão. “Tudo indica que o candidato de Lula chama-se Lula”, aposta o cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília “Até porque o PT não tem outro”. Foi então que Lula acabou chegando a uma nova idéia chamada Dilma Roussef.

Vale lembrar que por volta de outubro de 2007 a idéia do terceiro mandato tornara-se politicamente inviável. Foi então que Lula encontrou uma alternativa de retornar ao poder, mas com base nas atuais regras do jogo. Por esse plano, Lula voltaria a disputar a sucessão em 2014.

A idéia contemplava a possibilidade de o presidente apoiar Ciro Gomes, num acordo para que ele ficasse apenas quatro anos. Numa reunião no Planalto, chegou-se à conclusão de que seria difícil tal acerto ser respeitado. Ao mesmo tempo, a direção do PT avisou que, nesse caso, o partido teria nome próprio para 2010. Lula então conversou com Dilma, auxiliar que jamais disputou uma eleição. Ela aceitou a empreitada. Ficou então fechado que Dilma seria a candidata de Lula em 2010. E, se eleita, Lula seria o candidato de Dilma em 2014.

Mas agora há fatos novos. Dilma não passa dos 7% nas pesquisas. Lula dá sinais de que caminha para índices de popularidade num patamar próximo a 80%. A oposição está em pandarecos. E por fim vem o fator Álvaro Uribe e seu terceiro mandato apoiado pelos americanos.



A LONGA NOITE HOBBESIANA
O Brasil tem uma história golpes, notadamente os militares, aquele fenômeno que o cientista político Oliveiros Ferreira, da USP, chama de “longa noite hobbesiana” -- uma escuridão que durou século e meio, iniciada em 1821, quando as tropas do Exército no Rio de Janeiro obrigaram o príncipe regente Pedro de Alcântara a substituir o ministro da Guerra, e que se prolongaria até 1985, quando o último general-presidente do regime de 64, João Figueiredo, deixou o Palácio do Planalto pela porta dos fundos.

Foram pelo menos 15 as intervenções políticas dos militares em momentos decisivos da história brasileira. A 16ª tentativa, a derradeira, quando então coronel-ministro César Cals pregou a prorrogação do mandato de Figueiredo para impedir que Tancredo Neves tomasse posse, não colou. Os deputados Devanir e Vacarezza são os César Cals do PT.

Desde a redemocratização em 1985, não tivemos tentativas de golpes de Estado, somente dois casuísmos –os cinco anos de mandato para José Sarney, e a reeleição para Fernando Henrique Cardoso. Parece que Lula também quer deixar sua marca negativa na história.

 
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