Três viva aos contrabandistas

Walter E. Williams



Durante os dias da União Soviética, relógios suíços eram ilegais. Na era da Lei Seca americana, a venda, fabricação e importação de bebidas alcoólicas eram ilegais. E nas grandes navegações da Inglaterra altos impostos e altas tarifas, e restrições sobre as mercadorias vendidas para as colônias americanas levou a guerra da Independência de 1776. O tema comum em todos esses atos é o governo pretende interferir, regulamentar ou proibir a troca voluntária pacífica entre os indivíduos. Eu não vejo nada de errado com as pessoas usando relógios suíços, ou em tomar uma bebida ou adquirir o chá de um produtor holandês, em vez de um produtor Inglês. Mas, muitas vezes as pessoas no governo acham que sabem melhor que os próprios indivíduos que li é conveniente, e eles usam a força bruta do governo [coerção] para dificultar troca voluntária e pacífica.

E assim surge o meu herói, o traficante, para o resgate. Ele é o cara que, com efeito, nos diz: "Eu sei que o governo não quer que você tenha um Martini ou um copo de vinho, mas posso conseguir isso para você." Ele poderia ter que executar operações clandestinas, e chantagem e corromper funcionários públicos, que acrescenta custo ao produto -, mas pelo menos você tem a bebida. Antes de olharmos para nossas atitudes quanto aos contrabandistas, poderíamos considerar que alguns dos homens que celebramos a cada quatro de julho, como John Hancock estava envolvido em contrabando. Você diz: "Qual é a lição da história, Williams?” De acordo com uma reportagem intitulada "Big Tobacco's Next Legal War” em 31 de julho no Newsweek.com, há um florescente comércio de cigarros contrabandeados. As empresas de tabaco fabricar legalmente os seus produtos e vendem legalmente para os varejistas nacionais e estrangeiros. Depois disso, o cigarro pode mudar de mãos várias vezes antes de acabar nas mãos dos contrabandistas. Contrabandistas podem induzir os cidadãos da Califórnia ou de Nova Iorque que: "O governo está rasgando meu dinheiro, fazendo-me pagar R $ 4,50 por pacote de cigarros. Dê-me um pacote de $ 2,00 e você pode dar ao luxo de tragar um cigarro” Em minha opinião, esse cara é um herói. Mas aqui está o problema. Mesmo que não haja nenhuma justificativa moral para a extorsão de impostos federais e estaduais, dos governos aos fumantes, a maioria dos fumantes se arrependerá, porque são pessoas respeitadoras da lei. Quase por definição, as pessoas que se envolvem com o contrabando têm menor respeito pelas leis em geral. Estas são pessoas que não medem o uso da violência na resolução de litígios. E não medem esforços em corromper funcionários públicos por meio de intimidação, suborno ou pagamentos. Outlaws (fora da lei) são os principais beneficiários do ataque nacional contra os fumantes. Um par de semanas atrás, as autoridades federais indiciaram 18 pessoas por contrabando de cigarros para fora da Carolina do Norte, um estado com os impostos de cigarros baixos para o Michigan, onde os impostos são mais elevados. Os federais chegaram a encontrar um cigarro de contrabando na “sala de guerra" do edifício Raleigh, da Carolina do norte. Incrivelmente, ate os federais são alvo dos fabricantes de cigarros e do contrabando. Vamos analisar as perspectivas. Os britânicos não tiveram sucesso em parar nossos fundadores de comprar produtos contrabandeados. Eliot Ness e sua equipe de E.U. Do departamento de Justiça, os agentes não tiveram sucesso em parar o nosso país de se embebedarem. A guerra nacional contra as drogas foi um fracasso total, não só em termos de não eliminar o comércio de drogas, mas também na transformação de bairros inteiros em zonas de guerra. Há alguma razão para acreditar que a guerra do governo contra cigarros contrabandeado vai ser mais bem-sucedida? Enquanto continuamos no assunto, vou insistir em mais duas perguntas: Será que a guerra contra os fumantes de cigarros vale a criação do crime de corrupção para funcionários públicos que está se tornando parte integrante do contrabando de cigarros? E ainda mais importante: é o ataque sobre os fumadores de cigarros mais vale banalização da nossa Constituição e Estado de Direito?

Ayn Rand nos Simpsons




Maggie Simpson fala pela segunda vez

Caridade Privada - Milton Friedman




[...]Não há almoço grátis... O principio fundamental da sociedade livre e a cooperação voluntaria.- Milton Friedman

O Desafio Goldcorp

"O principio fundamental da sociedade livre e a cooperação voluntaria." - Milton Friedman

A Goldcorp é uma companhia de mineração canadense, que estava à beira da falência e que não conseguia encontrar mais reservas de ouro em sua mina, localizada em Red Lake, no noroeste de Ontário. Rob McEwen, presidente e diretor-executivo da Goldcorp inc, com sede em Toronto, havia desencadeado a corrida do ouro ao fazer um desafio global: mostraremos a vocês todos os nossos dados sobre a mina de Red Lake se vocês nos disserem onde provavelmente encontraremos as próximas 6 milhões de onça de ouro. O premio: um total de Us$ 575mil, com uma recompensa máxima Us$105mil.



A comunidade de mineração ficou chocada. Com a idéia de expor seus dados super secretos ao mundo. A cultura na época era a de que as informações a respeito das prospecções eram sigilo absoluto, e não deveriam ser compartilhadas. Principalmente pra uma indústria conservadora e muito privada, o segredo era seu lema e fazer aquilo era algo totalmente não convencional.

Mas McEwen sabia que a competição, que ele chamou de “Desafio Goldcorp”, tinha grandes riscos. Antes de tudo, ela expunha à empresa a oferta hostil por controle. Mas os riscos de continuar a fazer as coisas da maneira antiga eram ainda maiores. "A mineração é uma das atividades industriais mais antigas da humanidade", diz McEwen. "Mas uma descoberta mineral é como uma descoberta tecnológica. Existe o mesmo enriquecimento rápido enquanto o aumento de expectativa melhora a rentabilidade. Se pudéssemos achar ouro mais rapidamente, poderíamos realmente aumentar o valor da empresa.”

O mercado de ouro estava em baixa. Os custos de operar uma mina eram altos. Os mineiros entraram em greve. McEwen até recebeu uma ameaça de morte. Mas o novo proprietário sabia que a mina tinha potencial. McEwen acreditava que o minério de alta qualidade encontrado na mina vizinha, que estava presente em partes da faixa de 222 quilômetros quadrados de Red Lake — só precisa encontrá-lo. Sua estratégia começou a tomar forma num seminário no MIT em 1999. Presidentes de empresas de várias partes do mundo estavam ali para aprender sobre avanços em tecnologia de informação. A atenção do grupo acabou se voltando para o sistema operacional Linux e a revolução do código aberto. "Eu disse 'Código aberto' É isto que eu quero!‘“, lembra-se McEwen em seu raciocínio se pudesse atrair a atenção de grandes talentos mundiais para o problema de encontrar mais ouro em Red Lake, assim como o Linux fizera para atrair grandes programadores para a causa do software melhor, poderia aproveitar milhares de mentes às quais normalmente não teria acesso. Também poderia acelerar a exploração e melhorar suas chances de descoberta.

Logo em março de 2000, numa reunião da indústria, McEwen revelou o Desafio Goldcorp numa pagina na internet. A resposta externa foi imediata. Mais de 1.400 cientistas, engenheiros e geólogos de cinqüenta países entre elas alunos de pós-graduação, consultores, matemáticos e oficiais militares, todos querendo uma parte do prêmio. baixaram os arquivos com os dados da empresa e começaram a exploração virtual. Quando os dados deles começaram a chegar, o painel de cinco jurados ficou impressionado com a criatividade do que fora enviado. No final, foram identificados 110 alvos de exploração, dos quais 50% não haviam sido identificados previamente pela empresa e mais de 80% dos novos alvos produziram quantidades significativas de ouro. Resultado de tudo isso o vencedor foi uma associação de dois grupos da Austrália: Fractal Graphics, de West Perth, e Taylor Wall & Associates, de Queensland. Juntos, eles haviam desenvolvido uma poderosa descrição gráfica da mina em três dimensões (3-D).

Para McEwen, o contexto em si era uma mina de ouro. "Perfuramos quatro dos cinco principais alvos do vencedor e atingimos ouro em todos os quatro", diz ele. "Mas o que é realmente importante é que, de um lugar remoto, os vencedores foram capazes de analisar uma base de dados e gerar alvos sem sequer visitar o terreno. Ficou claro que isto é coisa do futuro." O Resultado de tudo isso, a empresa saltou de um faturamento de U$100 milhões para U$ 9 bilhões e suas ações saltaram de cem dólares em 1993 para mais de U$ 3 mil hoje.

O Vencedores do Desafio Goldcorp 2001, Archibald e seus companheiros dividiram um grande prêmio de US$ 105 mil por sua apresentação detalhando alvos prováveis para encontrar ouro. "Nunca estive na mina", diz Archibald. "Nunca estive no Canadá." Archibald quando soube do concurso, viu ali uma oportunidade para sua empresa, especializada na produção de modelos 3-D de minas... Embora o prêmio em dinheiro, que a equipe de Archibald dividiu com a Taylor Wall & Associates, mal tenha coberto o custo do projeto, a publicidade impulsionou os negócios da firma. "Teria demorado anos para obtermos o reconhecimento na América do Norte que esse projeto nos deu da noite para o dia", diz Archibald.

Bem essa é só mais uma das inúmeras respostas possíveis desenvolvidas em comunidades que nos é apresentada em tempo de globalização e de colaboração global(terceirização).Que se manifesta em ambiente livre.

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(Fonte: Wikinomics,Como a Colaboração em Massa Pode Mudar o Seu Negócio - Don Tapscott; O Mundo é Plano: uma Breve História do Século XXI - Thomas L. Friedman)

Download: Obrigado por fumar (legendado)



Biografia: Thomas Szasz


por: Jim Powell

Nos Estados Unidos, o governo conseguiu mais controle direto sobre pacientes com doenças mentais do que jamais teve sobre os índios americanos ou sobre os escravos negros. Esses pacientes tiveram qualquer independência que possuíssem eliminada pela administração de drogas, eletrochoques, choques de insulina, lobotomias, e outros supostos tratamentos. Supostamente, essas pessoas sofrem de “doenças mentais”, que foram a justificativa para que maridos internassem esposas rejeitadas em instituições psiquiátricas, famílias largassem parentes embaraçosos, e comunidades encerrassem desviantes sociais. Embora o número de pessoas em hospitais psiquiátricos nos Estados Unidos tenha caído ao longo das últimas quatro décadas, o número de pessoas em outros programas pagos pelo governo e por seguros aumentou. Esses programas incluem hospitais da Veterans Administration, hospitais gerais, asilos, centros de reabilitação para dependentes químicos e alcoólatras, instalações de psiquiatria forense, conjuntos habitacionais estatais, pensões e abrigos, além das penitenciárias. O número de pessoas em todos esses lugares é estimado em um milhão.


Mais do que qualquer outra pessoa em tempos recentes, o psiquiatra Thomas S. Szasz expressou oposição à internação involuntária, e seus escritos inspiraram o movimento para restaurar as liberdades civis dos pacientes. “Em uma sociedade livre”, ele declarou, “não acredito que ninguém deva ser privado de sua liberdade por nenhuma razão que não seja acusação, julgamento e condenação por um crime... Os pacientes psiquiátricos nos Estados Unidos... sofrem amplas e graves violações de seus direitos constitucionais. Acredito que hoje são essas pessoas, mais do que os membros de grupos raciais ou religiosos específicos, os principais bodes expiatórios de nossa sociedade”. Ele acrescentou: “Os hospitais estatais tornaram-se notórios por negligenciar, e mesmo abusar, dos pacientes psiquiátricos. Há evidências de que o encarceramento em um hospital psiquiátrico pode ser mais prejudicial à personalidade do que o encarceramento em uma prisão”.

Szasz denunciou a teoria psiquiátrica de que “as decisões são, de alguma forma, secretadas pelo cérebro, assim como o açúcar é secretado pelos rins quando você tem diabetes. Não é uma decisão. Simplesmente sai. Bom, eu acredito em livre-arbítrio. Eu acredito que as pessoas não podem ser objetos apropriados de algum tipo de investigação determinista. As pessoas são capazes de fazer escolhas, e devem ser responsabilizadas de várias formas pelo que fazem na vida”.

Szasz recebeu muitas acusações quando os hospitais psiquiátricos estatais começaram a desinstitucionalização – repentinamente libertando grandes números de pacientes. Rael Jean Isaac e Virginia C. Arnat, em Madness in the Streets: How Psychiatry and the Law Abandoned the Mentally Ill [“Loucura nas ruas: como a psiquiatria e a lei abandonaram os doentes mentais”] (1990), alegaram que “ é a ideologia de Szasz que é verdadeiramente desumana”. Alan Dershowitz, professor de Direito na Universidade de Harvard, disse que “não se pode acreditar nos argumentos de Szasz”. O jornalista Pete Hammill, escrevendo para a New York Times Magazine, chamou Szasz de “maluco”. Mas a desinstitucionalização havia começado aproximadamente em 1955, oito anos antes do primeiro grande ataque de Szasz contra a internação involuntária. A desinstitucionalização foi principalmente uma consequência de pressões financeiras sobre os orçamentos dos estados. Muitos pacientes desinstitucionalizados não se adaptaram bem, pois seu espírito de independência fora destruído pela prolongada privação de liberdade, isolamento dos familiares e do trabalho, e os efeitos de truculentos “tratamentos” psiquiátricos.

Szasz falou por todos os perseguidos por causa de comportamentos desviantes pacíficos. Isso incluiu a leitura de livros proibidos, sexo não-ortodoxo, e ingestão de substâncias que as autoridades desaprovavam. “Na medida em que as pessoas têm características que as distinguem umas das outras”, insistiu ele, “a atitude realmente liberal e humana quanto a essas diferenças só pode ser a aceitação”.

A obra de Szasz tornou-se conhecida por todo o mundo, traduzida para o tcheco, o holandês, o francês, o alemão, o grego, o húngaro, o italiano, o japonês, o servo-croata e o sueco. Ele fez palestras em Harvard, Yale, Princeton, Columbia, a Universidade de Michigan, a Universidade da Califórnia (em Berkeley, Los Angeles e Sacramento), e outros campi nos Estados Unidos. Além disso, ele fez palestras em mais de uma dúzia de países. Entre os prêmios que recebeu estão o Prêmio Mencken e o Prêmio de Defesa dos Direitos dos Pacientes. O San Francisco Center for Independent Thought estabeleceu anualmente o Prêmio Thomas S. Szasz por Contribuições à Causa das Liberdades Civis.

Irving Louis Horowitz, professor da cátedra Hannah Arendt de sociologia e ciência política da Universidade Rutgers observou que “Essencialmente, a conquista de Szasz é a habilidade única de trazer para uma disciplina que, ao menos ostensivamente, orgulha-se de sua indiferença a ditames morais, precisamente um senso de moralidade – uma ética de responsabilidade... Quando todos, desde o traficante de rua até o presidente da universidade, podem alegar ser vítimas, é precisamente esse senso de responsabilidade ética que desaparece atrás de uma nuvem de fumaça psiquiátrica”.

Szasz é um homem magro, de um metro e setenta, que gosta de se vestir bem. Levou uma vida vigorosa, caminhando, jogando tênis e nadando quase todos os dias. Um repórter do jornal Philadelphia Inquirer ficou impressionado com a “intensidade emocional e vitalidade intelectual” de Szasz. A revista Cosmopolitan chamou-o de “um orador espirituoso e comovente, cujas opiniões incomuns – e ginásticas verbais – atraem grandes plateias”.

Donald Oken, ex-chefe de psiquiatria no Upstate Medical Center, em Syracuse, Nova York, disse ao New York Times: “Quando as pessoas ficam sabendo que eu era chefe do departamento onde Thomas Szasz trabalha, elas mal podem esperar para ouvir que histórias loucas e fantásticas eu tenho para contar. Você teria que conhecer Tom pessoalmente para entender o quanto essa ideia é ridícula. Ele soa polêmico quando escreve, mas ele não é assim. Ele é carinhoso e agradável – não tem absolutamente nada de extravagante. Ele veste um terno de flanela cinza-escuro todos os dias para trabalhar. Ele é basicamente uma pessoa conservadora”.

O historiador Ralph Raico escreveu que “Contra a corrente de uma cultura que o negaria, Szasz devolve propósito e escolha, certo e errado, ao mundo humano. Para os amigos da liberdade, ele é um dos mais importantes intelectuais vivos hoje”.

Thomas Stephen Szasz nasceu em Budapeste, em 15 de abril de 1920. Sua mãe foi Lily Wellisch, filha de um comerciante de cereais. Seu pai, Julius Szasz, havia estudado direito e era proprietário de alguns prédios em Budapeste. Julius era ateu, mas seu passaporte indicava que ele era judeu (os passaportes húngaros especificavam a religião ou ascendência do portador). Thomas tinha um irmão mais velho, George.

Havia uma parceria entre judeus e não-judeus, conforme explicou o historiador da Universidade de Columbia Istvan Deak: “Entre os anos 1840 e o início da primeira guerra mundial, a alta burguesia húngara e a elite social judaica haviam silenciosamente cooperado para modernizar a Hungria. Os judeus haviam se encarregado do desenvolvimento econômico, e a aristocracia e a burguesia haviam governado o país”. Os judeus ainda tinham de ter cuidado. O governante da Hungria era Miklos Horthy, que promovia o “nacionalismo cristão”, que significava anti-semitismo. A classe média gentia começou a exigir tratamento preferencial em detrimento dos judeus, e a legislatura de Horthy implantou cotas efetivamente limitando o número de judeus que poderiam ser admitidos nas universidades.

Szasz frequentou ótimas escolas, onde estudou latim, francês, alemão, matemática, física, história, e literatura húngara por oito anos. Em suas aulas de alemão, ele amava ler as obras de Friedrich Schiller, o grande dramaturgo alemão que defendia a liberdade. Szasz leu obras de Leo Tolstoy, o autor russo cujo trabalho expressava um espírito de individualismo. “Fui muito influenciado por Mark Twain”, acrescentou ele. “Amei Tom Sawyer e Huckleberry Finn. Queria ser escritor”.

Seu tio Otto era um matemático teórico que emigrou para Frankfurt, na Alemanha, onde era professor universitário. Quando Hitler chegou ao poder em 1933 e os professores judeus foram demitidos, Otto Szasz emigrou para os Estados Unidos e tornou-se professor e pesquisador na Universidade de Cincinatti. Quando ele visitava sua família em Budapeste, uma vez por ano, ele sempre falava sobre a América, que claramente era o melhor lugar para viver. Finalmente, em 1938, a família se preparou para deixar a Hungria. Por causa de restrições do governo que limitavam severamente a mobilidade, tiveram de fazê-lo aos poucos. Julius Szasz obteve um visto para a França, onde tinha parentes. Chegando a Paris, ele obteve um visto para a Holanda, e lá ele solicitou um visto americano. Naquela época, os Estados Unidos tinham cotas de imigração baseadas no local de nascimento do indivíduo. Julius era de uma cidade ao norte de Bratislava, no que se tornou a Tchecoslováquia. A cota para a Tchecoslováquia era pequena, mas muito poucas pessoas se candidatavam, e ele conseguiu o visto. Após chegar na América, ele pediu vistos preferenciais para sua esposa e seus filhos. Thomas e George então seguiram o mesmo caminho. Sua mãe veio um pouco mais tarde, depois de cuidar de negócios em Budapeste.

Thomas e George chegaram aos Estados Unidos em 25 de outubro de 1938, sem saber uma palavra de inglês. A irmã de sua mãe foi a seu encontro, e ajudou-os a chegar a Cincinatti, onde pretendiam encontrar Otto. Eles não podiam morar com ele, porque ele alugava apenas um quarto, mas ele conseguiu permissão para Thomas ouvir aulas na Universidade de Cincinatti, para que ele pudesse começar a aprender inglês. Thomas fazia trabalhos esporádicos, como motorista, por exemplo.

Otto conseguiu matricular Thomas na universidade. Ele estudou medicina, formando-se em primeiro lugar de sua classe e tornando-se cidadão americano. Durante esses anos, praticamente o único livro relacionado à liberdade que ele leu foi On Liberty [“Sobre a liberdade”], de John Stuart Mill. Ele fez um estágio de um ano no Boston City Hospital, e então tornou-se médico residente nas clínicas de Universidade de Chicago, e estudou psicanálise no prestigiado Chicago Institute for Psychoanalysis.

Enquanto isso, ele conheceu e se apaixonou por Rosine Loshkajian, uma assistente social armênio-albanesa de Chicago. Casados em 19 de dezembro de 1951, eles tiveram duas filhas. Margot, nascida em 1953, tornou-se dermatologista na Mayo Clinic. Susan, nascida em 1955, tornou-se bibliotecária na Universidade Cornell. Thomas e Rosine Szasz foram casados por dezenove anos, até seu divórcio em 1970.

Seu primeiro artigo acadêmico foi publicado em setembro de 1947 (sobre falha cardíaca congestiva), e durante anos ele escreveu artigos para conceituados periódicos médicos como Archives of Internal Medicine e American Journal of Psychiatry. Em 1956, ele foi nomeado professor de psiquiatria no State University of New York Health Science Center, em Syracuse, onde permaneceu. No mesmo ano, ele começou a escrever artigos que antecipavam os temas aos quais se dedicaria mais tarde. O primeiro livro de Szasz, Pain and Pleasure [“Dor e prazer”] (1957), ofereceu leves críticas da opinião psiquiátrica (médica) de que toda dor tem algum tipo de base física, que pode ser medicada. Um ano depois de conseguir estabilidade, ele publicou seu primeiro grande livro, The Myth of Mental Illness [“O mito da doença mental”] (1961). Ele o via como uma sequência natural de Pain and Pleasure, mas o livro chocou a comunidade psiquiátrica. Em The Myth of Mental Illness, ele defendeu que apesar de os psiquiatras rotularem certas formas de comportamento como doenças mentais, eles não são de modo algum comparáveis a uma doença causada por um vírus ou uma bactéria. Esses, explicou Szasz, poderiam causar uma doença no cérebro, mas não uma “doença mental”.

A doutrina da “doença mental” tinha sérias consequências. Em primeiro lugar, rotular comportamentos como doenças mentais significava deixar de considerar as pessoas responsáveis por seus atos. Assassinos, por exemplo, podiam evitar condenações alegando insanidade – após serem declarados “insanos” por um psiquiatra. Em segundo lugar, psiquiatras ganhavam o poder de internar pessoas involuntariamente em instituições psiquiátricas. Longe de serem o agente do paciente para ajudar no tratamento de uma doença física, os psiquiatras eram frequentemente agentes do Estado.

Após a publicação de The Myth of Mental Illness, Szasz testemunhou em defesa de John Chomentowski, um homem de Onondaga County, em Nova York, que havia disparado tiros de alerta contra “capangas” enviados por um construtor que queria tomar sua propriedade antes da data contratada. A polícia o prendeu, os psiquiatras do governo o pronunciaram mentalmente incompetente, e ele foi internado no Matteawan State Hospital for the Criminally Insane. “Szasz testemunhou em uma audiência de habeas corpus, em que Chomentowski tentava ganhar sua liberdade do confinamento”, relembrou o psiquiatra Ronald Leifer. “O julgamento, ao qual eu compareci, recebeu muita atenção dos círculos psiquiátricos, já que pela primeira vez Szasz estava em confronto direto com psiquiatras convencionais em um fórum público... Ele acreditava que hospitais psiquiátricos são prisões, e que, efetivamente, o sr. Chomentowski havia sido preso sem ter sido condenado por um crime. Ele traduziu o jargão dos psiquiatras do hospital do estado para linguagem comum, com efeito devastador”.

O comissário local de saúde mental, Abraham Halpern, enviou um protesto formal ao comissário de higiene mental do estado de Nova York, Paul Hoch, que ordenou que Szasz deixasse de ensinar no Syracuse Psychiatric Hospital. O Psychiatric Quarterly publicou um ataque, “Szasz for the Gander”. Dois compatriotas de Szasz foram demitidos, mas ele permaneceu em sua posição de professor porque ele resistiu, e tinha estabilidade.

Szasz expandiu seu ataque à doença mental em Law, Liberty and Psychiatry [“Direito, liberdade e psiquiatria”] (1963): “A noção de doença mental se baseia principalmente em fenômenos como a sífilis cerebral ou condições de delírios – embriaguez, por exemplo – nas quais as pessoas podem manifestar certos distúrbios de pensamento e comportamento. Falando corretamente, no entanto, são doenças do cérebro, e não da mente. Segundo uma escola de pensamento, todas as supostas doenças mentais são desse tipo. Pressupõe-se que algum defeito neurológico, talvez muito sutil, acabará por ser descoberto, e explicará todos os distúrbios do pensamento e do comportamento. Muitos psiquiatras contemporâneos, médicos e outros cientistas são desta opinião, que implica que os problemas das pessoas não podem ser causados por necessidades pessoais, opiniões, aspirações sociais, valores, etc., em contradição. Tais dificuldades – que penso que podemos chamar simplesmente de problemas do viver – são então atribuídas a processos fisioquímicos que em algum momento serão descobertos (e sem dúvida corrigidos) pela pesquisa médica... [mas] a crença de uma pessoa – seja no Cristanismo, no Comunismo, ou na ideia de que seus órgão internos estão apodrecendo e seu corpo já está morto – não podem ser explicadas por um defeito ou doença do sistema nervoso”.

A internação involuntária é pior do que ir para a prisão, destacou Szasz, porque os presos são libertados após cumprirem sua pena, se não antes, enquanto indivíduos em um hospital psiquiátrico estão condenados a lá permanecer indefinidamente, a critério dos psiquiatras. “Nem internistas nem obstetras nem cirurgiões operam instituições especiais para pacientes involuntários, nem a lei os autoriza a sujeitar pessoas a tratamentos que elas não querem”, Szasz escreveu. “O paciente psiquiátrico entra no hospital de uma entre duas maneiras: voluntariamente ou involuntariamente. É preciso enfatizar que em nenhum dos casos ele tem uma verdadeira relação contratual com o hospital. Qualquer que seja o modo de entrada, o paciente se encontra em situação de internação... Se um paciente entra em um hospital psiquiátrico voluntariamente, e com um acordo de que ele pode sair quando quiser, mesmo assim os psiquiatras podem recusar-se a dar-lhe alta... Entrada voluntária é na verdade internação voluntária. Em outras palavras, o papel do paciente psiquiátrico voluntário é uma mistura entre o papel de paciente médico e o de prisioneiro”.

E a opinião de que os indivíduos devem ser internados se são perigosos para si mesmos ou para a sociedade? “Em minha opinião”, escreveu Szasz, “a verdadeira questão não é se uma pessoa é perigosa. A questão é quem ela é, e de que forma ela é perigosa. A algumas pessoas é permitido ser perigoso para outros com impunidade. Além disso, à maioria de nós é permitido ser perigoso de algumas formas, mas não de outras. Motoristas bêbados são perigosos tanto para si mesmos quanto para os outros. Eles ferem e matam muito mais pessoas do que, por exemplo, pessoas com alucinações paranóicas de perseguição. No entanto, as pessoas rotuladas como paranóicas são prontamente internáveis, e os motoristas bêbados não são. Certos tipos de comportamento perigoso são até recompensados. Motoristas de corrida, trapezistas e astronautas recebem admiração e aplausos... Portanto, não é a periculosidade em geral que está em questão aqui, mas sim a maneira ou o estilo como uma pessoa é perigosa”.

Szasz desdenhava a alegação de que hospitais psiquiátricos têm qualquer capacidade de fazer os pacientes melhorarem: “Os efeitos danosos da hospitalização psiquiátrica sobre a personalidade do detento são demonstrados mais convincentemente pelo fato de que os chamados pacientes crônicos raramente tentam escapar. Pessoas confinadas em instituições psiquiátricas por períodos consideráveis perdem todas as habilidades sociais que tinham para sobreviver do lado de fora”.

Psiquiatras estrangulavam a responsabilidade individual não apenas internando as pessoas em instituições psiquiátricas contra a sua vontade, mas também declarando réus criminais insanos. O raciocínio vago e facilmente expansível da doença mental possibilitou que todo tipo de pessoa cometa crimes terríveis sem ser responsabilizada.

Law, Liberty and Psychiatry tornou Szasz uma figura polêmica, e ele começou a escsrever para publicações populares, incluindo New York Times Magazine, New York Times Book Review, Boston Sunday Herald, Atlantic Monthly, Harper’s, National Review, New Republic, e Science Digest. Alguns psiquiatras ficaram indignados. Manfred Gutmacher, um psiquiatra que ganhava dinheiro testemunhando em casos criminais, resmungou: “Um pássaro que suja o próprio ninho corteja as críticas”.

A psiquiatria ganhou impulso quando Thorazine e outros tranquilizantes tornaram-se amplamente disponíveis. Então vieram drogas antipsicóticas e antidepressivas. “Conforme novas gerações de medicamentos eram desenvolvidas”, explicou Ronald Leifer, “o tratamento farmacológico de doenças mentais parecia ter uma melhor relação custo-benefício e se tornava mais popular. Tornados mais confiantes pelas drogas, os psiquiatras expurgaram Szasz. Seus artigos não eram bem recebidos nos periódicos de psiquiatria. Seria praticamente impossível que alguém que compartilhasse de suas opiniões sobre ‘doenças mentais’ obtivesse um posto acadêmico em tempo integral ensinando residentes psiquiátricos”.

Mesmo assim, os psiquiatras não conseguiram provar que todo comportamento humano tem uma causa física que pode ser eficientemente tratada com medicação. A repórter de ciências Natalie Angier, do jornal New York Times, escreveu: “Cada vez que pensam ter descoberto um gene real e analisável para explicar um distúrbio mental como a síndrome maníaco-depressiva ou o alcoolismo, a descoberta se dissolve sob inspeção mais intensa, ou é posta em dúvida”. David Cohen, professor associado da University of Montreal School of Social Work, observou que “após quatro décadas de uso clínico de neurolépticos [drogas antipsicóticas], os seguintes fatos emergem de qualquer análise da literatura psiquiátrica contemporânea: os clínicos não concordam quanto ao que constitui uso racional de tais drogas; a dosagem ótima de qualquer neuroléptico é desconhecida; em metade dos pacientes, os sintomas não são suprimidos pelas drogas, ou são agravados; os efeitos das drogas são confundidos com sintomas psiquiátricos; apesar da falta de dados sobre efeitos terapêuticos ou tóxicos a longo prazo... o tratamento da psicose com drogas neurolépticas está, em nível teórico e prático, em estado de confusão”.

Em meio a toda essa controvérsia, Szasz escreveu quinze livros. Os mais notáveis incluem The Manufacture of Madness, A Comparative Study of the Inquisition and the Mental Health Movement [“A fabricação da loucura, um estudo comparativo da inquisição e do movimento pela saúde mental”] (1970); The Age of Madness, A History of Involuntary Hospitalization Presented in Selected Texts [“A idade da loucura, uma história da hospitalização involuntária apresentada em textos selecionados”] (1973); e The Therapeutic State, Psychiatry in the Mirror of Current Events [“O estado terapêutico, psiquiatria no espelho dos acontecimentos atuais”] (1984).

Szasz tornou-se ainda mais polêmico quando desafiou a sabedoria convencional e atacou o combate às drogas. Em seu livro de 1974, Ceremonial Chemistry [“Química cerimonial”], Szasz discutiu sete mil anos de história para mostrar que drogas sempre existiram, e sempre houve alguns que “abusaram” delas, mas quando os indivíduos são responsabilizados pelos danos que causam aos outros, o uso de drogas (e outros comportamentos danosos) é mantido sob controle.

A proibição das drogas revelou as gritantes contradições da interferência do governo na vida privada, destacou Szasz. Pessoas morrem por causa de impurezas em drogas ilegais, algo de que praticamente não se ouve falar quando as drogas são legais e seus fabricantes podem ser processados. Pessoas morrem em conflitos entre distribuidores de drogas que, por estarem envolvidos em uma atividade ilegal, não podem resolver suas disputas litigiosamente. Pessoas inocentes são assaltadas, têm suas casas roubadas e são assassinadas por usuários de drogas em busca de dinheiro para sustentar seu vício, porque ele é muito mais caro do que seria em um mercado aberto.

Szasz rejeitava a opinião de que os indivíduos são indefesos ante a dependência química e que a solução para o vício é minar a responsabilidade dos indivíduos por seus atos. Ele notou que todos os vícios podem ser difíceis de superar, mas as pessoas são dotadas de livre-arbítrio e têm a capacidade de mudar. Ele avisou que toda uma população viciada em governo é muito mais perigosa do que algumas pessoas viciadas em drogas. Ele expandiu o argumento em Our Right to Drugs [“Nosso direito às drogas”] (1992).

Durante toda a sua vida, Thomas Szasz demonstrou a coragem de defender seus princípios sozinho. Ele desafiou uma profissão poderosa e foi banido de publicações influentes; altas autoridades do governo fizeram todo o possível para arruinar sua carreira. Mas ele falou pelos mais vulneráveis entre nós. Ele defendeu os direitos iguais de pessoas que não têm voz porque estão trancafiadas em instituições psiquiátricas ou definhando em prisões pelo “crime” de ser diferente. Ele afirmou a compaixão da liberdade.
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http://www.ordemlivre.org/node/599

Enquete 2



Qual a melhor opção? Há 4 possíveis soluções para o conflito :

1) Image and video hosting by TinyPicOs árabes ficam com toda a terra

2) Image and video hosting by TinyPicOs judeus ficam com toda a terra

3) Image and video hosting by TinyPicUm Estado bi-nacional para judeus e árabes

4) Image and video hosting by TinyPicDois Estados para Dois Povos







Holocausto soviético e seus campos de concentração



As classes e as raças, fracas demais para conduzir as novas condições da vida, devem deixar de existir. Elas devem perecer no holocausto revolucionário.- Karl Marx

Introdução: EM DEFESA DE ISRAEL


Alan Dershowitz

uma visão mais ampla dos conflitos no Oriente Médio

A nação judaica de Israel é acusada pela justiça internacional. As incriminações incluem a de ser um Estado criminoso e violador dos direitos humanos, uma imagem especular do nazismo e de ser a barreira mais intransigente para a paz no Oriente Médio. Pelo mundo todo, das comissões da ONU aos campi das universidades, Israel é discriminado com condenações, despojamentos, boicotes e demonizações. Seus líderes são ameaçados de processos como criminosos de guerra. Seus amigos são acusados de dupla lealdade e provincianismo.



Chegou a hora de uma defesa proativa de Israel ser apresentada na corte da opinião pública. Neste livro apresento tal defesa – não de qualquer política ou ação israelense, mas do direito básico de Israel à existên¬cia. De proteger seus cidadãos do terrorismo e de defender suas fronteiras de inimigos hostis. Mostro que Israel há muito tempo deseja aceitar a existência de dois Estados, propostos no “mapa da estrada” para a paz, e que foi a liderança árabe que persistentemente se recusou a aceitar qualquer Estado judeu – não importa quão pequeno – nas regiões palestinas com maioria judaica. Também procuro apresentar um quadro realista de Israel, com seus defeitos, como uma democracia multiétnica florescente, em muitos aspectos parecida com os Estados Unidos, que oferece a todos os seus cidadãos – judeus, muçulmanos e cristãos – oportunidades e condições de vida muito melhores do que as oferecidas por qualquer nação árabe ou muçulmana. Acima de tudo, afirmo que todos que escolhem Israel como único alvo de uma crítica, que não é dirigida contra países com registros muito piores de violações de direitos humanos, são eles próprios culpados de intolerância internacional. Essa é uma acusação séria e eu a comprovo. Permitam-me esclarecer que eu não estou acusando todos os críticos de Israel de anti-semitismo. Eu mesmo tenho criticado políticas específicas e ações de Israel ao longo dos anos, como fi zeram quase todos os que apóiam Israel, praticamente todo cidadão israelense, e muitos judeus americanos. Mas também critico outros países, inclusive o meu, bem como nações da Europa, Ásia e Oriente Médio. Na medida em que a crítica é comparativa, contextual e justa, ela deve ser encorajada e não inibida. Mas, quando a nação judaica é a única a ser criticada por erros que são muito mais graves em outras nações, essa crítica atravessa a linha entre o certo e o errado, e vai do aceitável ao anti-semita.

Thomas Friedman, do New York Times, acertou quando disse que “criticar Israel não é anti-semitismo, e afirmar isso é mau. Mas condenar Israel por infâmia e sanção internacional – desproporcionalmente em re¬lação a qualquer outra parte no Oriente Médio – é anti-semitismo e não admiti-lo é desonestidade”.1 Uma boa defi nição usual de anti-semitismo é tomar uma característica ou uma ação largamente difundida, se não universal, e culpar apenas os judeus por ela. Foi isso que Hitler e Stalin fizeram e foi o que o antigo presidente da Universidade de Harvard A. Lawrence Lowell fez nos anos 1920 ao tentar limitar o número de judeus a serem admitidos em Harvard porque “os judeus trapaceiam”. Quando um aluno de destaque fez objeção a isso, argumentando que não-judeus também trapaceiam, Lowell respondeu: “Você está mudando de assunto; eu estou falando sobre judeus”. Da mesma maneira, quando aqueles que escolhem apenas a nação judaica para fazer crítica são questionados por que não criticam também os inimigos de Israel, eles respondem: “Você está mudando de assunto; estamos falando de Israel”.

Este livro prova não apenas que o Estado de Israel é inocente das acusações contra ele levantadas, mas que nenhuma nação na história que tenha enfrentado desafios semelhantes segue padrões mais elevados de direitos humanos, é mais sensível à segurança de civis inocentes, es¬força-se mais para seguir as leis ou tem estado mais disposta a assumir riscos pela paz. Esta é uma reivindicação audaz e eu a apóio com fatos e números, alguns dos quais vão surpreender aqueles que recebem in¬formações de fontes tendenciosas. Por exemplo, Israel é a única nação no mundo cujo sistema judiciário reforça ativamente a lei contra seus militares, mesmo em tempo de guerra.2 É o único país na história mo¬derna a devolver território disputado, capturado numa guerra defensiva e crucial para sua própria defesa, em troca da paz. E Israel matou menos civis inocentes, em comparação ao número dos seus civis mortos, do que qualquer país comprometido com uma guerra similar. Desafi o os acusadores de Israel a apresentar dados em apoio à sua afirmação de que, como foi dito por um acusador, Israel “é o exemplo primeiro dos violadores de direitos humanos no mundo”.3 Não serão capazes de fazê-lo.

Quando o melhor é acusado de ser o pior, o foco deve mudar para os acusadores que, eu afirmo, podem ser culpados de intolerância, hipocri¬sia ou, no mínimo, de uma ignorância abismal. São eles que devem estar no banco dos réus da história, junto com outros que também escolheram o povo judeu, sua religião, sua cultura ou a nação judaica para uma con¬denação sem igual e imerecida.

A premissa deste livro é que uma solução de dois Estados para as reivindicações palestinas e israelenses é, ao mesmo tempo, inevitável e desejável. A forma final precisa dessa solução é, naturalmente, objeto de muita disputa – como prova o fracasso das negociações de Camp David e Taba em 2000-2001 para alcançar uma solução aceitável por ambas as partes e pelas disputas em torno do “mapa da estrada” de 2003. Existem, na verdade, apenas quatro alternativas possíveis para um Estado judeu e um Estado palestino viverem em paz, lado a lado.

A primeira é a solução preferida dos palestinos, defendida pelo Hamas e outros, que rejeitam o direito de Israel existir (geralmente de-nominados de recusantes): especificamente exigem a destruição de Israel e a eliminação total de um Estado judeu em qualquer parte do Oriente Médio. A segunda alternativa é preferida por um pequeno número de fundamentalistas judeus e expansionistas: a anexação permanente da margem oeste e da faixa de Gaza e a expulsão ou integração dos milhões de árabes que atualmente habitam essas áreas. A terceira alternativa já foi a preferida dos palestinos, mas eles não mais a aceitam: algum tipo de federação entre a margem oeste e um outro Estado árabe (isto é, a Síria ou a Jordânia). A quarta, que sempre tem sido um pretexto para tornar Israel um Estado palestino de fato, é a criação de um único Estado binacional. Nenhuma dessas alternativas é aceitável atualmente. Uma resolução que reconheça o direito de autodeterminação por israelenses e palestinos é o único caminho razoável para a paz, apesar de não estar livre de riscos.

A solução de dois Estados também parece ser um dos poucos pontos de consenso para o conflito árabe-palestino-israelense que, de outra for¬ma, é um dilema insolúvel. Qualquer consideração razoável de como resolver pacificamente essa disputa prolongada deve começar a partir desse consenso. A maior parte do mundo atualmente advoga uma solução de dois Estados, incluindo a grande maioria dos norte-americanos. Uma maioria expressiva de israelenses, há muito, já aceitou esse compromisso. É hoje a posição oficial da Autoridade Palestina e dos governos do Egito, da Jordânia, da Arábia Saudita e do Marrocos. Apenas os extremistas entre os israelenses e palestinos, bem como os Estados recusantes da Síria, do Irã e da Líbia, desejam que todo território do que atualmente é Israel, a margem oeste e a faixa de Gaza sejam permanentemente controlados apenas por Israel ou apenas pelos palestinos.

Alguns opositores acadêmicos de Israel, como Noam Chomsky e Edward Said, também rejeitam a solução de dois Estados. Chomsky afi r¬mou: “Não creio que seja uma boa idéia”, apesar de reconhecer que pos¬sa ser “a melhor das várias idéias ruins que andam por aí”. Há muito, Chomsky tem preferido, e aparentemente ainda prefere, um Estado úni¬co binacional baseado nos modelos do Líbano e da Iugoslávia.4 O fato de ambos esses modelos terem falhado lamentavelmente e terminado em sangrento fratricídio é ignorado por Chomsky, para quem a teoria é mais importante do que a experiência. Said opõe-se fi rmemente a qual¬quer solução que deixe Israel existir como um Estado judeu: “Não creio numa solução de dois Estados. Creio numa solução de um Estado”.5 Como Chomsky, ele é a favor de um Estado secular binacional – uma solução elitista e impraticável que teria de ser imposta a ambos os lados, uma vez que virtualmente nenhum israelense ou palestino iria aceitá-la (exceto como trama para destruir a outra nação).

Com certeza, os resultados de pesquisas em favor de uma solução de dois Estados variam com o tempo, especialmente de acordo com as circunstâncias. Em períodos de conflito violento, mais israelenses e mais palestinos rejeitam o compromisso, mas a maioria das pessoas razoá¬veis percebe que, apesar do que indivíduos possam teoricamente esperar ou mesmo reivindicar como direito divino, a realidade é que nem israe¬lenses nem palestinos sairão ou aceitarão a solução de um só Estado. Conseqüentemente, a inevitabilidade – e correção – de algum tipo de compromisso de dois Estados é um começo útil para qualquer discussão que busque uma solução construtiva desse conflito perigoso e doloroso.

Um ponto de partida concordante é essencial porque cada parte dessa longa disputa inicia a narrativa de sua reivindicação relativa ao território em um ponto diferente da história. Isso não deveria ser surpre¬endente, uma vez que nações e povos em conflito geralmente escolhem como início de sua narrativa nacional o ponto que melhor serve para apoiar suas reivindicações e queixas. Quando os colonizadores ameri¬canos procuraram obter a separação da Inglaterra, sua Declaração de Independência deu início à narrativa com uma história de “repetidas injustiças e usurpações” cometidas pelo “rei de então”, tais como “taxa¬ção sem a nossa concordância” e “alojamento de muitas tropas armadas entre nós”. Aqueles que se opuseram à separação começaram sua narra¬tiva com os erros dos habitantes da colônia, como sua recusa em pagar determinados impostos e as provocações aos soldados ingleses. De modo similar, a Declaração de Independência de Israel começa sua narrativa com a terra de Israel sendo “o local de nascimento do povo judeu”, onde “eles pela primeira vez alcançaram a cidadania... e legaram ao mundo o eterno Livro dos Livros”. A genuína carta da Constituição palestina começa com a “ocupação sionista” e rejeita qualquer “reivindicação de ligações históricas ou espirituais entre os judeus e a Palestina”, a divisão da Palestina pela ONU e o “estabelecimento do Estado de Israel”.

Qualquer tentativa de desvendar as controvérsias históricas de dis¬putas complexas e, em última análise, não comprováveis dos extremistas israelenses e árabes somente conduz a argumentos não-realistas de ambos os lados. Evidentemente é necessário ter alguma descrição da história – antiga ou moderna – dessa terra e de sua demografia em constante mutação, nem que seja para começar a entender como pessoas razoáveis podem chegar a conclusões tão opostas a partir dos mesmos fatos básicos. A realidade, é claro, é de que há concordância em apenas parte dos fatos. Muito é defendido e considerado a verdade absoluta por alguns, enquanto outros crêem exatamente no contrário.

Essa disparidade tão acentuada de percepção resulta de vários fa¬tores. Às vezes é uma questão de interpretação de algum acontecimento. Por exemplo, quando chegarmos ao capítulo 12, veremos que ninguém nega o fato de que centenas de milhares de árabes que viviam onde hoje é Israel não vivem mais lá. Apesar de haver disputa sobre o número preciso, a maior discordância é se todos, a maioria, alguns ou nenhum desses re¬fugiados foi expulso de Israel. Se cada um partiu porque os líderes árabes lhe deram a ordem ou se houve alguma combinação desses e de outros fatores. Também há discordância sobre quanto tempo esses refugiados realmente viveram nos lugares depois abandonados, uma vez que a ONU definiu um refugiado palestino – ao contrário de qualquer outro refugia-do na história – como qualquer um que tenha vivido no território que se tornou Israel durante apenas dois anos antes de partir
Pelo fato de ser impossível reconstruir a dinâmica precisa e as con-dições que acompanharam a guerra de 1948, deflagrada pelos Estados árabes contra Israel, a única conclusão sobre a qual se pode ter absoluta certeza é que jamais alguém saberá – ou convencerá seus opositores – se a maioria dos árabes que abandonou Israel foi expulsa, abandonada ou sofreu alguma combinação de fatores que a levou de um lugar para outro. Recentemente, Israel abriu muitos dos seus arquivos históricos para os estudiosos, e novas informações conduziram a compreensões e interpre¬tações mais amplas, mas não terminaram – e jamais terminarão – com as discordâncias.
De modo similar, a maioria dos 850 mil judeus sefardis que viviam nos países árabes antes de 1948 foram para Israel, porque foram forçados a sair, abandonados ou experimentaram algum tipo de temor, tiveram al¬guma oportunidade ou foram em busca de um ideal religioso. Novamente,o movimento dinâmico e preciso da história jamais será conhecido, espe¬cialmente porque os países árabes dos quais saíram não mantêm registros e arquivos históricos ou recusam-se a fornecê-los.

Cada lado faz jus à narrativa que lhe é conveniente, embora re-conheça que outros possam interpretar os fatos de modo algo diferente. Algumas vezes a disputa é mais sobre a definição de termos do que sobre a interpretação dos fatos. Por exemplo, os árabes freqüentemente argumen¬tam que Israel recebeu 54% do território da Palestina apesar de apenas 35% dos residentes serem judeus.7 Os israelenses, por outro lado, argu¬mentam que os judeus eram uma clara maioria nas regiões da terra aloca¬da a Israel quando a ONU fez a partição do território em disputa. Como se vê, as definições precisas podem algumas vezes estreitar as disparidades.

Um outro ponto de partida deve incluir algum tipo de lei de caduci-dade para ressentimentos antigos. Assim como a questão a favor de Israel não pode mais basear-se exclusivamente sobre a expulsão dos judeus da terra de Israel no primeiro século, também a questão dos árabes não pode se basear com segurança em acontecimentos que supostamente ocorre¬ram há mais de um século. Uma razão para uma lei de caducidade é o reconhecimento de que, à medida que o tempo passa, se torna cada vez mais difícil reconstruir o passado com algum grau de precisão e as me¬mórias políticas endurecem e substituem os fatos. Como já foi dito, “há fatos e há fatos verdadeiros”.

Com relação aos acontecimentos que precederam a primeira Aliyah em 1882 (a imigração inicial de refugiados judeus europeus para a Palestina), existem mais memórias políticas e religiosas do que fatos reais. Sabemos que sempre houve uma presença judaica em Israel, princi¬palmente nas cidades santas de Jerusalém, Hebron e Safed, e que sempre houve uma pluralidade ou maioria em Jerusalém por séculos. Sabemos que judeus europeus começaram a se mudar para onde hoje é Israel em números significativos durante a década de 1880 – só pouco depois da época em que australianos descendentes de ingleses começaram a deslo¬car os aborígines australianos, e americanos descendentes de europeus começaram a se mudar para alguns territórios ocidentais, originalmente habitados por americanos nativos.

Os judeus da primeira Aliyah não deslocaram os residentes locais por conquista ou por intimidação, como fizeram os americanos e aus-tralianos. Legal e abertamente compraram terras – boa parte das quais considerada não-cultivável – de proprietários ausentes. Ninguém que aceite a Austrália como sendo legitimamente uma nação cristã de lín-gua inglesa, ou a América ocidental como parte dos Estados Unidos, pode questionar a legitimidade da presença judaica onde hoje é Israel, de 1880 até o presente. Mesmo antes da divisão feita pela ONU, em 1947, tratados e leis internacionais reconheceram que a comunidade judaica existia na Palestina como questão “de direito”, e qualquer discussão racional do conflito deve ter como premissa que o “conflito fundamental” é de “di¬reito com direito”. Tais conflitos são freqüentemente os mais difíceis de resolver, já que cada lado deve ser persuadido a comprometer-se com o que acredita ser uma absoluta questão de direito. A tarefa torna-se ainda mais desalentadora quando há alguns de cada lado que vêem a sua rei¬vindicação com base num mandato divino.

Inicio a questão a favor de Israel por uma breve revisão da histó¬ria do conflito entre árabes, muçulmanos e judeus e depois entre árabes, palestinos, muçulmanos e israelenses, com ênfase na recusa dos líderes palestinos em aceitar uma solução de dois Estados (ou duas pátrias) em 1917, 1937, 1948 e 2000. Focalizo os esforços pragmáticos de Israel para viver em paz dentro de fronteiras seguras, apesar dos repetidos es¬forços dos líderes árabes para destruir o Estado judeu. Saliento os erros de Israel, mas argumento que foram geralmente cometidos num esforço bem-intencionado (apesar de algumas vezes mal orientado) de defender a sua população civil. Finalmente, argumento que Israel procurou cumprir a lei basicamente em todas as suas atividades.

Apesar da minha forte crença de que deve haver uma lei de cadu-cidade para ressentimentos, levantar a causa a favor de Israel requer uma breve viagem ao passado relativamente recente. Isso é necessário porque a causa contra Israel, nos dias atuais sendo levantada em campi universi¬tários, na mídia e no mundo todo, baseia-se em distorções propositais dos registros históricos, a começar com a chegada dos primeiros europeus à Palestina, no final do século XIX, e continuando com a divisão feita pela ONU, o estabelecimento do Estado judeu, as guerras entre Estados árabes e Israel, culminando no atual terrorismo e nas reações diante dele. Os registros históricos devem ser bem estabelecidos para evitar a advertência do filósofo Santayana de que aqueles que não lembram o passado estão condenados a repeti-lo.

Cada capítulo deste livro começa com a acusação apresentada con¬tra Israel, citando fontes específicas. Respondo à acusação com fatos reais embasados em provas aceitáveis. Ao apresentar os fatos geralmente não me baseio em fontes pró-Israel, mas principalmente em fontes objetivas e, algumas vezes, para enfatizar algum ponto, em fontes anti-Israel.

Provo, sem sombra de dúvida, que as ações de Israel têm sido jul¬gadas por um duplo padrão pernicioso: que mesmo quando Israel foi o melhor entre os melhores do mundo, tem sido muitas vezes acusado de ser o pior entre os piores. Também provo que esse duplo padrão não tem sido apenas injusto com o Estado judeu, mas tem prejudicado o código da lei, ferido a credibilidade de organizações internacionais como a ONU e encorajado terroristas palestinos a cometer atos de violência para provo¬car reações exageradas de Israel e assegurar a condenação unilateral de Israel pela comunidade internacional.

Na conclusão do livro, argumento que é impossível entender o con-flito no Oriente Médio sem aceitar a realidade de que, desde o início, a estratégia da liderança árabe tem sido a eliminação da existência de qual¬quer Estado judeu e mesmo de uma substancial população judaica onde hoje se situa Israel. Mesmo o professor Edward Said, o mais destacado defensor acadêmico dos palestinos, reconhece que “o nacionalismo pa¬lestino foi integralmente baseado na expulsão dos israelenses [querendo dizer judeus]”8. Esse é um fato simples, não sujeito a um questionamento razoável. As provas verbais e escritas vindas de líderes árabes e palestinos são esmagadoras. Várias táticas têm sido usadas para esse fim, inclusive a mentirosa reescrita da história da imigração de refugiados judeus para a Palestina e a história demográfica dos árabes na região. Outras táticas têm incluído o ataque a civis judeus vulneráveis a partir da década de 1920,o suporte palestino a Hitler e ao genocídio nazista nos anos 1930 e 1940 e a oposição violenta à solução de dois Estados proposta pela Comissão Peel, em 1937, e depois pela ONU, em 1948. Ainda uma outra tática foi a criação e posterior exacerbação e exploração da crise dos refugiados.

Para alguns, a simples idéia de um Estado palestino ao lado de um Estado judeu tem sido uma tática em si – um primeiro passo – para a eliminação de Israel. Entre 1880 e 1967, na verdade, nenhum porta-voz árabe ou palestino falou a favor de um Estado palestino. Em vez disso, que¬riam que a área chamada pelos romanos de Palestina fosse incorporada à Síria ou à Jordânia. Como Auni Bey Abdul-Hati, um proeminente líder palestino, disse à Comissão Peel em 1937, “não existe tal país... Palestina é um termo que os sionistas inventaram... nosso país foi, durante séculos, parte da Síria”. Portanto, os palestinos rejeitaram a pátria independente proposta pela Comissão Peel porque também traria consigo uma peque¬na pátria judaica. O objetivo sempre permaneceu o mesmo: eliminar o Estado judeu e transferir a maioria dos judeus para fora da área.

Os realistas árabes agora reconhecem que esse objetivo é inatingível – pelo menos em um futuro previsível. A esperança é que o pragmatismo predomine sobre o fundamentalismo e que o povo palestino e seus líderes finalmente cheguem a compreender que a causa a favor de um Estado pales¬tino é fortalecida pela aceitação de um Estado judeu. Quando os palestinos desejarem seu próprio Estado mais do que desejam a destruição do Estado judeu, a maioria dos israelenses receberá pacificamente o Estado palestino como bom vizinho. O acordo que deverá seguir o “mapa da estrada” e os apertos de mão, bem como promessas trocadas em Acaba, em 4 de junho de 2003, representam alguma esperança de que a solução de dois Estados
– há tempos aceita por Israel – se torne finalmente uma realidade.

Acolho a discussão vigorosa sobre a questão a favor de Israel que defendo neste livro. De fato, espero gerar um debate honesto e contextual sobre um assunto que se tem polarizado por argumentos extremistas. Certamente haverá discordâncias sobre as conclusões a que chego e as inferências que faço dos fatos históricos. Mas não pode haver discordân¬cia razoável sobre os fatos básicos: os judeus europeus que se juntaram aos seus primos sefardis onde hoje é Israel, no final do século XIX, tinham um direito absoluto de procurar refúgio na terra de seus ancestrais; esta¬beleceram com o suor do rosto uma pátria judaica em partes da Palestina que justamente compraram de proprietários ausentes; deslocaram bem poucos felás (árabes que trabalhavam a terra) locais; aceitaram propos¬tas baseadas na lei internacional para uma pátria judaica repartida em áreas com maioria judaica; e, pelo menos até recentemente, quase todos os líderes palestinos e árabes categoricamente rejeitaram qualquer solu¬ção que incluísse um Estado judeu ou a autodeterminação judaica. Esses fatos indiscutíveis estabeleceram as bases do conflito que acompanhou o estabelecimento de Israel e que continua até hoje. É importante apre¬sentar esses fatos históricos como parte da atual questão a favor de Israel porque essa distorção ou omissão fundamental na história dolorosa é um elemento da questão muitas vezes levantada contra o Estado judeu.

Decidi escrever este livro depois de acompanhar de perto as nego-ciações de paz de Camp David e Taba, de 2000-2001, e depois de ver como tantas pessoas no mundo se voltaram contra Israel quando as negociações falharam e os palestinos retornaram ao terrorismo. Eu estava lecionando na Universidade de Haifa, em Israel, durante o verão de 2000, e pude ob¬servar em primeira mão o entusiasmo e a expectativa com os quais tantos israelenses aguardavam o resultado do processo de paz iniciado com os acordos de Oslo em 1993 e que parecia estar a caminho da aceitação de uma resolução de dois Estados, com Israel e Palestina fi nalmente convi¬vendo pacificamente depois de tantos anos de violento conflito.

À medida que o processo se encaminhava para a resolução, o pri-meiro-ministro israelense Ehud Barak surpreendeu o mundo ao oferecer aos palestinos praticamente tudo que demandavam, inclusive um Estado com sua capital em Jerusalém, o controle do Monte do Templo, a devolu¬ção de aproximadamente 95% da margem ocidental e toda a faixa de Gaza e um pacote de compensação de 30 bilhões de dólares para os refugiados de 1948. Como poderia Yasser Arafat rejeitar essa oferta histórica? O prín¬cipe Bandar, da Arábia Saudita, que estava servindo de intermediário entre as partes, exortou Arafat a “aceitar este negócio”. Você poderia alguma vez conseguir “um negócio melhor”?, perguntou. Você preferiria negociar com Sharon? Como Arafat vacilou, Bandar advertiu-o: “Espero que o senhor se lembre do que eu lhe disse. Se perdermos esta oportunidade será um crime”.

Observei com horror como Arafat cometeu esse crime, rejeitan¬do a oferta de Barak e abandonando as negociações de paz sem nem mesmo fazer uma contraproposta. Mais tarde o príncipe Bandar iria caracterizar a decisão de Arafat como “um crime contra os palestinos – de fato, contra toda a região”. Considerou Arafat pessoalmente res-ponsável por todas as mortes resultantes dos conflitos entre israelenses e palestinos.10 O presidente Clinton também colocou toda a culpa pelo fim do processo sobre Arafat, como o fizeram quase todos que partici-param das negociações. Mesmo alguns europeus ficaram furiosos com Arafat por abandonar essa oferta generosa. Finalmente, parecia que a opinião pública mundial estava abandonando os palestinos, que ha-viam novamente rejeitado a solução de dois Estados, e voltando-se para os israelenses, que haviam feito uma proposta para a saída do impasse violento.
Mas em poucos meses a opinião pública internacional novamente mudou a favor dos palestinos e contra Israel, desta vez com uma vingan¬ça. Repentinamente Israel era o pária, o vilão, o agressor e o destruidor da paz. Em campi universitários ao redor do mundo era Israel – o país que tinha acabado de oferecer tanto – o único objeto das petições de despojamento e boicote. Como tantas pessoas inteligentes puderam es¬quecer tão depressa quem era culpado pelo fim do processo de paz? Como o mundo podia tão depressa transformar Arafat, o vilão de Camp David, num herói e Israel, que heroicamente tinha oferecido tanto, num vilão? O que aconteceu nesse breve período para produzir uma mudança tão dramática na opinião pública?

Fiquei sabendo que o que aconteceu foi precisamente aquilo que o príncipe Bandar havia predito a Arafat que aconteceria se rejeitasse a proposta de paz de Barak: “Você tem apenas duas alternativas. Ou você aceita esta proposta ou haverá guerra”. Arafat escolheu ir à guerra. De acordo com seu próprio ministro das Comunicações, “a Autoridade Palestina começou a preparar-se para o início da atual revolta naciona lista dos palestinos a partir do retorno das negociações de Camp David, a pedido do presidente Yasser Arafat”.

A desculpa para a escalada das explosões suicidas foi a visita de Ariel Sharon ao Monte do Templo. Mas, como o ministro das Comunicações alardeou, “Arafat... havia previsto o início da intifada como um passo com¬plementar à resistência palestina nas negociações, e não como um protes¬to específico contra a visita de Sharon ao Al-Haram Al-Sharif [o Monte do Templo]”. De fato, a escalada do terrorismo havia começado alguns dias antes da visita de Sharon, como parte “das instruções da Autoridade Palestina” às “forças políticas e facções para conduzir todos os elementos da intifada”. Em outras palavras, em vez de mostrar “firmeza nas negocia¬ções” fazendo contrapropostas à generosa oferta de Barak, Arafat decidiu fazer a sua contraproposta na forma de explosões suicidas e aumento da violência. O príncipe Bandar acusou Arafat de responsável pelo banho de sangue resultante: “Ainda não me recuperei... da magnitude da oportu¬nidade perdida”, declarou ele a um repórter. “Mil e seiscentos palestinos mortos até agora. E setecentos israelenses mortos. No meu julgamento, nenhuma dessas mortes de israelenses e palestinos é justifi cada”.

Então, de que maneira este homem, responsável por essas mortes evitáveis, que escolheu rejeitar a proposta de paz de Barak e instruiu seus subordinados a reiniciar a violenta intifada como um “estágio comple¬mentar” às negociações, conseguiu mudar a opinião pública mundial tão depressa em favor dos palestinos e contra Israel? Essa pergunta desalen¬tadora necessitava de uma resposta, e foi a resposta assustadora que me levou a escrever este livro.

A resposta vem em duas partes. A primeira é bastante óbvia: Arafat jogou a comprovada carta do terrorismo, que funcionou para ele tantas vezes através de sua longa e tortuosa carreira como terrorista diplomata. Ao fazer de alvo civis israelenses – crianças ou ônibus escolares, mulhe¬res grávidas em shopping centers, adolescentes numa discoteca, famílias num jantar de Pessach, estudantes universitários numa cafeteria –, Arafat sabia que podia fazer com que Israel tivesse uma reação exacerbada, pri¬meiro elegendo um primeiro-ministro mais sagaz para substituir o manso Ehud Barak, depois instigando os militares a tomar atitudes que inevi¬tavelmente resultariam na morte de civis palestinos. Funcionou perfei¬tamente, como no passado. De repente, o mundo estava vendo imagens perturbadoras de soldados israelenses atirando em multidões, parando mulheres em pontos de controle e matando civis. Arafat havia “dominado” uma “dura aritmética da dor”, como foi dito por um diplomata: “As perdas palestinas contam a seu favor e as perdas israelenses também. A não-violência não compensa”.

Para muitos, a simples aritmética era suficiente: mais palestinos do que israelenses estavam mortos, e só esse fato já provava que Israel era o vilão. Era ignorado o fato de que, apesar de “apenas” 800 israe¬lenses terem sido mortos (até junho de 2003), os terroristas palestinos haviam tentado matar milhares mais e não haviam conseguido só porque as autoridades israelenses haviam frustrado “aproximadamente 80% das tentativas” de ataques terroristas.14 Também foi ignorado o fato de que entre os aproximadamente dois mil palestinos mortos havia centenas de homens-bomba, fabricantes de bombas, atiradores de bombas, coman¬dantes terroristas e mesmo supostos colaboradores mortos por outros palestinos. Quando se contam apenas os civis inocentes, morreram signi¬ficativamente mais israelenses do que palestinos.15 De fato, Israel matou menos civis palestinos inocentes durante as décadas que tem combatido o terrorismo do que qualquer outra nação na história diante de tal vio-lência, e essas mortes trágicas foram conseqüências não-intencionais do combate ao terrorismo, mais do que o objeto da violência.

Por que então tantas pessoas na comunidade internacional – diplo-matas, homens de mídia, estudantes, políticos, líderes religiosos – caíram na trama transparente e imoral de Arafat? Por que não culpavam Arafat pela escalada da violência, como fizeram o príncipe Bandar e outros? Por que culpavam Israel tão apressadamente? Por que líderes morais e religiosos, que geralmente traçam uma clara distinção entre aqueles que propo¬sitalmente alvejam civis inocentes e aqueles que inadvertidamente matam civis, num esforço de proteger seus próprios civis, eram incapazes de fazer essa importante distinção quando se tratava de Israel? Por que não compreenderam como a liderança palestina estava manipulando e exploran¬do a aritmética da morte? Por que não podiam ver além da contagem de corpos e focalizar o correto cálculo moral: quantas pessoas inocentes foram deliberadamente transformadas em alvos e mortas de cada lado? Procurando responder a essas perguntas perturbadoras, tornou-se claro para Procurando responder a essas perguntas perturbadoras, tornou-se claro para mim que forças obscuras estavam em jogo. A mudança dra¬mática e quase total nas percepções do público num período tão curto de tempo não podia ser explicada com base exclusiva em princípios da lógica, moralidade, justiça – mesmo política. As respostas estavam, pelo menos em parte, no fato de Israel ser o Estado judeu e o “judeu” entre os Estados do mundo. Uma total compreensão das reações bizarras do mun¬do à generosa proposta israelense de paz e a violenta resposta palestina requer o reconhecimento da longa e difícil história mundial no julgamen¬to do povo judeu por padrões diferentes e muito mais exigentes.

O mesmo ocorre com a nação judaica. Pouco após o seu estabeleci-mento como primeiro Estado judaico moderno do mundo, Israel tem sido avaliado segundo um duplo padrão de julgamento e crítica de suas ações ao defender-se contra ameaças à sua própria existência e à sua população civil. Este livro é sobre este duplo padrão – a sua injustiça em relação a Israel e, mais importante, seu pernicioso efeito ao encorajar o terrorismo palestino e outros.

Se o tom deste livro algumas vezes pode parecer contencioso, é por-que as acusações atuais contra Israel freqüentemente são estridentes, in¬transigentes, unilaterais e exageradas: “tipo nazista”, “genocida”, “exem¬plo clássico de violadores de direitos humanos no mundo”, e assim por diante. Essas falsas acusações devem ser respondidas direta e verdadeira¬mente antes de se poder restaurar um tom de compromisso e reconheci¬mento mútuo de erros, e os assuntos serem debatidos nos seus méritos e deméritos freqüentemente complexos. Mas, com demasiada freqüência,o debate atual, especialmente nos campi universitários, é caracterizado por acusações contenciosas e unilaterais feitas por aqueles que desejam demonizar Israel. São freqüentemente respondidas pelo reconhecimento bastante mais franco de erros por defensores de Israel e um tom de des-culpa que muitas vezes serve aos acusadores.

O avanço em direção à paz somente virá quando ambos os lados quiserem reconhecer seus próprios erros e culpas e ir além das acusações do passado para um futuro de compromisso mútuo. Uma atmosfera favo¬rável a tal compromisso não será alcançada se o ar não for purifi cado das acusações falsas, exageradas e unilaterais que agora poluem a discussão em tantas colocações. A finalidade deste livro é ajudar a purificar o ar, fornecendo defesas diretas e verdadeiras a falsas acusações. O tom dessas defesas, algumas vezes, necessariamente espelha o tom das acusações. A principal característica dos meus escritos, discursos e aulas durante anos sempre foi ser direto e não criar intrigas ou preocupar-me em ofen¬der aqueles que, com base em suas ações intolerantes e falsas acusações, merecem ser ofendidos. Procuro seguir esse caminho neste livro.

Uma vez purificado o ar dos poluentes da intolerância e da falsida¬de, um debate mais diferenciado pode ser iniciado sobre políticas especifi ¬camente israelenses – bem como sobre políticas especifi camente palesti¬nas. Este livro não é parte desse debate, apesar de eu ter minhas próprias opiniões sobre muitas dessas questões. Enquanto Israel for particular e falsamente acusado de ser o principal infrator, a primeira obrigação da¬queles comprometidos com a verdade e a justiça é refutar essas acusações – de modo firme e inequívoco.

Freqüentemente, perguntam-me como, na qualidade de civil de¬fensor do livre-arbítrio e liberal, posso apoiar Israel. A implicação por trás da pergunta é que devo estar comprometendo meus princípios ao apoiar um regime tão “repressivo”. A verdade é que apóio Israel precisamente porque sou um civil defensor do livre-arbítrio e liberal. Também critico Israel sempre que suas políticas violam o rigor da lei. Tampouco procuro defender ações chocantes de Israel ou de seus aliados, tais como as ma¬tanças de 1948 por tropas irregulares de civis em Deir Yassin, o massa¬cre falangista de palestinos em 1982 no campo de refugiados de Sabra e Shatila ou os assassinatos em massa de muçulmanos orando por Baruch Goldstein em 1994. Como em qualquer outra democracia, Israel e seus líderes deveriam ser criticados sempre que suas ações deixem de atingir padrões aceitáveis, mas o criticismo deveria ser proporcional, comparativo e contextual, como deveria ser também em relação a outras nações.

Defendo a causa de Israel com base em considerações liberais e de defesa da liberdade civil, apesar de acreditar que os conservadores tam¬bém deveriam apoiar o Estado judeu com base em valores conservadores. Não peço a ninguém que faça concessões a seus princípios. Antes, o meu pedido é que todas as pessoas de boa vontade simplesmente apliquem ao Estado judeu de Israel os mesmos princípios de moralidade e justiça que aplicam a outros Estados e povos. Se aplicassem um só padrão de justiça, a causa a favor de Israel se resolveria por si. Mas, como tantas pessoas insistem em ser mais exigentes em relação a Israel, eu agora defendo a causa segundo a qual, num julgamento por qualquer padrão racional, Israel merece o apoio – embora, certamente, não o apoio sem crítica – de todas as pessoas de boa vontade que atribuem valor à paz, à justiça, à ho-nestidade e à autodeterminação.

Desregulamentar profissões. Todas!

Alexandre Barros

O governo anunciará em breve a proibição de carros pequenos com motores de menos de 2.0 e serão obrigatórios transmissão automática, computadores de bordo e airbags sêxtuplos. Que tal lhe pareceria essa notícia? Fords Ka, Fiats Palio, Fords Fiesta sumiriam do mercado. Todos os carros custariam muito mais caro. Adeus ao sonho do carro 1.0, sem imposto. Seria uma crise nacional.

Mas não causa crise sermos obrigados a pagar a um médico formado numa faculdade, que estudou seis anos, para girar lentes na frente do nosso rosto e nos dizer que temos 2,5 graus de miopia. Ou pagar a um médico a taxa de carta de motorista, para nos mandar ler algumas letras na parede. Nem causa espanto que precisemos pagar a advogados, formados por cinco anos, para nos tirarem da cadeia, coisa que um estudante de Direito do primeiro ano sabe fazer, ou até mesmo quem nunca estudou Direito.


Escrevi, nos anos 70, um artigo chamado "Em defesa dos advogados", publicado no Jornal da Tarde. Dias depois chegou pelo correio (a vida era assim antes daquele menino maluquinho e irresponsável, William Gates III, que abandonou a faculdade) cópia de carta do presidente da OAB de São Paulo protestando e explicando detalhadamente por que a regulamentação exercida pela OAB era fundamental para a defesa dos interesses dos possíveis clientes. Mas a carta não falava nada sobre a obrigação de pagar mais caro por advogados que estudaram cinco anos para prestar serviços corriqueiros sem complexidades ou consequências jurídicas maiores. A resposta: custa muito caro porque, quando pagamos a um advogado, temos de ressarci-lo pelos anos de estudos de Direito e pagar um naco das mensalidades da OAB, que é um sindicato que defende mais os interesses dos advogados que o dos clientes.

Desregulamentar a medicina? Certamente. Faço palestras em que proponho a desregulamentação da medicina. A reação das plateias é de horror. Mas como? É a nossa saúde que está em jogo!

Imediatamente depois da reação, mas ainda durante o pânico, peço que levantem a mão todas as pessoas que utilizaram (ou seus parentes próximos) tratamentos alternativos, como cromoterapia, florais de Bach, aromaterapia, cinesiologia, hidroterapia, iridologia, quiropracticia, etc. Sempre mais de metade das audiências levantou as mãos. Ou seja, as pessoas acreditam em terapias alternativas, usam-nas em substituição à medicina e muitas depositam a continuidade de sua vida nelas (como quem se trata de câncer com extratos de sementes de pêssegos). Mas, quando perguntadas, a maioria diz-se a favor da regulamentação da medicina.

Bem-vindos ao mundo das profissões regulamentadas. O Cialis, o maior concorrente do Viagra para disfunção erétil, custou ao laboratório que o inventou, desenvolveu e comercializa entre US$ 600 milhões e US$ 800 milhões antes da venda do primeiro comprimido. Foram centenas de cientistas, pesquisadores, bioquímicos e milhares de testes exigidos pela FDA (a Anvisa americana). Cada vez que compra uma caixa de Cialis, você paga por todos esses custos. Mas há um, inútil, que você paga e não se dá conta: o salário da farmacêutica responsável da filial da empresa que produz o Cialis no Brasil. Ela entra na produção do Cialis como Pilatos no Credo, sem ter nada que ver com os benefícios do remédio. Ela só está lá porque os farmacêuticos (como todos os outros profissionais regulamentados) conseguiram que o Congresso Nacional votasse uma lei obrigando todos os laboratórios a terem um(a) farmacêutico(a) responsável, e também cada farmácia a ter um(a) farmacêutico(a) para lhe vender a caixinha dos comprimidos mágicos (ou de qualquer outro remédio que você queira comprar).

José Zanine Caldas, famosíssimo arquiteto autodidata, desenhou e construiu algumas das mais caras e belas casas do Joá e da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Quem as comprava pagava por sua competência e seu bom gosto, mas um naco era para o engenheiro formado, cuja única função era assinar a planta. Zanine foi professor na Universidade de Brasília. Hoje não poderia, porque não tinha diploma.

Em resumo, não ganhamos nada com profissões regulamentadas. Só ganham os profissionais que fazem parte delas.

Sou contra as faculdades? Não (vivo, em parte, de ser professor). Mas acho que todos devem poder contratar, para qualquer serviço, o profissional em quem confiam, independentemente de ter ou não um diploma e/ou um registro profissional.

Quando regulamentam profissões, parlamentares caem na esparrela de acreditar que estão defendendo o público. Potoca. Estão apenas defendendo um mercado cativo para grupos politicamente organizados que buzinaram nos seus ouvidos que eles deviam regulamentar alguma profissão.

O problema não é só brasileiro. Todos os prédios que você vê ao vivo em Las Vegas, ou no seriado CSI, foram construídos por pessoas de bom caráter. Pedreiros, no Estado de Nevada, precisam apresentar um atestado de bom caráter, além de saber empilhar tijolos.

Uma lei de 1952 proibia comunistas de serem farmacêuticos no Texas e, no Estado de Washington, veterinários eram proibidos de tratar de vacas enfermas se não assinassem um juramento anticomunista.

Há no Congresso brasileiro 169 projetos de regulamentação de profissões. A cada um que for aprovado você pagará mais caro por aquele serviço, em troca de proteção zero. Regulamentações profissionais só protegem os prestadores de serviços e excluem concorrentes que poderiam prestar os mesmos serviços, só que mais barato.

Acabou de ler o artigo? Não tem nada que fazer? Entre no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=B6vOChhue20). E ouça o hino do farmacêutico.

Parabéns! A conta é toda sua, inclusive a do hino.
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Alexandre Barros, cientista político (Ph.D. pela University of Chicago), é diretor-gerente da Early Warning: Análise de Oportunidade e Risco Político

Use energia, enriqueça e salve o planeta


John Tierney

Quando o primeiro Dia da Terra aconteceu, em 1970, os ambientalistas norte-americanos tinham uma boa razão para se sentirem culpados. A riqueza do país e a tecnologia avançada pareciam tão ruins para o planeta que chegaram a aparecer numa famosa equação desenvolvida pelo ecologista Paul Ehrlich e pelo físico John P. Holdren, hoje conselheiro científico do presidente americano Barack Obama.

A equação deles era: I = PRT. Isso significa que o impacto ambiental é igual à população multiplicada pela riqueza multiplicada pela tecnologia. Proteger o planeta parecia exigir menos pessoas, menos riqueza e tecnologias mais simples - o mesmo tipo de transformação social e revolução energética defendidos em muitos comícios relacionados ao Dia da Terra da última quarta-feira.



Porém, para cientistas pesquisadores do meio ambiente, muita coisa mudou desde a década de 1970. Com os benefícios de seus esclarecimentos e equações melhoradas, vou fazer algumas previsões:

1. Não haverá nenhuma revolução verde no campo energético ou coisas do tipo. Nenhum líder, lei ou tratado irá mudar radicalmente as fontes energéticas para as pessoas e as indústrias nos Estados Unidos ou em outros países. Nenhuma recessão ou depressão irá causar mudanças duradouras na paixão dos consumidores de consumir energia, ganhar dinheiro e adquirir novas tecnologias - e isso, acredite ou não, é uma boa notícia, pois...

2. Quanto mais ricos todos ficam, mais verde será o planeta no longo prazo.

Entendo que esta segunda previsão parece ser difícil de acreditar se considerarmos a quantidade de carbono despejada na atmosfera hoje pelos americanos e as projeções do aumento dessas emissões na Índia e na China, à medida que esses países enriquecem.

Tais projeções facilitam deduzir que a riqueza e a tecnologia causam mais danos ao meio ambiente. No entanto, apesar da poluição aumentar quando um país se industrializa, à medida que as pessoas enriquecem, elas podem bancar água e ar mais limpos. Elas começam a usar fontes de energia que utilizam menos carbono - não só porque elas se preocupam com o aquecimento global. O processo de "descarbonização" começou muito antes do nascimento de Al Gore.

A velha teoria I = PRT ("a riqueza é ruim") pode ter feito algum sentido intuitivo, mas não casa com os dados analisados desde aquele primeiro Dia da Terra. Na década de 1990, pesquisadores perceberam que os gráficos envolvendo o impacto ambiental não produziam uma linha ascendente simples à medida que o país enriquecia. A linha frequentemente sobe, se estabiliza, e depois reverte de forma descendente, formando uma figura como um arco ou um "U" invertido - chamado curva de Kuznets. (EX)

Em dezenas de estudos, pesquisadores identificaram curvas de Kuznets para uma variedade de problemas ambientais. Existem exceções para a tendência, especialmente em países com governos incompetentes e sistemas deficientes de propriedade privada. Porém, em geral, enriquecer significa eventualmente ficar mais verde. À medida que a renda sobe, as pessoas geralmente focam, antes de tudo, em limpar sua água. Depois é a vez dos poluentes do ar, como o dióxido de enxofre.

Com o aumento da riqueza, as pessoas consomem mais energia, entretanto, elas preferem fontes energéticas mais eficientes e limpas - vão de madeira, carvão e petróleo, para gás natural e energia nuclear, progressivamente emitindo menos carbono por unidade de energia. Essa tendência de "descarbonização" global tem ocorrido num ritmo notavelmente estável, desde 1850, segundo Jesse Ausubel, da Rockefeller University, e Paul Waggoner, da Estação Experimental de Agricultura de Connecticut.

"Quando você tem muitos edifícios cheios de computadores operando ao mesmo tempo, a energia entregue tem de ser bastante limpa e compacta", argumentou Ausubel, diretor do Programa para o Ambiente Humano da Rockefeller. "A tendência de longo prazo é em direção ao gás natural e à energia nuclear, ou energia solar, se possível. Se o sistema energético evoluir nessa tendência, a maioria do carbono será eliminada até 2060 ou 2070".

Todavia, o que dizer sobre todo o dióxido de carbono, cuspido hoje pelos americanos, que se desloca para suas McMansões? Bem, é verdade que os moradores de subúrbios americanos emitem mais gases do efeito estufa se comparados a maioria das outras pessoas do mundo (apesar dos nova-iorquinos não serem muito diferentes de outras zonas urbanas ricas).

No entanto, os Estados Unidos, e outros países ocidentais, parecem estar próximos do topo de uma curva de Kuznets em relação às emissões de carbono, prontos para começar a alegre descida curva abaixo. A quantidade de carbono emitida pelo cidadão americano médio tem permanecido estável pelas últimas décadas. Além disso, as emissões de carbono per capita começaram a declinar em alguns países, como a França. Alguns pesquisadores calculam que o ponto de mudança pode chegar quando a renda per capita de um país atinge US$ 30 mil, mas isso pode variar amplamente, dependendo do tipo de combustível disponível.

Nesse meio tempo, mais carbono está sendo eliminado da atmosfera pelas florestas em expansão nos Estados Unidos e outros países ricos. O desmatamento também segue uma curva de Kuznets. Em países pobres, as florestas são desmatadas para fornecer combustível e área de cultivo. Porém, à medida que as pessoas enriquecem e obtêm melhorias tecnológicas em relação à agricultura, os campos tendem a se transformar em áreas florestais.

Obviamente, mesmo se o impacto dos países ricos nas emissões de gases do efeito estufa diminuir, ainda haverá um aumento das emissões de carbono pela China, Índia e outros países, os ascendentes na curva de Kuznets. Apesar desse prospecto ter o lobby de ambientalistas para a restrição dos gases do efeito estufa, alguns economistas temem que um tratado global possa, no fim das contas, prejudicar a atmosfera ao diminuir o ritmo do crescimento econômico e, portanto, prolongar o tempo necessário para os países pobres atingirem o ponto de mudança na curva.

Então, portanto, existem tantas razões para achar que países em diferentes estágios na curva de Kuznets podemssam chegar a concordar na aplicação dessas restrições? O tratado de Kyoto não transformou a indústria nem os consumidores europeus. Apesar de que alguns ambientalistas americanos esperam que a combinação da crise econômica e um novo presidente possa deflagrar uma nova era de austeridade energética e energia verde, o senhor Ausubel afirma que eles esperam o reverso da história.

Nos últimos séculos, disse ele, nada alterou drasticamente as tendências de longo prazo na forma como os americanos produzem ou usam energia - nem a Grande Depressão, nem as guerras mundiais, nem a crise energética dos anos 1970, nem os grandiosos programas para produzir energia alternativa.

"Sistemas energéticos evoluem com uma lógica própria, gradualmente. Eles não se transformam de repente em algo diferente", explicou Ausubel. Esse não é um discurso muito empolgante para ser dito no Dia da Terra. Porém, no longo prazo, a curva de Kuznets é mais confiável que uma revolução.
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http://www.nytimes.com/2009/04/21/science/earth/21tier.html?_r=1&scp=10&sq=John%20Tierney&st=cse

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2009/05/10/ult574u9331.jhtm

O Segredo de Karl (Fonft Economia)


Filosofia da Liberdade

Análise do Oriente Médio


Paraíba - Para conquistar você.


 
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