Legalização do Aborto em Defesa da Saúde da Mulher


É preciso dizer que sempre fui inteiramente a favor do direito ao corpo

Se por acaso o amigo desejar saber quais idéias retrógradas, neobobocas, tresloucadas, usw. circulam pelas inumeráveis legiões de mortos-vivos, mentes esquerdizantes e esquerdizadas deste nosso querido Brasil, é muito fácil: basta ler o jornaleco da ADUFRJ, meu saco favorito de upper-cuts e golpes no fígado, praticante que sou de boxe intelectual com esquerdistas.

Às vésperas do Dia Internacional da Mulher - dia este em que certamente Lulinha Paz e Amor fará mais um de seus inolvidáveis discursos com frases tipo “Minha mãe nasceu analfabeta” e já posso vislumbrar a platéia de lorpas embevecidos – abro o referido jornaleco da ANDES [Associação Nacional dos Desembargadores, mil perdões: Associação Nacional dos Do(c)entes do Ensino Superior] e o que minhas fatigadas retinas fotografam?! Em letras garrafais a seguinte manchete: marcha unificada celebra dia internacional da mulher.

Até aí nada de mais, afinal de contas existem marchas unificadas de estudantes e “intelectuais de esquerda” – expressão correndo o sério risco de virar um indesejável pleonasmo! - contra George W.Bush, contra o aquecimento global, contra a extinção da ararinha azul e do mico leão-dourado, contra o abominável homem das neves, ou seja: o neoliberalismo, contra a internacionalização da Amazônia, contra o trancafiamento de loucos furiosos, contra a vigilância e a punição de contumazes criminosos hediondos [como recomenda o sábio francês Michel Fou-cault], und so weiter.

Contudo, o que chamou minha atenção não foi a referida manchete, porém a foto logo abaixo da mesma: una chiquita muy guapa, muito parecida com a Yvete Sangallo, de semiperfil, com um espelho de Vênus (símbolo da mulher) pintado na face esquerda (por mera coincidência, é claro) e portando um cartaz em que podia ser lido os seguintes chavões: direito ao nosso corpo / legalizar o aborto. Sweet Jesus!

É preciso dizer que sempre fui inteiramente a favor do direito ao corpo. A mulher deve ter direito ao seu corpo e todas as partes dele. Por isso mesmo, deve ter o direito de oferecer e/ou alugar seu corpo [ou partes do mesmo] a quem bem entender e por quantas vezes lhe aprouver [sem que receba a ultrajante pecha de ninfomaníaca ]. Reiteramos: a mulher tem direito ao seu corpo e todas as partes dele. Acontece, porém - só para contrariar as expectativas pós-modernizantes - o embrião não é “parte do corpo” da mulher como o coração e o fígado, por exemplo, mas sim outro corpo ligado ao dela pelo cordão umbilical. Nada podemos fazer para modificar tal coisa: assim é a anatomia de muitos mamíferos, inclusive a dos da espécie Mulier Sapiens e sua herstory (history é a história do ponto de vista do porco macho chauvinista).

Em filosofês, isto quer dizer que a proposição: “A mulher tem direito ao seu corpo e a todas as partes dele” é válida. Mas, como premissa no particular argumento examinado a favor do aborto, não concorre para fazer dele um argumento válido.

Todavia, como é uma proposição válida, pode fazer parte de outros argumentos a favor de outros usos podendo ser feitos do corpo. Por exemplo: argumentos a favor da mulher fazer uma dieta de alface e água mineral gasosa com vistas a ser modelo como a Naomi Campbel, da mulher entrar para um batalhão de infantaria e/ou praticar avidamente musculação, para ficar com o corpo sarado que nem o do homem forte da Califórnia: Arnold Schwarzenegger, para os íntimos: Arnie, usw. Mas leiamos – e sempre com inenarrável prazer! – o artigo do jornaleco da ADUFRJ, ano X, n.o 570, 10/3/2008...

“Na véspera do Dia Internacional da Mulher, cerca de 500 manifestantes realizaram a tradicional passeata em comemoração às lutas das mulheres, da Candelária à Cinelândia, no centro do Rio. Na concentração, um grupo de atores apresentou esquetes sobre o tema de legalização do aborto, principal reivindicação da passeata deste ano.” [obs. Sugiro até um criativo lema para a campanha: engravidou e não gostou? seus problemas acabaram! é só despejar seu indesejável inquilino]. (...)

“A clandestinidade dos abortos praticados no Brasil inviabiliza a produção de dados oficiais. Mas estima-se [sic], com base na entrada de pacientes com complicações típicas da interrupção da gestação no Sistema Único de Saúde (SUS) que aproximadamente um milhão de abortos sejam realizados a cada ano nos estados brasileiros. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada oito minutos uma mulher morre em decorrência de complicações por aborto. Isso significa 75 mil mortes de mulheres em decorrência de abortos mal feitos por ano.” [Não sei se este alarmante número é maior ou menor do que as mulheres (e homens também) que morrem em acidentes de trânsito].

(...) “Os movimentos sociais reivindicam a legalização do aborto e políticas públicas que tenham por objetivo proteger a saúde das mulheres, especialmente a das de baixa renda, e a garantia do direito de decisão da mulher de levar ou não adiante uma gravidez não desejada. o ANDES-SN e a ADUFRJ-SSIND participaram da marcha na tarde do dia 7.” (op.cit.).

No Brasil céu de anil entre outros mil, as coisas assim são: dada a grande incompetência dos governos de fiscalizar e punir os motoristas que dirigem em altíssima velocidade, criam-se cretinos quebra-molas só para apurrinhar os que respeitam as leis do trânsito. Dada a grande incompetência dos governos de reduzir seus custos, criam-se e aumentam-se impostos, que, nos últimos tempos, têm proliferado mais do que ratazanas no porão do Palácio da Alvorada.

E finalmente, dada a grande incapacidade de pensar corretamente da maioria dos brasileiros, costumam-se trocar as causas pelos efeitos. Desse modo, ao invés de colocar o seriíssimo problema da maternidade e paternidade irresponsáveis – hoje em dia, meninas de 13 anos já são avós (é hipérbole, ô Mané) e rapazes da mesma idade, pais e avôs das mesmas crianças (Esta é literal! No Brasil, o incesto campeia solto)– é proposta uma pseudo-solução: como os abortos clandestinos trazem problemas para a saúde da mulher, evitemos isso legalizando clínicas de aborto. Genial! Raciocínio digno de um Pascal, perdão: Pascácio! Afinal de contas, o nariz não foi inventado por causa dos óculos?!

Ora, isto é o mesmo que propor: como a cocaína preparada em laboratórios clandestinos muitas vezes é misturada com talco, pó de arroz, soda cáustica e outras substâncias nocivas para saúde, vamos proteger a saúde dos consumidores. Logo: legalizemos os laboratórios de refinamento de coca. Tudo saúde da povo!

É verdade que homens inteligentes e preparados como Milton Friedman [Prêmio Nobel de Economia em 1976] eram a favor da liberação da cocaína e das drogas em geral, mas não apoiados neste pífio “argumento pró-saúde” dos consumidores de drogas ou, por analogia, das pacientes de abortos clandestinos.

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