A Escrava Wal-Mart


Rodrigo Constantino

“São os consumidores e não os empresários que determinam o que deve ser produzido.” (Mises)

No livre mercado, são os consumidores quem mandam, determinando o que deve ser produzido pelas empresas que competem em busca de lucro. A maior garantia de bom atendimento, variedade de produtos, preços baixos e qualidade está justamente na livre concorrência, ausente de barreiras artificialmente criadas pelo governo. Tudo isso é bastante evidente e lógico, mas, infelizmente, as décadas de lavagem cerebral marxista impedem uma compreensão maior destes fatos. Suas vítimas passaram a encarar os empresários como inimigos exploradores, o lucro como pecado, e o governo como uma espécie de “deus protetor”, que irá cuidar dos consumidores impedindo a “exploração capitalista”. As empresas grandes passam a ser as maiores vilãs nessa mentalidade distorcida.

Mesmo os americanos não estão livres dessa inversão, e a Wal-Mart, pelo seu gigantismo, costuma ser o alvo preferido dessa turma. Por isso é tão pertinente citar alguns trechos da entrevista concedida ao The Wall Street Journal pelo equatoriano Eduardo Castro-Wright, que assumiu a presidência executiva da divisão americana da Wal-Mart Stores há três anos. Uma parte da entrevista foi traduzida e publicada no jornal Valor, mostrando como as mudanças feitas pelo presidente têm colaborado para um crescimento maior da empresa. Logo no começo, Castro-Wright diz: “Fornecer uma boa experiência de compra começa com oferecer opções de produtos que os consumidores merecem, a manutenção de um espaço asseado e ter associados (funcionários) simpáticos, para que os clientes queiram voltar”. Ou seja, logo de cara vemos que o principal foco da empresa está voltado para o cliente, com a meta de propiciar uma compra agradável e com os produtos realmente demandados.

A Wal-Mart já era conhecida pela sua política de preços baixos, e o presidente reforça este objetivo: “Primeiro, tivemos de reforçar nossa liderança em preços baixos. Precisávamos perguntar a nós mesmos qual era a nossa filosofia e ela era mais do que apenas garantir um preço baixo, mas sim ajudar as pessoas a economizar e assim melhorar suas vidas”. Novamente, fica claro que a empresa é uma parceira de seus clientes, com interesses alinhados. Se os consumidores podem economizar, ficam satisfeitos, e retornam para comprar novamente na loja. Cliente feliz é cliente bom. A Wal-Mart entende isso: “O plano então contou com tudo, de melhorias na sinalização visual das lojas, para que as pessoas pudessem encontrar as coisas mais facilmente, a investimento em tecnologia para agilizar os caixas”. A Wal-Mart é conhecida pelos seus pesados investimentos em tecnologia. Se as filas nos caixas são mais rápidas, a loja vende mais, e os clientes ficam mais satisfeitos. Novamente, os interesses estão alinhados.

Apesar de seu tamanho, com faturamento de US$ 240 bilhões apenas nos Estados Unidos, a Wal-Mart não passa de uma escrava dos consumidores, tendo que buscar sempre atender da melhor forma possível a demanda. Castro-Wright explica: “Aprendemos que fornecer escolhas ao cliente não tem a ver com mais produtos, mas produtos selecionados cuidadosamente e nos quais os clientes estão interessados”. Isso faz todo o sentido, naturalmente. Afinal, hoje a empresa é um gigante, justamente por focar tanto nos clientes. Mas nada impede que amanhã outra empresa consiga superar a Wal-Mart no atendimento aos consumidores. O capitalismo, como Schumpeter já tinha notado, é um processo dinâmico, com uma “destruição criativa” que garante o progresso rumo aos produtos mais desejados pelos consumidores e aos métodos mais eficientes para produção destes.

O tamanho não é garantia de vida eterna para empresa alguma. Existem várias provas disso, como o caso da IBM, por exemplo, que perdeu bastante terreno para empresas novas como a Microsoft e Intel, e foi forçada a se reinventar para sobreviver. Na verdade, poucas empresas existem há mais de um século, justamente por causa desse processo dinâmico do capitalismo. O sucesso depende da escolha dos consumidores. São esses que possuem o poder de decidir quem ganha e quem perde, num plebiscito ininterrupto chamado “mercado”. As empresas precisam lucrar para sobreviver, e o lucro depende dos consumidores. No livre mercado, as empresas não passam de “escravas” dos consumidores. Estes não precisam do governo para protegê-los. Precisam apenas da livre concorrência, possível justamente quando o governo não se mete para garantir privilégios e criar barreiras artificiais. A imagem perante os clientes é um dos mais valiosos ativos de uma empresa, que depende da confiança para prosperar. Alguém realmente acredita que a Wal-Mart não vende alimentos podres por causa da vigilância do governo, e não por causa dos próprios interesses e foco no lucro?

O que o governo deve fazer para proteger o consumidor é justamente deixá-lo em paz para escolher livremente de quem comprar aquilo que é desejado. Se o “Zé da Quitanda” não tem condições de competir com a Wal-Mart para oferecer produtos melhores e preços menores, o governo não deve protegê-lo da “competição predatória”, pois isso seria feito apenas à custa dos consumidores. No capitalismo liberal, vence quem consegue melhor atender a demanda, e essa é a maior proteção que os consumidores podem ter. O caso da Wal-Mart ilustra isso de forma perfeita: a empresa possui um valor de mercado acima de US$ 200 bilhões, mas é apenas uma escrava de seus consumidores.

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